Soneto de Natal
Um homem, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço no Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"
O espírito natalino que muda com o passar do tempo e com a revoluções da sociedade já foi tema de conto de Charles Dickens e não escapou da inspiração do mestre Machado de Assis. Neste soneto extraído do livro "Poesias Completas - Ocidentais", 1901, pág. s/nº, o Velho Bruxo apresenta um homem perplexo com a falta de inspiração ao tentar compôr alguns versos natalinos...surge a questão: "Mudaria o Natal ou mudei eu?"...afinal de contas, nós transformamos o Natal em uma data comercial e materialista e perdemos o sentido cristão antigo.
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