terça-feira, 11 de junho de 2013

Mar Morto - Jorge Amado

 "É doce morrer no mar / nas ondas verdes do mar..."



Os versos iniciais da música de Dorival Caymmi, estão presente no romance "Mar Morto" do baiano Jorge Amado, e exemplifica o sentimento dos mestres de saveiro do porto, sempre a espera da morte, amando suas mulheres com furor antes de partir, sabendo que podem não voltar. 
As mulheres do mar não temem por seus homens, pois sabem que um dia eles não voltaram, irão para as terras do mar sem fim, encontrar-se com Iemanjá. Lívia, porém, não é uma mulher do mar, por isso ele é seu inimigo e, a cada viagem, seu coração fica triste a espera de Guma, o mestre do saveiro "Valente".
Diferente de Maria Clara, Esmeranda e Judith, mulheres do porto, Lívia não perdeu os homens de sua família para o mar, por isso, quer que seu homem sobreviva à vida de marinheiro, podendo gozar para sempre as delícias dos braços um do outro.
O tio de Guma, o velho mestre Francisco, tem no braço o nome do irmão e dos quatro saveiros que ficaram no fundo do mar. Ele se prepara para um dia colocar também o nome do sobrinho Guma, que não pode fugir à sua sina. Homem cercado de lendas, Francisco carrega consigo a dádiva de ser o únco marinheiro a ver Iemanjá estando vivo, o que o deixa confuso quanto ao seu fim.
O mar é ao mesmo tempo amigo e inimigo, pois leva a vida de filhos, maridos, pais, irmãos, mas também é responsável pelo sustento das famílias e por toda a cultura do porto, as músicas, as danças, as lendas...extremamente poético, o romance representa um espaço da Bahia que tem suas próprias tradições, a religiosidade, os costumes, as regras, cercando os homens de mitos que envolvem antigos moradores do lugar em histórias de amor, vingança, sofrimento...no fim do romance o mar está morto para Lívia, mas el sabe que não poderá abandoná-lo, pois o mar é Guma, representa tudo que ele amou e viveu durante sua vida. 
Assim como outras obras de Jorge Amado, "Mar Morto" foi adaptado para a TV.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

As Vinhas da Ira - John Steinbeck

A família Joad, natural do estado norte-americano de Oklahoma, é expulsa de suas terras, vítima da competição e das párias sociais. Começa então o êxodo em busca da "terra prometida", a Califórnia, famosa pelas plantações abundantes de frutas que ofereceriam trabalho e vida nova aos lavradores. 
O romance "As Vinhas da Ira", do escritor norte-americano John Steinbeck,  se desenvolve no período da Grande Depressão nos anos de 1930, no qual o flagelo de um país debilitado causava dramas naturais, como a miséria e o desemprego. 
Tom Joad, o filho mais velho da família, volta para casa depois de passar quatro anos na cadeia, condenado por assassinato. Ele logo percebe que a vida não é mais a mesma, pois as terras da família estão abandonadas e, ao encontrar o pregador Casy, decide ir junto da família até as ricas terras da Califórnia, nas quais, segundo as palavras do seu velho avô, "se poderia pegar uvas e comê-las, vendo-as escorrer pelas roupas". 
Cada personagem da família tem um significado muito importante na história. O Avô e a avó representam a velha geração que não aceita separar-se da terra onde nasceu e, por isso, não conseguem sobreviver às mudanças e morrem durante a viagem. Tio John, atormentado pelo remorso de ter causado a morte da esposa grávida, culpa a si pelo sofrimento que a família passa, esquivando  governo e a situação de desigualdade social de suas responsabilidades. A mãe é a força da família e, mesmo diante das dificuldades, consegue solucionar os problemas, mesmo sendo realista e sabendo das dificuldades nas quais a família está inserida. O pai é o homem que sonha com uma vida melhor para seus filhos e, por isso, enfrenta todas as opiniões contrárias aos seus planos de viagem. 
O pregador Casy é o homem que pensa e reflete as situações e, por isso, acaba morto ao liderar uma greve que pedia salários mais dignos aos bóias-frias. Tom Joad é aquele que leva as ideias de Casy adiante e, por isso, diz à mãe que onde houver um injustiçado, ele lá estará. Palavras que anunciam sua vida de luta daquele momento em diante.
A jovem Rosa de Sharon (ou Rosasharn), carrega em seu ventre o fruto de um casamento que acabou durante a viagem e, assim como as esperanças de melhor qualidade de vida da família, o bebê não consegue sobreviver, transformando-se num sonho desfeito, como o sonho da mãe de ter uma casinha branca na qual os filhos pudessem brincar no quintal. 
A obra-prima de Steinbeck rendeu-lhe o Prêmio Pulitzer e depois, o escritor ainda foi agraciado com o Nobel de Literatura. Adaptado para as telas do cinema no ano de 1940, com Henry Ford no papel de Tom Joad, o filme foi um grande sucesso. O cantor Bruce  Springsteen fez uma música chamada "The Ghost Of Tom Joad".

sábado, 5 de janeiro de 2013

Ben Hur - Uma Historia Dos Tempos De Cristo


O romance épico "Ben Hur - uma história dos tempos de Cristo", foi escrito pelo general norte-americano Lew Wallace, que também foi um renomado pintor e tinha grande conhecimento da Bíblia, o que ajudou na composição do seu livro mais famoso. 
Todas as vezes em que foi levada às telas de cinema, a obra-prima de Lew Wallace obteve grande sucesso. 
Contemporâneo de Jesus Cristo, Judá Ben Hur é uma herói que, injustiçado e traído pelo melhor amigo, o romano Messala, consegue sair de uma situação difícil e volta para procurar vingança e sua família perdida. O enredo pode parecer simples, mas a ambientação e o tempo no qual ele se passa envolvem o leitor, que passa a viver cada angústia da vida do hebreu Ben Hur de forma plena, pois é um personagem íntegro em questões morais, além de ser devotado à família e à religião judaica. 
Num mundo dominado por Roma, Judá Ben Hur é acusado de tentar contra a vida do cônsul romano e, por isso, condenado a servir nas galés como escravo para o resto de sua vida, além de não saber o que foi feito com sua mãe e sua irmã. A casa de Hur ficou desmoralizada e todos os bens da família foram confiscados, sendo um dos beneficiários o jovem ambicioso Messala, antigo amigo de Ben Hur que, depois de passar um tempo estudando em Roma, retorna à Israel com ideias que valorizam extremamente os romanos enquanto diminuem os judeus. 
Ajudado por pessoas que conquista com sua personalidade cativante, entre elas o próprio Jesus Cristo, Judá Ben Hur conseque a confiança e a adoção de um rico cidadão romano, que faz com que ele seja livre das galés e vá até Roma aprender as técnicas de luta deles. 
A corrida na qual Ben Hur vence o rival Messala é épica e, extremamente cinematrográfica, além de muito emocionante.
Ao conhecer o Mago baltazar, um dos três que acompanhou a estrela-guia e adorou o Cristo Menino, Judá Ben Hur começa a se interessar pelo tão desejado Messias e, então, promete colocar tudo que tem em favor dele quando o encontrá-lo. Desta forma, Ben Hur não entendia algumas características do reino que o tão falado Rei dos Judeus iria implantar, mas, depois de segui-lo por três anos e presenciar milagres importantes, entre eles, a cura da mãe e da irmã que eram leprosas, Ben Hur finalmente entende a visão espiritual que o Cristo tinha do reino de Deus. 
Ben Hur está presente em momentos importantes da vida de Jesus, como o seu batismo no rio Jordão e a sua crucificação, assim como Cristo está presente no momento mais triste da vida de Ben Hur, quando ele era levado como escravo. Jesus tem piedade do jovem hebreu e oferece água, salvando assim a vida do jovem escravo.
O núcleo central deste épico é a fé e a busca espiritual, que se concretizam na figura de Ben Hur, do mago Baltazar, da irmã e da mãe do protagonista, além da jovem Ester. Um romance para ser lido e vivido. 


domingo, 23 de dezembro de 2012

Grandes Esperanças - Charles Dickens

A obra de Charles Dickens justifica sua tamanha popularidade em meados do século XIX. Popularidade esta que se estende até os dias de hoje, pois ele está entre os escritores ingleses mais apreciados do mundo. Seus livros são adaptados para a TV, Cinema, teatro e séries, provocando emoções mesmo depois de tantos anos de lançamento. Um dos seus romances mais populares é, sem dúvida, "Grandes Esperanças". Publicado entre 1860 e 1861, em forma de folhetim, como era comum. Logo no início temos o sofrimento do órfão Pip, que sofre com a convivência difícil ao lado da irmã mais velha, uma tremenda megera que lhe impõe duros castigos por ter a obrigação de criá-lo. Pip está no cemitério da do povoado lendo as inscrições nos túmulos de seus pais, quando encontra o homem que mudaria sua vida: um forçado fugindo das galés, homem de aparência cruel que aterroriza o pobre menino com ameaças, e, através do medo, consegue a ajuda de Pip. Mas na vida do órfão não há apenas pessoas ruins, ele tem a companhia e o apoio do ferreiro John Gargery, o marido de sua irmã, homem bom e honesto que pretende tornar Pip herdeiro de seu ofício. Como todo romance de Charles Dickens, não poderiam faltar os personagens estranhos, como a misteriosa Miss Havisham, a mulher mais rica do povoado que, depois de uma decepção amorosa, permanece vestida com o vestido de noiva e mantendo no quarto todas as lembranças do casamento que não aconteceu. Temos também Estela, a filha adotiva de Miss Havisham, grande paixão do pobre Pip. As esperanças de menino não são grandiosas, até o dia em que um advogado vai até sua casa e o informa de que é herdeiro de grande fortuna, sendo que poderá ir até Londres e se transformar num verdadeiro cavalheiro. A identidade do bondoso que o ajudou não é informada. O romance é dividido em três partes e trata da bondade, desejo, culpa. Quando Pip vai viver em Londres ele faz de tudo para se tornar digno para casar-se com estelo, e este desejo louco faz com que ele despreze sua vida passada e mesmo as pessoas que sempre foram bondosas para com ele, como seu cunhado John Gargery, por exemplo. Ao mesmo tempo em que abandona os parentes e amigos do povoado, o jovem se sente culpado por tomar tais atitudes, mas não deixa de fazer da sua vida uma mar de consumo e de vida pouco produtiva, o que o leva a dívidas e problemas finaceiros. As grandes esperanças de Pip não foram realizadas da forma como ele pretendia, mas ele acaba descobrindo através da dor e do sofrimento que seus sonhos de entrar para a alta sociedade não o tornaram mais feliz e só o afastaram da vida na qual ele realmente estava inserido. 
A empatia do leitor com o protagonista talvez não seja tão natural, pois ele é um personagem sincero, que busca através da culpa o perdão dos leitores pelas suas faltas. 
Assim como "David Copperfield", "Grandes Esperanças" tem traços autobiográficos, pois Dickens sofreu em sua infãncia com a pobreza, tendo que trabalhar desde cedo para ajudar nas despezas da sua família, sendo que seu pai chegou até a ser preso por dívidas. 
O órfão Pip e tantos outros deste romance entram para a galeria dos melhores criados pelo mestre Charles Dickens. 




quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Os Miseráveis - Victor Hugo

Uma obra que sempre me causou curiosidade, assim eu definia o romance "Os Miseráveis" antes de lê-lo. Depois que consegui fazer a leitura do livro, classifico como um livro que nunca vou esquecer. 
O ex-forçado Jean Valjean converteu-se num dos personagens mais emblemáticos da literatura mundial, modificando sua vida através de uma boa ação, ele se torna quase um "santo" e retribui às pessoas a nova chance que recebeu. 
 Publicada em 3 de abril de 1862, pelo escritor Francês Victor Hugo, a obra continua viva no imaginário dos leitores trazendo, além de Jean Valjean, personagens intensos como a sofrida Fantine, sua filha Cosette, o jovem apaixonado e republicano Marius...além do órfão Gravouche, do casal Thenardier, que tinha como princípio não ter princípios, e de um dos melhores policias da Literatura mundial: o obstinado Javert.
O enredo de "Os miseráveis" é da mesma forma intenso, com uma história de sofrimento, esperança, miséria e compaixão. 
A luta de Jean Valjean e da menina Cosette para recomeçarem suas vidas é a luta do dia-a-dia de cada cidadão, e, mesmo que a história aconteça em meados do século XIX na França, expõe uma Europa diferente da que constumamos ver, uma Europa onde há pessoas que viviam sem dignidade alguma, onde crianças são abandonadas nas ruas e têm que lutar desde a mais tenra infância pelo pão de cada dia, onde mulheres têm de se prostituir e são presas e julgadas por isso. 
Hugo narrou seu romance magistral numa linguagem que representou para a literatura "o mesmo que a Revolução Francesa na História", segundo o crítico Sérgio Paulo Rouanet.
Nenhum outro romance se aproxima do estilo único de "Os Miseráveis" que, por tratar de temática sempre atual, recebeu inúmeras adaptações para a TV, o cinema, o teatro. 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O poder persuasivo e sedutor de Rebecca e Raquel

Teriam algumas mulheres a capacidade de, mesmo sem intenção, atrair a tragédia para si e 
para os que a rodeiam? Em dois romances muito populares da escritora inglesa Daphne Du Maurier, “Rebecca” e “Minha prima Raquel”, temos direta ou indiretamente este conceito. A mulher vista como perdição para os homens que dela se aproximam, que destrói tudo o que toca; um papel cruel relegado a ela por diferentes sociedades em diversos períodos da história.  Em tempos distantes muitas foram levadas a fogueira ou condenadas a sofrer humilhações públicas por praticarem atos que contrariavam o pensamento geral da sociedade. 
Ser mulher é carregar desde cedo muitas expectativas. Rebecca e Raquel tinham seu papel definido na sociedade: esposas dedicadas que carregavam em si encantos especiais, capazes de conquistar pessoas através da presença cativante.  Mas ao demonstrarem a face oculta que a sociedade condena, as duas receberam o mesmo julgamento, restando-lhes a morte como ponto final para uma vida misteriosa e cheia de peripécias.
A Imagem da mulher como ser dissimulado, capaz de usar seus atributos para conseguir o que quer, levou muitas à fogueira no período de caça às bruxas, além de formar um conceito desde cedo enraizado no qual o ser humano do sexo feminino tem em si uma perversão natural e o poder de persuasão que pode levar homens a compartilharem esta perdição.
Daphne Du Maurier apresenta, através destes dois romances, duas personagens emblemáticas e deixa claro que, assim como aconteceu com Capitu, Emma Bovary e Anna Karênina, a sociedade não perdoaria o comportamento de Rebecca e Raquel, pois elas também pisaram em terreno pedregoso e tiveram que pagar um preço por isso. 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Machado de Assis - o Bruxo do Cosme Velho faz aniversário


No ano de 1839 nasceu precisamente neste dia, 21 de junho, um dos maiores escritores da língua portuguesa. Este escritor recebeu o nome de Joaquim Maria Machado de Assis, nome este que ficou marcado para sempre na história da Literatura. 
Todos os brasileiros deveriam lembrar-se deste dia com muito carinho, pois este homem representa o Brasil no que tem de melhor: sua cultura. 
No fim do século XIX, Machado de Assis fundou, junto com outros grandes nomes da Literatura Brasileira, a Academia Brasileira de Letras, da qual foi presidente desde 1896 até o ano de sua morte, 1908. 
Machado de Assis é uma das razões pelas quais eu me orgulho deste belo país chamado BRASIL.

domingo, 17 de junho de 2012

Sonata a Kreutzer - Leon Tolstói

Os sentimentos exaltados que esta novela evoca encontram paralelo na famosa peça de Beethoven conhecida como Sonata a Kreutzer, composta em 1803, que não apenas inspirou o título do livro como constitui um de seus motivos centrais.
Leon Tolstói era um homem muito sensível à música. Tão sensível que acreditava que ela poderia ter grande influência sobre o homem.  Foi justamente ao ouvir uma apresentação dessa sonata em sua própria casa, na primavera de 1888, que ele retomou uma ideia que já o ocupara antes: retratar, de forma aguda e radical, o desequilíbrio nas relações entre homens e mulheres, a questão da infidelidade no casamento e a hipocrisia social que cerca tudo o que diz respeito ao sexo.
O enredo dialoga com as escalas vertiginosas do piano e do violino na sonata de Beethoven, e no qual o andamento inexorável da tragédia se soma à lucidez cristalina da linguagem. A novela foi considerada escândalosa na época do seu lançamento, no ano de 1891, e até mesmo antes disso, quando seus manuscritos foram lidos dentro e fora da Rússia. Posteriormente, o livro chegou a ser proibido nos Estados Unidos. 
Podzdnischeff conta sua história de boêmia, ciúmes e tragédias para o narrador que vê-se envolvido naquela nova situação durante uma viagem de trem, na qual o desconhecido escuta uma conversa sobre questões envolvidas ao casamento. Começa então a narração do edílio sentimental de um homem que se reconhece seus erros em alguns pontos: a boêmia exagerada na juventude, o casamento que trouxe-lhe tantos problemas, a sensualidade mantida mesmo enquanto sua esposa cumpria com os "deveres" de mãe.
O fim trágico da relação com a esposa é digno de outra obra de Tolstói, o grande romance "Ana Karênina", no qual a protagonista também perde a vida, depois de ficar perdida numa rede de traições, ciúmes e remorsos. Mas, ao contrário de Ana, a esposa de Podzdnischeff, personagem feminina de Sonata a Kreutzer, não escolhe a morte. Neste ponto é o homem que toma a decisão, sem nem ao mesmo ter uma confissão da parte da mulher. Podzdnischeff  age como juiz e condena a mãe de seus filhos à pena de morte, sob a acusação de traição. 
Com certeza esta obra de Leon Tolstói deve ser leitura obrigatória para todos aqueles que apreciam enredos e personagens fortes, complexos e bem construídos, aliados a um contexto histórico e espaço peculiares, estilo inconfundível do grande escritor russo. 





domingo, 11 de março de 2012

Dor de amor...

Em qualquer tempo ou escola literária se sofre por amor. São súplicas para que a pessoa amada volte, lembranças dos bons momentos, e tantas outras coisas que, colocadas num poema, conto, romance, tornam poética a triste situação.
Para começar, este soneto de Olavo Bilac:

Maldição

Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
_ Hoje, velha e cansada da amargura,
Minha alma se abrirá como um vulcão.

E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...

Maldita sejas pelo ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!

Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!..

Depois de vinte anos de silêncio, a explosão de sentimentos acontece de uma forma atormentada, eu imagino este homem dizendo tudo isso à mulher que o fez sofrer. Com certeza a situação não ficaria nada tranquila.
Outro que também gritou sua dor foi o grande poeta Castro Alves:

4a SOMBRA - FABÍOLA

Como teu riso dói... como na treva
Os lêmures respondem no infinito:
Tens o aspecto do pássaro maldito,
Que em sânie de cadáveres se ceva!

Filha da noite! A ventania leva
Um soluço de amor pungente, aflito...
Fabíola!... É teu nome!... Escuta é um grito,
Que lacerante para os céus s'eleva!...

E tu folgas, Bacante dos amores,
E a orgia que a mantilha te arregaça,
Enche a noite de horror, de mais horrores...

É sangue, que referve-te na taça!
É sangue, que borrifa-te estas flores!
E este sangue é meu sangue... é meu... Desgraça!


Ver a mulher que o fez sofrer divertir-se sem nenhuj sentimento de culpa enquanto ele ainda sofria as dores do amor perdido, foi um golpe duro demais para ele. O poeta utiliza esta mesma temática no poema "Adeus", que mereceu até mesmo uma resposta da referida amada Eugênia Câmara.
E quando a falta se faz por meio dos detalhes da vida em comum? É o caso deste texto de Dalton Trevisan:

Apelo

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.

Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.

Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.

Sem amor a casa fica vazia e, pequenos detalhes, antes ignorados, agora fazem uma tremenda falta e parece que não pode existir vida longe disso. Definitivamente, o que seria da cultura sem o amor?


domingo, 26 de fevereiro de 2012

Danielle Steel


Em toda a minha vida eu li apenas dois romances da famosa escritora norte-americana Danielle Steel. Quando eu era adolescente li "O segredo de uma promessa" e fiquei encantada com o enredo, embora entendesse que era bem fantasioso, parecia mesmo uma novela de TV ou um filme romântico.
Já na idade adulta, quanto eu tinha uns 23 anos, ganhei um outro romance dela de presente, na verdade veio para mim numa caixa, entre outros tantos livros usados. O título é "Um longo caminho para casa". Confesso que depois de ter me formado em Letras e escutar muitos comentários ruins acerca de autores como ela, senti uma ponta de preconceito e comecei a evitar a leitura. Não aceitava mais a ideia de uma autora se tornar personalidade conhecida e até mais importante que os próprios romances. Só agora, aos 26 anos, resolvi dar uma chance ao romance de Danielle Steel.
Confesso que fiz isso para aliviar um pouco minha mente, já que estava lendo "O Poderoso chefão" de Mario Puzo (que muito críticos julgam de forma pejorativa, assim como julgam Danielle Steel). Li o romance "Um longo caminho para casa" em apenas 6 dias, record para mim, já que costumo demorar na leitura.
Logo no início fiquei chocada, uma menina de seis anos se escondendo da mãe com medo de ser encontrada. Pensei que ela iria levar uma bronca, mas, ao invés disso, recebeu ofensas, humilhações, e o pior, chutes e pontapés que a deixaram caída no chão, sem forças para se levantar. E tudo isso sob olhar do pai, que no início acreditei ser mais uma vítima da horrível Eloise, que espancava a filha e a tratava como se estivesse num quartel, porém, com o caminhar da trama notei que John, pai da garotinha espancada, era um covarde e, com sua covardia, se tornava desprezível aos meus olhos.
A pobre garotinha, que por sinal se chama Gabriella, sofre as maiores atrocidades desde a mais tenra idade (sua mãe utiliza castigos físicos desde que a filha tinha pouco mais de um ano), o que faz com que, aos seis anos, já tenha experiência de vida suficiente para julgar o ser humano e tomar conclusões sobre sua própria personalidade. É como se ela tivesse vivido mais do que uma pessoa de quarenta anos que já tivesse participado de umas duas ou três guerras.
E o sofrimento da pobre menina não acaba...o pai dá a cartada final, abandonando a filha aos nove anos, aos cuidados da mãe violenta. Costelas quebradas, tímpanos feridos depois, A megera Eloise resolve abandonar a menina num convento, já que iria se mudar de Nova York para San Francisco para se casar com outro homem. Gabriella tinha apenas dez anos, mas já havia vivido e sofrido muito. Fiquem calmos leitores, o convento descrito no romance não é tenebroso como em muitos outros, pelo contrário, lá a menina encontra a paz, embora não consigo se livrar de seus fantasmas do passado.
Sob os cuidados de Irmã Gregória, Gabriella cresce tendo paz pela primeira vez em sua curta vida. Para fugir das atrocidades de sua vida com os pais, a menina havia desenvolvido o gosto pela escrita, o que a ajuda muito, pois ela entra na faculdade e se forma com louvor, embora tenha medo de se infiltrar no "mundo real", que já tanto a machucou.
Eu esperava a redenção, acho que estes romances da Danielle Steel têm o poder que causar esta angústia nos leitores. Achei que ela viria quando a doce postulante Gabriella (ela resolvera abraçar a vocação religiosa quando terminara a faculdade) conhece o Padre Joe Connors. Atlético, jovem, bonito, interessante, bem-humorado, o reverendo era o homem perfeito para trazer amor ao coração inocente de Gabriella. Eu, que sou católica, confesso que torci para que os dois ficassem juntos. Mas o amor por Joe só trouxe mais sofrimentos à jovem postulante, já que ele, assim como seu pai, não tivera coragem suficiente para assumir seu amor por ela, e acabou se suicidando quando ela ainda sonhava com o futuro matrimônio. Para piorar, Gabriella perde o bebê que esperava e quase morre, além de ter que sair do convento e dizer "Adeus" para as freiras que tanto a amaram e a ajudaram.
Quando nada poderia ficar pior, eu já havia desistido da tão sonhada redenção, do momento em que Gabriella finalmente seria feliz, afinal de contas, é isso que se espera de um enredo como este. Ela se hospeda numa pensão pobre, de propriedade de uma imigrante polonesa. Lá, conhece um professor aposentado idoso que logo se identifica com a jovem e passa a protegê-la, tornando-se seu confidente e ajudando-a na carreira como escritora; mas logo a pobre menina terá ainda outra decepção, o namorado, Steve Poter, é um explorador e tenta viver às suas custas, logo ela descobre que ele é um homem perigoso, procurado pela polícia. Para piorar, Gabriella perde o amigo professor (mas recebe uma herança dele). Quando Steve descobre que não pode mais enganar a jovem e não conseguirá tirar mais dinheiro dela, resolve matá-la, dando-lhe uma surra que a fez lembrar a infância dolorosa ao lado dos pais. Mas onde está "o caminho para casa"? Ao passar pelo setor de traumatologia de um grande hospital e ficar em coma por muito tempo, Gabriella conhece um médico que carrega algumas características do antigo amor, o finado padre Joe...ele também é bonito, bem-humorado e, melhor do que Joe, já que é um homem decidido.
Mas o romance entre os dois está apenas começando quando o livro termina e, o tal "caminho para casa" era, na verdade, alguma resposta que Gabriella teria de ter sobre o amor que seus pais nunca sentiram por ela.
Não me sinto arrependida pela leitura, mas acredito que falta alguma coisa. Não sei, acho que me senti assistindo a uma novela de TV mesmo, com suas reviravoltas, peripécias amorosas e "casos de família" singulares. Ao contrário do que procurava, esta leitura não foi leve, pelo contrário, em certos pontos foi bem pesada, já que conheci uma sucessão de tragédias na vida de Gabriella, que termina o romance com menos idade do que a que estou agora.
Sem contar nos inúmeros vilões que deixam Teresa Cristina no chinelo, afinal de contas, para a sociedade não há nada pior do que maltratos à crianças, especialmente filhos. E o que dizer de Steve Poter? Um charlatão da pior espécie, gigolô explorador de mulheres. Para ser uma novela de TV faltaria apenas um galã, pois o atormentado Padre Joe não seria classificado como tal devido ao desfecho que teve, e o médico bonitão aparece já no final do romance, falta-lhe tempo para desenvolver melhor sua relação com Gabriella e conquistar o público feminino leitor.
sabe o que eu imagino? Como seria uma novela de TV baseada nos romances de Danielle Steel. Se algum autor juntasse "O segredo de uma promessa", "Um longo caminho para casa", "Um mundo que mudou", "Porto seguro" (não li os dois últimos mas conheci o enredo através de filmes). Acho que seria uma boa trama, quem seria a protagonista? Qual enredo conquistaria mais o público? São perguntas que me faço neste momento...