sexta-feira, 26 de junho de 2009

O Retrato de Dorian Gray – Oscar Wilde


O romance “O Retrato de Dorian Gray” do irlandês Oscar Wilde, apresenta um sonho atemporal para a humanidade: a juventude e a beleza eternas. O adolescente Dorian Gray era dono de uma grande fortuna e também de uma grande beleza que chamou a atenção do pintor Basil, que lhe propõe pintar um retrato seu. Quando Basil está para terminar a obra, Dorian conhece Lord Henry, que logo se encanta com o jovem e lhe deixa claro a sua tristeza ao perceber que com o passar dos anos, Dorian perderá seu encanto enquanto o quadro manterá sua beleza. Dorian fica perturbado com esta ideia e faz um pedido íntimo: ele daria sua alma para que o quadro envelhecesse em seu lugar. Depois de causar, mesmo indiretamente, o suicídio da namorada, Dorian chega à sala de sua casa, onde estava o quadro, e nota um sorriso irônico no retrato. Ele percebe que seu pedido fora atendido. Dorian reluta, mas aceita a ideia de que a partir daquele momento, o quadro seria sua alma e toda a maldade, toda a feiura, toda marca de envelhecimento, se manifestariam não na sua face, mas sim, na face do seu retrato. Ele esconde o quadro no sótão para que ninguém veja as mudanças que ocorreriam nele. A feiura transposta para o retrato não era apensa física, mas também espiritual, a feiura de uma alma deturpada que a partir daquele momento nasceu em Dorian. Ao ser presenteado com um livro por seu amigo Lord Henry, Dorian torna-se um consumidor desenfreado e se afasta cada vez mais de Basil. Vinte anos passaram e Dorian Gray continuava com o rosto belo e jovem de um adolescente, enquanto torna-se cada vez mais egoísta e cruel, causando muito mal aos que se aproximam dele. O retrato, agora irreconhecível, continua guardado, até que um dia, Basil descobre a verdade e tenta esfaqueá-lo para livrar o antigo amigo da perda da alma. Quando Basil tenta fazer isso, Dorian se desespera e o impede de fazer o que pretende, matando-o. Quando Dorian resolve recuperar sua alma ele destrói o quadro e ao encontra-lo, só reconhecem seu corpo pelos anis em seus dedos, já que toda a feiura do retrato de transfere para ele e sua alma fica totalmente limpa. “O Retrato de Dorian Gray” é uma obra intensa sobre a importância que a sociedade dá à beleza e ao materialismo em detrimento ao subjetivismo e aso sentimentos verdadeiros do ser humano. Oscar Wilde construiu uma obra atemporal que trata de um tema universal; a extrema vaidade. O romance rompeu barreiras irlandesas e até os dias atuais, causa um sentimento intenso nos leitores que conhecem o “jovem” Dorian Gray.

O Quinze - Rachel de Queiroz


A escritora Rachel de Queiroz escreveu em 1930 seu mais popular romance “O Quinze”. A obra regionalista tem este título porque retrata a seca de 1915 que a própria autora enfrentou ainda na infância no seu estado natal o Ceará.O enredo desenvolve-se na região de Logradouro, próxima a Quixadá. É interessante notar que a divisão de classes sociais não é destacada pela autora, já que a situação é a mesma tanto para a família do lavrador Chico Bento, quanto para o proprietário de terras, Vicente. A família de Chico Bento parte com a esperança de encontrar uma vida melhor na capital, mas encontram no caminho a fome numa cena comovente na qual são obrigados a comer tripas de um cabrito, além da degeneração da família, já que dos seus cinco filhos em se perde no caminho, outro morre, a cunhada de Chico também se perde...Outra personagem interessante do romance é a professora Conceição, uma jovem que não se adapta aos costumes da região e, apesar de apaixonada por Vicente, não o aceita depois de decepcionar-se com atitudes dele em relação às mulheres. Ao chegarem à cidade grande, depois de passar por inúmeras provações no caminho, a família de Chico Bento se estabelece num lar para refugiados da seca, onde Conceição trabalha como voluntária. Um ponto destacável do romance é a falta de vilanias e de opositores. Como em “Vidas Secas” de Graciliano Ramos, o maior antagonista da estória é o clima, a natureza seca e triste do sertão. É a seca que obriga as famílias de pobres lavradores a migrarem para a cidade, sem esperanças nenhuma no campo, mas, com mínimas alternativas urbanas. A seca faz com que Vicente se emocione ao notar os primeiros pingos d’água caindo depois de muito tempo.Os romances da década de trinta primaram pelo regionalismo, Rachel de Queiroz não foge a regra com “O Quinze”, uma narrativa mais leve que “Vidas Secas”, mas que, da mesma forma traça um retrato do Ceará e seu povo castigado pelos fatores naturais, abalados por uma seca que os impede de trabalhar e ver a terra produzir. Coube a Rachel de Queiroz ser a primeira mulher a adentrar no fechado grupo da Academia Brasileira de Letras, abrindo caminho para um futuro promissor no qual surgiram entre outras, Clarice Lispector e sua obra única e Cecília Meireles com sua poesia intimista.



Crítica ao romance:


"Todos os grandes livros têm um mistério inviolável. Ninguém saberá jamais, mesmo quem o escreveu, porque coube a uma professorinha de vinte anos dar ao romance brasileiro uma das suas obras definitivas."

Adolfo Casais Monteiro

sábado, 20 de junho de 2009

Um Conto de Natal - Charles Dickens





Quem não conhece o personagem Tio Patinhas do desenho animado Duck Tales, Os Caçadores de Aventuras?O que muita gente não sabe é que o rabugento imigrante escocês mais pão duro do mundo dos desenhos animados foi inspirado num personagem do "Conto de Natal" do escritor inglês Charles Dickens. O velho solteirão podre de rico conhecido como senhor Scrooge era tão sovina que só pensava no dinheiro. Em plena noite de Natal ele obriga seus funcionários a trabalharem na sua firma "Marley e Scroog" e fica irritado quando seu sobrinho lhe oferece um "Feliz Natal".Visitado pelo espírito do sócio falecido Marley, o sovina Scroog tem uma surpresa quando o antigo sócio aparece coberto por correntes, correntes que ele mesmo construiu em vida, correntes que o dinheiro lhe trouxe, já que ele viveu apenas para este fim quando andou pela Terra. O fantasma de Marley diz ao sócio que para se livrar de ter o mesmo destino que o seu, ele precisa receber a visita de três espíritos naquela noite cristã.E ele recebe primeiramente a visita do espírito do Natal passado que o leva a uma viagem aos tempos passados da sua infância, quando o pai o expulsou de casa e sua irmãzinha foi buscá-lo com todo o carinho do mundo.Agora ele desprezava o sobrinho, filho da irmã que tanto o amava, Scroog fica muito triste com as lembranças que o primeiro espírito lhe apresenta.O segundo espírito é o do Natal presente. Ele leva o velho sovina até a casa do seu empregado, que sofre por ser explorado e por ganhar pouco, o que lhe impede de cuidar da saúde do filhinho doente que logo morrerá sem condições de tratamento.O terceiro espírito é o dos Natais futuros e ao contrário dos outros dois, ele não fala uma única palavra, apenas leva Scroog a conhecer seu futuro se continuar naquele estilo de vida capitalista e egoísta.Scroog vê a si próprio morto, sem ninguém para chorar sua perda, sendo roubado por ladrões que não se importam com a memória do velho morto.Ele se desespera e quando acorda depois de receber o último espírito, decide mudar de vida, se envolver mais com a família do sobrinho, ser solidário com seus empregados,ajudar as crianças pobres no Natal dando-lhes presentes...e assim, o Scroog sovina se tornou o "Scroog das crianças", um homem bom e solidário, que vivia seu Natal como nenhum outro naquela cidade e quando ele morreu já velhinho, muitos choraram a perda daquele homem que recebeu algumas visitas ilustres numa noite de Natal, visitas que mudaram o rumo de sua vida para sempre.O conto natalino de Charles Dickens é uma fábula ao amor fraterno e ao espírito natalino tão esquecido em tempos capitalistas que transformam o Natal numa data comercial. Uma obra simples, mas que encanta os leitores há muitas gerações pela forma sensível como ocorre a transformação do velho Scroog de um rabugento materialista numa figura carismática e solidária.É talvez a obra mais ingênua de Dickens, uma ingenuidade que emprega um encanto especial ao conto natalino.



Daphne Du Maurier


Filha e neta de renomados artistas – a ator inglês Gerald Du Maurier e o escritor George Du Maurier, emigrado da França – Daphne Du Maurier nasceu em Londres, Inglaterra, a 13 de maio de 1907. Desde a adolescência escrevia contos e poemas, publicando com sucesso o primeiro romance, O Espírito Amante ( The Loving Spirit), aos 24 anos, em 1931. No ano seguinte, casou-se com um oficial do exército inglês, que quisera conhecê-la por causa do seu livro. Foi então morar em Hampshire, onde viveu até os últimos dias da sua vida. Trabalhando principalmente sobre temas sentimentais, emplogando e criando suspense com personagens desenvolvidos num clima de mistério e romântica irrealidade, escreveu vários best-sellers internacionais. O mais conhecido, Rebecca (Rebecca, 1939), já comoveu vários gerações, vendendo acima de um milhão de exemplares, tendo sido adaptado para o cinema em 1940 por Alfred Hitchcock em 1940, tornando-se um grande clássico da sétima arte. Foi adaptado também para a TV.Também são destacáveis Uma taberna na Jamaica (Jamaica Inn, 1936), O General do Rei (The King’s General, 1946), Os Parasitas (The Parasites, 1949) e Minha Prima Raquel (My Cousin Raquel, 1951). Ela fez ainda duas incursões pela literatura de ficção científica, com Os Pássaros (The Birds) também adaptado por Hitchcock, além de O espião do passado (The house of strand) que utiliza como tema a viagem no tempo. Daphne faleceu em 19 de abril de 1989 e, conforme seu desejo foi cremada e suas cinzas foram jogadas nas colinas próximas a sua casa.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A poesia morreu? Não fui eu que matei!

A poesia nos dias atuais não é o gênero mais popular entre alunos e leitores comuns...não entendo o porquê de pessoas que adoram ler romances não gostarem de ler poesia! uns dizem que é porque a leitura é difícil...mas eu não acredito que seja por isso não. Os romances também são difíceis e no entanto, este gênero é um dos mais populares, embora o conto seja mais adequado ao mundo moderno no qual as coisas têm que ser rápidas, até mesmo a Literatura.
A sociedade de hoje não consegue ver a poesia que existe nos momentos mais simples do dia a dia. Claro que há romances carregados de poesia...um exemplo é o "Ciclo de Clarissa" do escritor Érico Verissimo. Nos romances que o compõe, o autor consegue colocar poesia nos momentos mais simples e cotidianos da vida...mas a poesia é o estilo que representa esta sensibilidade de ver o mundo que as pessoas não cultivam mais e isso pode ser culpa do capitalismo que faz as pessoas trabalharem sem direito à cultura, pode ser também uma mudança que o ser humano sofreu de um século para outro...várias podem ser as razões.
Eu gosto mutio da poesia modernista, dos poemas assimétricos...mas a minha grande paixão são os poemas mais tradicionais se assim se pode dizer. Eu não consigo deixar de me emocionar ao ler Pablo Neruda dizendo:
Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.
Ou ao ler Castro Alves lamentando seu amor que se foi e relembrando os bons momentos que viveram juntos:
Horas de saudade

TUDO VEM me lembrar que tu fugiste,
Tudo que me rodeia de ti fala.
Inda a almofada, em que pousaste a fronte
O teu perfume predileto exala

No piano saudoso, à tua espera,
Dormem sono de morte as harmonias.
E a valsa entreaberta mostra a frase
A doce frase qu'inda há pouco lias.

As horas passam longas, sonolentas...
Desce a tarde no carro vaporoso...
D'Ave-Maria o sino, que soluça,
É por ti que soluça mais queixoso.

E não Vens te sentar perto, bem perto
Nem derramas ao vento da tardinha,
A caçoula de notas rutilantes
Que tua alma entornava sobre a minha.

E, quando uma tristeza irresistível
Mais fundo cava-me um abismo n'alma,
Como a harpa de Davi teu riso santo
Meu acerbo sofrer já não acalma.

É que tudo me lembra que fugiste.
Tudo que me rodeia de ti fala...
Como o cristal da essência do oriente
Mesmo vazio a sândalo trescala.

No ramo curvo o ninho abandonado
Relembra o pipilar do passarinho.
Foi-se a festa de amores e de afagos...
Eras — ave do céu... minh'alma — o ninho!

Por onde trilhas — um perfume expande-se.
Há ritmo e cadência no teu passo!
És como a estrela, que transpondo as sombras,
Deixa um rastro de luz no azul do espaço ...

E teu rastro de amor guarda minh'alma,
Estrela que fugiste aos meus anelos!
Que levaste-me a vida entrelaçada
Na sombra sideral de teus cabelos! ...
Não sei, acho que eu sou uma pessoa que nasceu na época errada rsrsrsrsrsrsrs.
Mas o mais importante pra mim é ter chance de propagar estas preciosidades e não deixá-las morrer...

terça-feira, 16 de junho de 2009

O Barba Azul - Charles Perrault


A expressão “Barba Azul” é utilizada para designar um homem que mata a esposa. Não entendia o porquê disso até ler o conto Homônimo de Charles Perrault. Ele mesmo, Charles Perrault, aquele que escreveu uma das versões da “Chapeuzinho Vermelho”. “O Barba Azul” assim como “Chapeuzinho Vermelho” está longe de ser um conto para criancinhas dormirem, já que a trajetória de Chapeuzinho foi escrita para aconselhar as mocinhas a não darem atenção aos “lobos” que as rodeiam e não se distanciar do “bom caminho”. “O Barba Azul” é um conto macabro, intenso, mas com final feliz, pelo menos para a protagonista.Um homem com uma fortuna muito grande, cercado de vários mistérios, entre eles, a sua barba estranhamente azul e a morte de suas esposas dias após o matrimônio. Ele resolve contrair as núpcias mais uma vez e escolhe uma jovem vizinha que no início repele a idéia de casar-se com aquele homem de barba azul e comportamento suspeito em relação às esposas mortas. Mas, quando conhece a riqueza do pretendente a barba vai se tornando aos poucos menos azul e a imagem dele se tornando menos repulsiva à moça que logo se rende e casa-se com o vizinho misterioso.Poucos dias após o casamento, o Barba Azul resolve fazer uma viagem e deixa para a esposa algumas chaves, dando-lhe permissão de abrir todas as portas da casa, menos a porta que pode ser aberta por uma das chaves concedidas.Como a curiosidade é um defeito comum ao ser humano, a jovem esposa não resiste e resolve abrir a porta proibida. Ao abri-la seu susto foi imenso, já que se encontravam organizadas numa prateleira as cabeças decepadas das antigas esposas de seu marido, além de muito sangue que escorria pelo chão. Ela derruba a chave que sendo mágica, não permite que as marcas de sangue nela sejam apagadas. Com a chegada do marido, a esposa encontra-se desesperada com a promessa dele de que o destino dela seria o mesmo das outras esposas. Ela consegue avisar seus irmãos e quando o marido está prestes a cortar sua cabeça ela implora alguns minutos para rezar antes de morrer. Os irmãos conseguem chegar e livra-la da morte, matando o Barba Azul e colocando fim nos seus crimes. O desfecho feliz vem com a herança deixada pelo Barba Azul para a última esposa, bem como o casamento desta com um homem bom com quem poderia desfrutar todo o dinheiro do falecido assassino. Erroneamente classificado como conto de fadas, “O Barba Azul” é se assim se pode dizer, um pioneiro dos contos de horror macabros que se desenvolveriam no século XIX com Edgar Allan Poe e outros escritores do gênero. Não podemos afirmar que esta era a intenção de Perrault, mas é certo afirmar que este conto possui uma pitada de crítica à sociedade (O casamento da jovem com um homem rico mas de caráter duvidoso), além de elementos fantásticos como a chave mágica, cúmplice do assassinato das esposas.
Charles perrault foi um grande colaborador no desenvolvimento do conto e sua obra vai muito além dos populares "Contos de fadas".

sábado, 13 de junho de 2009

Livros que fazem perder noites de sono

Muitos me perguntam, ao saber que eu gosto de ler, qual é a graça de ficar algumas horas do dia lendo um livro. Antigamente eu não sabia responder e dizia “Leio por ler, é algo que eu gosto”...realmente eu nunca li por imposição, nunca fui obrigada a ler, sempre li porque gostava. Hoje em dia, se alguém me fizer esta pergunta novamente eu saberei responder de uma forma mais específica, eu direi que é porque a leitura me faz perder noites de sono. Não; podem ficar tranqüilos que eu não passo noites inteiras lendo ao invés de dormir...eu passo noites sem dormir depois que termino as minhas leituras. Quando li “Dom Casmurro” pela primeira vez, fiquei duas semanas pensando no livro quando me deitava em minha cama à noite. Pensava em Capitu, nunca havia conhecido uma mulher daquele jeito, tão misteriosa...pensava em Bentinho, será que ele fez uma besteira e pôs tudo a perder por causa de ciúmes ou ele foi mesmo traído? Era como se eu fizesse uma viagem imaginária por estas estórias, e assim passavam uma, duas, três da madrugada e eu sem dormir. Quando estava no segundo ano da faculdade, eu resolvi ler um livro que procurava há tempos: “O Morro dos ventos uivantes”. Eu sempre quis ler este livro, mas não sabia nada sobre ele, só achava o nome poético. Quando eu o li, passei novamente horas sem dormir pensando naqueles personagens, naquele lugar, naquelas situações, naquele sofrimento todo...E outros livros vieram e virão...alguns me encantam, outros nem tanto, mas o que importa de verdade, é a paixão que estas “viagens noturnas” fizeram nascer em mim. Eu, uma moça do interior do Brasil, viajei pelas charnecas frias da Inglaterra, pelo Rio de Janeiro, pela Itália, pela França, até mesmo pelo deserto! Era como se a Literatura fosse uma fuga dos meus problemas e do ostracismo no qual eu vivia. Como se eu tivesse alguma coisa no que pensar além dos assuntos escolares, dos problemas familiares, das intrigas com os amigos, como se a minha vida ganhasse cor e eu me realizasse através das grandes personagens dos romances que eu lia, através dos belos lugares que eu conhecia pelos livros...As horas de sono que eu perdi não prejudicaram minha saúde, pelo contrário, eu cresci como ser humano através das minhas leituras, eu ganhei experiência de vida, conheci tipos humanos diversos... se hoje eu sou uma pessoa consciente do mundo a minha volta, eu devo tudo as horas de sono que eu perdi pensando nos livros que eu li.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Literatura é coisa nossa

Uma das minhas maiores curiosidades, é entender porque a Literatura Inglesa não é tão popular no nosso meio, e quando digo nosso meio, me refiro ao que está ao meu alcance...poucas pessoas que conheço apreciam ler um romance de Charles Dickens ou de Jane Austen. Muitos sequer ouviram falar destes autores. Quando se trata de Literatura norte-americana então, a situação piora e muito...acho intrigante que sejamos tão influenciados pela cultura pop dos EUA e não nos interessemos pelos grandes escritores daquele país. Qual seria a razão? Há um tempo a minha opinião era a de que a cultura norte-americana era fraca, mas agora compreendo claramente que não existe uma cultura menor que a outra.Cada país tem uma cultura diferente e ela tem que ser entendida individualmente e não comparada com outras. Claro que na Inglaterra há costumes e tradições diferentes dos EUA e de outros países do continente americano como o Brasil, por exemplo...ora, a Inglaterra é uma nação antiga em termos de civilização, nós e nossos vizinhos da América do Norte pertencemos ao novo mundo, e para a história mundial 500 anos tornam o nosso continente uma criança. Mas acredito que nada disso seja motivo para a pouca popularidade da literatura inglesa, principalmente a escrita nos EUA. Deve ser uma questão de contato com a Literatura. A preguiça de ler não permite que alguns jovens conheçam a literatura do nosso país, imaginem a de outros...quantas vezes nós nos deparamos com frases como “Eu detesto ler, não entendo nada que está escrito nestes livros antigos”... ou então “Jamais vou perder meu tempo lendo um livro”. O grande desafio é mostrar, principalmente aos jovens, que não precisam se preocupar, basta deixar com que a obra o sensibilize que o entendimento virá naturalmente. Para compreendermos, temos que amar a Literatura, viajar através dela...muitos acreditam que a Literatura é inacessível e para ler, precisa-se estudar Letras e andar com um dicionário debaixo do braço. Porque não popularizar a Literatura? Meu sonho é que chegue o dia em que no nosso país os idosos que jogam baralho na praça discutam literatura enquanto conversam, que os adolescentes conversem sobre seus livros preferidos durante uma festa, que as senhoras durante suas caminhadas substituam as conversas sobre o cotidiano por conversas literárias. Meu sonho é que a Literatura se torne “coisa da gente” e não apenas objeto de estudo de meia dúzia de intelectuais. Somente desta forma, veremos igualdade nesta nação, pois, parafraseando Monteiro Lobato, “um país se faz de homens e livros”. A leitura leva o ser humano a entender melhor o mundo, suas fraquezas, seus dilemas, suas injustiças, seus direitos.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

ANNABEL LEE - Edgar Allan Poe

Estes vídeos trazem a versão original do poema de Edgar Allan Poe.



Cruz e Sousa


João da Cruz e Sousa nasceu em 21 de novembro de 1861, em Desterro, hoje Florianópolis. Filho de escravos, negro sem mescla, o próprio poeta, ao nascer, sustentava a condição de escravo. Sua família foi alforriada por seu dono, o Marechal Guilherme Xavier de Sousa, no início da Guerra do Paraguai. O antigo senhor e sua esposa cuidaram do menino João da Cruz, dando-lhe o sobrenome Sousa. Sempre com a proteção do marechal Guilherme, Cruz e Sousa estudou no Liceu Provincial catarinense. Em 1882, juntamente com Virgílio Várzea, dirige a Tribuna Popular, jornal abolicionista. Em 1883 vê-se impelido a abandonar sua terra natal, por problemas de preconceito racial. Nessa época, trabalha como ponto e secretário da companhia teatral de Julieta dos Santos, percorrendo quase todas as províncias brasileiras. Voltando para Santa Catarina, é nomeado promotor público em Laguna, mas não chega a assumir o cargo, novamente por causa do preconceito. Transfere-se para o Rio de Janeiro; trabalha na imprensa, mas seu melhor salário é o de um miserável empregado na Estrada de Ferro Central do Brasil.Em 1893 casa-se com Gavita Rosa Gonçalves, também negra; o casal teve quatro filhos, todos falecidos prematuramente (o de vida mais longa morreu aos 17 anos). Gavita enlouquece e permanece internada durante longo tempo. Morrem a mãe e o pai do poeta. Em 1897, tuberculoso e pobre, procura refúgio na cidade mineira de Sítio, vindo a falecer no dia 19 de março de 1898. Seu corpo foi transladado de Minas Gerais para o Rio de Janeiro fora do esquife, num vagão de animais.



Opinião de outros autores sobre Cruz e Sousa:


“Fosse um negro norte-americano, Cruz e Sousa tinha inventado o blues. Brasileiro, só lhe restou o verso, o soneto e a literatura para construir a expressão da sua pena”.

Paulo Leminski



“Que admirável evocador de sons e imagens, que formidável e ao mesmo tempo delicado criador de sonho.”

Sousa Bandeira

terça-feira, 9 de junho de 2009

O Prisioneiro - Érico Veríssimo

Érico Veríssimo é sem dúvidas, um dos escritores mais populares do Sul do Brasil. Grande representante gaúcho da Literatura moderna, o autor se destaca em romances como a trilogia “O Tempo e o Vento” na qual constrói através de um misto de personagens fictícios e personagens reais, um panorama histórico da formação do Rio Grande do Sul. Érico Veríssimo também se destaca pelos romances do chamado “Ciclo de Clarissa” nos quais os personagens passeiam de um romance para o outro através de uma realidade cercada pela poesia presente no dia a dia. Poesia esta que poucos autores conseguem realizar com maestria como Érico Veríssimo.Entretanto, outros romances e novelas do escritor ficam diversas vezes esquecidos, por não pertencerem a nenhum dos dois grupos já citados. A surpreendente novela “Noite”, o realismo fantástico de “Incidente em Antares” são alguns exemplos. Podemos citar também “O Prisioneiro”, romance de cunho político escrito pelo escritor gaúcho na época da Guerra do Vietnã. Sentado no quintal da casa de sua filha nos EUA, Érico observava o noticiário sobre a Guerra do Vietnã enquanto via seu neto brincar, ele o imaginou com um capacete militar em meio a guerra e teve a idéia de escrever “O Prisioneiro”.Sem nomear pessoas ou países, para evitar acidentes diplomáticos, Érico Veríssimo desenvolve uma trama interessante sobre um jovem tenente mestiço norte-americano cheio de traumas devido ao preconceito que vive em seu país. Ele tem como única amiga uma professora francesa e um caso coma prostituta vietnamita chamada apenas de K. O romance descreve o suicídio de uma budista de apenas 17 anos, que ateara fogo às vestes empapadas de gasolina, a explosão do prédio onde os militares se encontravam com as prostitutas locais, as crises de consciência do tenente mestiço, os dramas e paixões do coronel puritano, do major epicurista, do capitão médico, judeu sobrevivente do holocausto...Como é de costume em seus romances, Érico não tem pena dos personagens masculinos, deixando os pensamentos mais coerentes para a professora francesa. Uma suspeita de bomba leva a prisão de um jovem vietnamita e o coronel precisa fazer com que ele conte onde está a ameaça. Para este trabalho, ele destina o tenente mestiço, num misto de preconceito e covardia. O tenente é levado pelas conseqüências a torturar o jovem vietnamita para descobrir o destino da bomba, e depois disso, é duramente criticado pelo capitão médico, que coloca na atitude do tenente a mesma crueldade que ele sofreu durante o holocausto. O desfecho do romance é trágico. Sem ter pra onde fugir e atormentado pelos sentimentos de culpa aos quais é acometido, o tenente morre. As palavras da professora francesa depois da morte do amigo resumem a critica social que o autor procurou fazer com este romance. Segundo ela, agora ele estava em paz, já que durante a vida ele sempre viveu em guerra, guerra dentro do seu próprio país, que não o aceitava por ter sangue negro, guerra contra a própria consciência, já que ele se culpava pela vergonha que tinha do pai negro e pela tortura que cometeu contra o vietnamita, e por fim, uma Guerra contra um pequeno país desconhecido, guerra sem porquês e sem explicação, na qual muitos norte-americanos perderam suas vidas sem saber a razão pela qual lutavam e vietnamitas perderam tudo, sem saber o motivo pelo qual perdiam.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O ROMANCISTA LIMA BARRETO E O ESTUDO DA FALTA DE CONFLITO E O ISOLAMENTO NAS OBRAS

É possível estudarmos sua obra de ficção sem compreender as reflexões e memórias, que nos deixou sob a forma de crônicas e artigos de jornal, que abrigam flagrantes numerosos de mossa vida política e mundana no primeiro quartel do século do nosso movimento literário.
Mas, é no romance que revela esse espírito inquieto e curioso, pois em todos os seus livros, será o amor um tema secundário ou até desfigurado, a aventura terá um aspecto sombrio.
Recordações do Escrivão Isaías Caminha é seu único livro em que o narrador é a personagem principal. Isso sé seria retomado em O Cemitério dos Mortos Vivos, que iniciado durante seu último internamento no hospício, não chega a concluir.
Em Isaías Caminha as figuras aparecem e desaparecem, morre a mãe de Isaías, enlouquece lobo por causa da gramática, fatos políticos abalam a cidade, mas o narrador em nada interfere.
Lima Barreto inaugura a ficção brasileira, sem dar-se conta disso, surgindo como um anunciador do nosso tempo e das nossas criações.
“A violência com que Lima Barreto ataca a estrutura capitalista faz-nos perguntar se acaso não sentia, obscuramente, o que o autor ao lembrar que o principio da atividade, individualista, umas das características gerais da economia capitalista, contribuiu para cortar todos os vínculos existentes entre os indivíduos e deste modo separou e isolou cada homem de todos os demais.”(Fromm, Erich. The Fear of Freedom. P 49 e 133)
Logo temos Triste Fim de Policarpo Quaresma, no qual o Major Quaresma é a personagem principal. Podemos notar certas afinidades entre Policarpo e os personagens de Isaías Caminha, o amor a Língua Portuguesa que leva Lobo ao isolamento e a loucura, e que também isola o Major Quaresma. Policarpo e Isaías vivem imersos em um sonho, fechados em si. O isolamento comum em Quaresma, pois se fecha em seus livros, lendo os cronistas, os viajantes como John de Léry, dedica-se ao tupi-guarani e toma lições de violão.
Há também variações importantes de dois temas fundamentais nos livros: o do ilhamento (familiar) e o da inoperância dos atos de cada personagem sobre o próximo e o meio, todos em Isaías Caminha se cruzam e se vão, sem que o destino seja afetado e sem modificar ninguém. Em Policarpo Quaresma, os núcleos individuais e solitários, são substituídos por núcleos domésticos, exemplos: Policarpo e Adelaide, General Albernaz e família, e o único sem familiares é Ricardo Coração dos Outros, artista do violão. A união desses núcleos se dá através das visitas e Isaías caminha e em Policarpo, as visitas e as reuniões sociais não constituem o ponto de partida para qualquer evento.
Ao contrário dos outros romances Clara dos Anjos não é dominado pelo tema do insulamento. Nele, as personagens agem e fazem agir as demais e modificam-se entre si.
Os personagens ilhados característicos de Lima Barreto, exprimem o conflito de criador e o mundo solitário.
Em Isaías Caminha, Policarpo Quaresma e Gonzaga de Sá, há uma ausência de conflito dramático, e mesmo em Numa e Ninfa que é uma fábula mais de enredo, dificilmente falamos em conflito. Isaías Caminha e Policarpo Quaresma, romances sem conflitos no sentido tradicional, isto é, onde uma vontade não é contrariada por outra, onde um interesse não vai ameaçar um interesse oposto, configuram-se formações fraudadas de conflitos e crises, nada de semelhante encontraremos em Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá.
Em Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá, há uma página em que surge um personagem do isolamento, é quando Machado e Alcmena encontram-se conversando em um velório. Não existe na Literatura Brasileira cena como esta, delicada e tocante. Alcmena que vive no subúrbio e sonha com o estatus de burguês. As visões que o narrador opõe às da insatisfeita suburbana, assustam-na, a esperança de melhores dias alimenta sua vida vazia. Machado enquanto conversa olha seus cabelos castanhos, suas mãos bonitas, mas um pouco estragadas pelo trabalho domestico. A jovem faz reflexões ingênuas, e Machado só atento a figura da jovem. Mas a cena no romance não evolui, assim como nos outros do autor.
Não podemos afirmar que são pobres de conflitos os romances, mas sim, que manifestam o conflito pela escolha do tema, em sua produção jornalística, mostra uma incompatibilidade entre o autor e a estrutura social que o cerca, o assunto é sempre o meio – a política – as desigualdades sociais. Nas relações entre o personagem e o meio é que localizamos em Lima Barreto o tradicional conflito entre personagem e personagem.
Para descobrir em Policarpo Quaresma as maneiras do conflito de seu protagonista com o meio, temos que nos deter entre a imagem que o Brasil cultiva e a imagem do Brasil real, uma língua exclusivamente nossa, a atividade agrícola, a reflexão político-administrativa, sua maneira de falar claro e francamente, em nome da justiça o levam a prisão e depois a morte.


Pré-Modernismo

Enquanto a Europa se preparava para a I Guerra Mundial, o Brasil começava a viver, a partir de 1894, um novo período de sua história republicana: com a posse do paulista Prudente de Morais, primeiro presidente civil, iniciou-se a “República café-com-leite” dos grandes proprietários rurais, que substituía a “República da espada” dos governos de Marechais Deodoro e Floriano. Essa época foi marcada pelo auge da economia cafeeira no Sudeste, pela entrada de grandes levas de imigrantes no país, notadamente de italianos, pelo esplendor da Amazônia, com o ciclo da borracha, e pelo surto de urbanização de São Paulo.
Mas toda essa prosperidade veio acentuar cada vez mais os fortes contrastes da realidade brasileira. Por isso, neste período também ocorreram várias agitações sociais, muitas delas no abandonado Nordeste, como a revolta de Canudos, tema de Os Sertões de Euclides da Cunha.
Em 1904 o Rio de Janeiro a uma rápida mais intensa rebelião popular, a pretexto de lutar contra a vacinação obrigatória idealizada por Oswaldo Cruz; na realidade, tratava-se de uma revolta contra o auto custo de vida, o desemprego e os rumos da República. Em 1910, houve uma importante rebelião, dessa vez, dos marinheiros, liderados por João Cândido, o “Almirante Negro”, contra o castigo corporal – a Revolta da Chibata. Ao mesmo tempo, em São Paulo, as classes trabalhadoras, sob orientação anarquista, iniciavam os movimento grevistas por melhores condições de salário e trabalho.
Essas agitações eram sintomas da crise na “República do café-com-leite”, que se tornaria mais evidente na década de 1920, servindo de cenário ideal para os questionamentos da Semana de Arte Moderna.
Ao longo da Primeira República (1889 – 19030), os movimentos sociais no campo dividiram em três grandes grupos: os caracterizados pela combinação de conteúdo religioso com carência social; os marcados pela combinação de conteúdo religioso com reivindicação social; e os que simplesmente fizeram reivindicações sociais, sem conteúdo religioso.
Entre os casos pertencentes ao primeiro grupo, estão a Revolta de Canudos e o movimento centrado na figura do padre Cícero Romão Batista.Apesar de não ser uma escola literária o pré-modernismo apresenta várias características, com individualidades muitos fortes, com estilos às vezes antagônicos – como é o caso de Euclides da Cunha e Lima Barreto -, podemos perceber alguns pontos comuns às principais obras desse período:
  1. Ruptura com o passado, com o academicismo – Apesar de algumas posturas que podem ser conservadoras, há esse caráter inovador em determinadas obras. A linguagem de Augusto dos Anjos, por exemplo, ponteada de palavras “não poéticas” como cuspe, vômito, escarro, vermes, era uma afronta à poesia ainda em vigor. Lima Barreto ironiza tanto os escritores “importantes” que utilizavam uma linguagem pomposa, quanto os leitores que se deixavam impressionar: “Quanto mais incompreensível é ela (a linguagem), mais admirado é o escritor que a escreve, por todos que não lhe entenderam o escrito”. (Os Bruzundangas)
  2. Denúncia da realidade brasileira – Nega-se o Brasil literário herdado do Romantismo e do Parnasianismo; o Brasil não-oficial do sertão nordestino, dos caboclos interioranos, dos subúrbios, é o grande tema do Pré-Modernismo.
  3. Regionalismo - Monta-se um vasto painel brasileiro: no Norte e o Nordeste com Euclides da Cunha; o vale do Paraíba e o interior paulista com Monteiro Lobato; o Espírito Santo com Graça Aranha; o subúrbio carioca com Lima Barreto.
  4. Tipos humanos marginalizados - O sertanejo nordestino, o caipira, os funcionários públicos, os mulatos.
  5. Ligação com os fatos políticos, econômicos e sociais contemporâneos - Diminuiu a distância entre a realidade e a ficção. São exemplos Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto (retrata o governo de Floriano e a Revolta Armada).

Senhora - José de Alencar

O Romance “Senhora” de José de Alencar faz parte da tríade na qual o escritor procurou traçar os perfis de mulher. Juntam-se a este romance “Diva” e “Lucíola”. O enredo gira em torno de Aurélia Camargo, moça pobre e órfã de pai. Ela fica noiva de Fernando Seixas, rapaz de boa índole, mas desfibrado pelo desejo de carreira fácil e brilhante. Em parte pelo fato de ser pobre, em parte pela esperança de conseguir um bom partido, Fernando abandona a noiva, que se desilude dos homens. Inesperadamente, morre o avô de Aurélia, deixando-a milionária. Movida por vários impulsos e motivos, manda propor a Fernando que a desposa mediante dote de cem contos de réis, quantia avultadíssima na época. Envolvido em dificuldades financeiras, o rapaz aceita; mas na noite do casamento, Aurélia, manifestando desprezo profundo, comunica que deverão viver lado a lado, como estranhos, embora unidos ante a opinião pública. Fernando compreende o sentido da compra a que se sujeitara e toma consciência da sua leviandade. Numa espécie de duelo, marido e mulher se põem à prova, até que Fernando consegue a soma necessária para devolver o que recebera e propõe a separação. Mas, enquanto seu caráter se forjara, a dureza se abrandava em Aurélia. O desfecho é a reconciliação de ambos, cujo amor havia crescido com a experiência. Classificado como um romance romântico, “Senhora” é na verdade, um romance de transição, transição do romantismo sentimental cercado de mocinhas puras e sofredoras para um realismo povoado por mulheres fortes e que sabem o que querem. Aurélia, que no início é meiga e acredita nos sentimentos mais puros dos homens, tem sua personalidade transformada pelo desejo de vingança e “compra” o homem que ama para impor-lhe a humilhação que ela sofrera anteriormente com a dor e o abandono. O romance de Aurélia e Fernando Seixas não é delimitado por espaços ou tempo, já que o enredo apresenta uma situação que, salvo algumas características de época, poderia se passar no Brasil, na Europa ou em qualquer outro lugar no qual a sociedade se divida entre ricos e pobres. Também pode se passar nos dias atuais, já que o casamento por interesses é uma constante nos “novos folhetins” que hoje são as novelas de TV e filmes românticos. Então porque “Senhora” não está incluída entre os romances realistas? Porque José de Alencar conserva características basicamente românticas mescladas ao “realismo” do enredo. O final feliz é uma destas características que prova que a mulher é forte e quase nada consegue vencê-la, quase nada, somente o amor.

Raul Pompéia


Raul d'Ávila Pompéia nasceu a 12 de abril de 1863, em Jacuacanga, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. Aos 10 anos, muda-se com a família para a cidade do Rio de Janeiro, sendo matriculado como interno no Colégio Abílio, dirigido pelo Dr. Abílio César Borges, Barão de Macaúbas. Aos 16 anos, transfere-se para o Colégio Pedro II, agora em regime de externato. No ano seguinte, 1880 publica seu primeiro romance "Uma tragédia no Amazonas".

Em 1881 vai para São Paulo, matriculando-se na Faculdade de Direito do Largo São Francisco; participa ativamente da campanha abolicionista e engaja-se na causa republicana. Em 1883 publica em forma de folhetim. na "Gazeta de Notícias", o romance "As jóias da coroa", de nítida conotação antimonarquista. Neste mesmo ano lança as primeiras poesias em "Canções sem metro". Em 1885 transfere-se com outros 90 colegas para a Faculdade de Direito do Recife, provavelmente em consequência da defesa dos ideais abolicionistas e republicanos; lá termina o curso. Em 1888 publica "O Ateneu", sua obra prima que o fez pertencente a um grupo de autores que entraram para a história da literatura graças a um único romance, já que suas experiências anteriores se perdem diante da importância deste livro.
Raul Pompéia teve uma vida agitada, envolvendo-se em várias polêmicas, criou inimizades e atravessou crises depressivas. Abandonado pelos amigos, caluniado nos meios jornalísticos e intelectuais, suicidou-se em 1895 no dia de Natal.



domingo, 7 de junho de 2009

A ÉPOCA VITORIANA

Introdução
O Período histórico inglês (notadamente o governo da Rainha Vitória), denominado Período ou Época Vitoriana, foi de grande efervescência política e intelectual. As datas são demarcadas desta forma: no ano de 1837 teve seu início e no ano de 1901 seu fim.Em certo sentido, este período chega a parecer mais remoto do que o período elisabetano, pois, enquanto os elisabetanos preocupavam-se com problemas que não são diferentes daqueles enfrentados em nossa época, os vitorianos pareciam obcecados com questões exclusivas suas.Havia problemas sociais e políticos que não podiam ser resolvidos por meio de um único ponto de vista partidário. William Cobbett (1762-1835) já havia reivindicado a reforma parlamentar e na Lei da Reforma de 1832, foi feito um grande avanço progressista no sentido da “democratização” da representação parlamentar.Homens do partido Whig como Sydney Smith (1771-1845) exerciam pressão para outras reformas, incluindo a Emancipação Católica, consumada em 1829. A escravidão foi denunciada e abolida em todas as colônias britânicas no ano de 1853.Filósofos ocupavam-se com importantes questões políticas. Thomas Robert Malthus (1766-1834) afirmou que o problema da pobreza só poderia ser resolvido pela limitação artificial da taxa de nascimento. Em sua época ele foi ridicularizado, mas, hoje suas teorias já começam a ser respeitadas.Um grande problema para os escritores da Época Vitoriana surgiu com o desafio que a nova ciência dirigiu à fé cristã. A teoria de Darwin, por exemplo, atingia o Livro do Gênesis. No ano de 1859, “A origem das espécies”, apresentava esta teoria revolucionária.O Materialismo, que negava a existência de tudo que não era matéria, também foi um desafio para a crença ortodoxa.Marx com “O capital”, formulava uma nova concepção da sociedade e distribuição de riquezas e se baseava na “interpretação materialista da história”.A Época Vitoriana tornou-se uma época de cruzados, reformadores e teóricos, já que em termos teve progressos, mas, também teve dúvidas. Havia muita pobreza, injustiça e pouca certeza sobre a fé ou a moral.Com todos os ideais, foi uma época puritana e assuntos como o sexo, eram tabus. Havia uma moralidade convencional, rígida e o caráter sagrado da vida em família, era devida ao exemplo da Rainha Vitória, e sua influência considerável sobre a Literatura e a vida social.Enquanto isto tudo acontecia na sociedade inglesa do século XIX, no isolamento da paróquia de Yorkshire, três irmãs, nenhuma delas destinada a viver por muito tempo, escreviam romances e poemas.Eram elas: Charlotte, Emily e Anne Brönte.
- Características sociais e culturais-
O período vitoriano foi de grandes contrastes. Embora seu desenvolvimento político-econômico estivesse fraco, as colonizações expandiam-se e o país passava por uma euforia de novas tecnologias. Estudiosos da época revelam que a sociedade sofria o medo da modernização, da alta tecnologia e as mudanças radicais que ela acarretava. Foi, portanto, uma época de transição, do novo abrindo espaço e enfrentando a resistência de uma sociedade extremamente tradicional.Era o término de um período crítico – o século XVIII com suas revoluções – portanto, as portas estavam abertas para o novo. Mas o novo também amedrontava.O século XIX viu surgir formas de materialismo e na Inglaterra uma onda de puritanismo estava em vigor e este caráter religioso influenciou, por sua vez, as obras literárias da época ( tudo envolto em discussões religiosas e libido reprimida).As virtudes no século XIX na Inglaterra eram a disciplina, a retidão, a limpeza, o trabalho árduo, a autoconfiança, o patriotismo... além da preocupação com questões de conotação sexual de castidade e fidelidade conjugal. Estas características unidas trazem à época vitoriana um conceito obsessivamente puritano.Numa sociedade que se via com medo diante de novas tendências, os escritores eram vistos como profetas e guias desta sociedade.O estilo literário mais apreciado foi “novels” ( romance), publicada em fascículos. Estes textos em princípio, serviam de entretenimento nos serões de leitura das famílias e deviam prestar-se à valorização da moral.Os editores, embora envergonhados, cuidavam para que nada que ferisse os princípios moralistas e que não pudesse ser lido em voz alta em qualquer serão familiar, fosse publicado.O crítico francês Melchior Vogue argumenta que o realismo na França foi claramente materialista, enquanto o inglês e o russo não viraram as costas para a religião e a moralidade.Diante de um cenário extremamente puritano, a arte dramática do teatro foi praticamente colocada à margem, por se caracterizar como vinculadora das expressões corporais, repletas de sensualidade. A efusividade do comportamento humano era considerada contrária ao puritanismo.
“ Em 1894, H.M. Alden, da Harper’s New Monthly Magazine, a respeito de assegurar a Thomas Hardy que ‘se sentia verdadeiramente envergonhado’ por intervir na publicação, julgou-se obrigado a lembrar a Hardy seu ‘compromisso’ de não publicar ‘nada que não pudesse ser lido em voz alta em qualquer círculo familiar". (Peter GAY. A educação dos sentidos – a experiência burguesa da rainha Vitória a Freud, p.297).
No período vitoriano cultivou-se a dramatização mais atenuada dos textos literários. Esta dramatização foi cultivada com maestria por Charles Dickens. Este grande literato costumava ler seus próprios textos para um público pagante. Esta pratica, cultivada na Rússia por Dostoievski e Turgueniev, arrancava lágrimas e aplausos do público.Esta foi uma forma de domesticar a arte dramática, provocando catarse de sentimentos reprimidos além de disseminar os valores vitorianos.Outro autor que emocionou o público foi William Makepeace Thakeray ao ler romances como “A feira das vaidades”. Curiosamente ao atacar o lado caricaturável da aristocracia, William Makepeace Thakeray era muito apreciado por ela.
“Uma noite, os soluços de um velho que perdera a filha, encheram o teatro onde Dickens lia justamente a descrição da morte da pequena Dorrit. Noutra, as mulheres presentes correram para o estrado onde, ilustrando certa cena, despetalara ele um gerânio, a fim de recolherem as pétalas como recordação. A cena da morte de Nancy, assassinada por Sikes, tirada do romance Oliver twist, cena que exigia dele um enorme esforço de ação e que sempre preparava como maior cuidado provocava cenas de terror e de histerismo nas platéias repletas”. (Oscar MENDES, Estética Literária Inglesa, p.52).
A literatura vitoriana exerceu um papel social muito importante, já que a leitura em família era algo da maior importância, numa sociedade que possuía na família seus alicerces.Neste período surgiu a Literatura Pedagógica, que tinha por finalidade treinar as pessoas quanto aos mais variados assuntos, desde o comportamento das senhoritas até a educação dos filhos.Desejou-se na época, um caráter formador, moralista para as Artes e estes textos primavam pela ingenuidade em acreditar que era suficiente seguir aqueles moldes. Era necessário mostrar para a sociedade que o que ela exigia estava sendo cumprido, pouco se longe dos “olhos” dela, a realidade fosse outra.
“... a Literatura, especialmente aquela denominada literatura pedagógica, com fins de aconselhamento, punha, por falta de senso crítico, as virtudes muito mais à mão das pessoas do que realmente estavam; tais textos ditavam normas e de comportamento como se fossem vestimentas fáceis de se adquirir e usar, para pessoas verdadeiramente sérias e honradas, para cidadãos de um império que estava acima dos demais. Aparentemente, a vida humana era conduzida apenas pela vontade consciente. Futuramente, estudos psicanalíticos e filosóficos, como os de Freud sobre o inconsciente e a sexualidade, negaram isto e obrigaram os seres humanos à humildade de suas almas (psiques) divididas e problemáticas.” ( Flávia D. C. MORAIS. “ A Evolução da Modernidade na Filosofia e na Literatura Vitoriana como tradução moralizante no ensino de uma época”, pp. 32-33).

Embora a leitura assumisse, em certa medida, uma função manipuladora, ela foi uma espécie de lenitivo para uma sociedade cercada por obrigações sobre humanas.Numa realidade que não conhecia o cinema, a televisão e outros meios de comunicação, a leitura foi uma forma de entretenimento, que gerou monumentos da literatura, como as Irmãs Brontë, por exemplo.Charlotte, Emily e Anne Brontë inventavam histórias para serem lidas á noite, povoando suas pacatas vidas.Os lares vitorianos, com seus serões de leitura, foram tecendo uma sociedade que apesar de todos os percalços, teve uma função sensibilizadora, numa época tomada pelo materialismo.

“ A Inglaterra detém a honra de haver inaugurado, e levado ao mais alto grau de perfeição, a forma de arte que corresponde ás necessidades novas do espírito em toda a Europa. O realismo, procedente de Richardson, ali marcou as mais gloriosas etapas com Dickens, Thackeray e George Eliot. Na hora em que Flaubert arrastava entre nós a doutrina à queda de sua inteligência, Eliot dava-lhe uma seriedade e uma grandeza jamais inigualadas”.(Melchior VOGUË. O romance russo, p. 36).


Mulher proletária - Jorge de Lima

Nesta análise há uma precupação apenas com o conteúdo do poema e não com a sua forma.


Mulher Proletária

Mulher proletária — única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.


Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.


O poeta Jorge de Lima critica no poema, o Capitalismo desenfreado que explora trabalhadores e os transforma em máquinas. A reprodução em série das indústrias é exteriorizada pelos operários, que explorados ao máximo, não têm direito a ter uma vida, com dignidade, nem têm seu individualismo respeitado. Assim como os produtos nos quais trabalham, eles são talhados “numa mesma fôrma”, excluídos e incluídos num sistema de lucro dos quais eles não tiram vantagem. O ser humano não é visto como homem, como mulher, pai, mãe, filho, filha, amigo... mas, como peça de uma grande engrenagem que é o próprio sistema capitalista. No contexto de “Mulher proletária”, a mulher é a própria sociedade que fabrica filhos em grande número, máquinas humanas que quando “vingam” se transformam em braços para manter a burguesia. Braços... não cérebros, nem corações, nem seres humanos, nem pessoas. São braços que não tendo o que comercializar, resta apenas o seu trabalho. A mulher é a única “fábrica” que o operário, marido tem. Este trecho mostra a mecanização das relações, já que os filhos são “fabricados” em série, para que um dia cumpram a mesma sina dos pais. Na última estrofe, Jorge de Lima conversa com a “mulher proletária” e fala sobre um futuro ainda esperançoso, já que a superprodução de homens que nascem condenados a ser explorados cresce a cada dia e já é mais numerosa que a Burguesia. Cabe a eles organização, para que unidos possam salvar a si próprios. É uma denuncia a passividade das pessoas diante da dominação. Um dia este proletariado pode vir a se estabelecer com uma vida digna, quando ele entender que têm direitos iguais aos dos que o dominam e exploram, mas, para isto, precisam acordar. “Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas, sonho que se sonha junto, é realidade”. No Modernismo abandonou-se a preocupação com a forma, que dominou a geração Parnasiana. Em “Mulher proletária”, percebemos a grande habilidade do poeta Jorge de Lima em fazer jogo de palavra. O substantivo mulher é acompanhado do adjetivo proletária que impõe as marcas do Capitalismo inseridas na sua personalidade. Assim como operário, produção, superprodução, burguesia, burguês, o autor define a mecanização do ser humano, como conseqüência do Capitalismo exagerado, que têm seus princípios fundamentados no lucro e não na pessoa que produz.

A Moreninha - Joaquim Manuel de Macedo

O Rio de Janeiro, transformado em corte, sofreu um processo de urbanização e com isto, surgiu uma sociedade consumidora formada pela aristocracia rural, profissionais liberais e jovens estudantes, que buscavam “entretenimento”. O espírito nacionalista exigia uma “cor local” para os romances e não meras importações. O jornalismo vivia seu primeiro grande impulso e os folhetins estavam se desenvolvendo, o teatro nacional estava em grande avanço. Estes são alguns dos fatos que explicam o aparecimento e desenvolvimento do romance no Brasil. O público leitor exigia romances que giravam em torno da descrição dos costumes urbanos, amenidades do campo e personagens selvagens imponentes, concebidos pela ideologia romântica, com a qual o leitor se identifica, já que esta era a realidade que “convinha”. Poucas obras fugiram deste esquema, entre elas, “Memórias de um sargento de milícias” de Manuel Antônio de Almeida e “Inocência” de Visconde Taunay. O primeiro romance brasileiro cronologicamente foi “O filho do pescador” de Teixeira e Sousa, publicado em 1843. Era um romance de trama confusa e sentimentalóide que não serve para definir as linhas que o romance romântico seguiria nas letras brasileiras. Por obter a aceitação do público e ter moldado o gosto deste, correspondendo às expectativas, convencionou-se definir “A Moreninha” de Joaquim Manuel de Macedo, publicado em 1844, como o primeiro romance brasileiro. O romance de Macedo é um exímio representante dos romances folhetinescos tão populares entre a burguesia presente no Império Brasileiro. O enredo de “A Moreninha” possui tramas que hoje estão presentes em qualquer novela de TV interessada em aumentar a audiência, já que os tempos mudaram, mas o romantismo “piegas” ainda esta presente nas pessoas. Uma promessa feita na infância, um encontro na juventude, uma moça que espera encontrar o cavalheiro a quem prometeu seu coração há muitos anos e um jovem que não consegue encontrar uma paixão sólida justamente porque está preso a uma promessa de longa data. As coincidências não poderiam ser mais apropriadas para o desfecho feliz do romance. Uma amizade entre Augusto (O jovem da promessa) e o irmão de Carolina (a moreninha), faz com que o casal se aproxime e se sinta atraído mesmo sem ainda reconhecer um ao outro. O camafeu é o símbolo do amor de infância que não morreu com o passar dos anos. Depois de algumas peripécias, o casal se descobre e resolve se casar. O casamento era um fim natural para os cais românticos deste período literário. A pena de Macedo tinha o “gosto Burguês”. O romance “ A Moreninha” explicita isto, com sua história previsível. Outros romances do autor como “O Moço Loiro” e “A luneta mágica”, também apresentam jovens estudantes idealizados, moçoilas casadoiras ingênuas e puras e outros tipos que perambulavam pela cidade do Rio de janeiro.

A tradição afortunada - Afrânio Coutinho

O grande crítico literário Afrânio Coutinho utiliza o texto intitulado “A tradição afortunada” para dissertar sobre a nacionalidade da Literatura Brasileira, ligada ao pensamento crítico.A idéia de nacionalidade na literatura brasileira constitui o núcleo dinamizador do pensamento crítico literário do século XIX.No trabalho de criação, consolidação e apuramento conceitual há uma identificação entre dois movimentos, primeiro o Romantismo e em seguida o Realismo.O pensamento crítico do século XIX em busca da nacionalidade forma o embasamento de teoria da moderna literatura brasileira. Graças a ele, a literatura brasileira adquiriu a sua fisionomia definitiva e no século XX, conseguiu sua completa maturidade.Segundo Afrânio Coutinho, não parece ter havido linhas paralelas de desenvolvimento nacionalizante, uma política e outra literária, mas sim, o desenvolvimento da consciência nacional em todo o povo, que se traduzia no plano político igualmente que no literário.Durante o desenvolvimento da identidade nacional, embora a literatura brasileira não “vivesse” como sistema coletivo, ela já “existia”. Esse sentimento exprimiu-se a princípio pelo nativismo e depois sob forma de nacionalismo. Portanto, não há dois períodos, e é fácil conceber a unidade literária, em sua evolução histórica.Estilos como o barroco, o arcadismo, o neoclassicismo, o romantismo e o realismo realizaram a integração progressiva da idéia nacional. Esses estilos não foram “importados”, já que houve uma adaptação e a influência européia não pode deter a onda genuína de nativismo dos artistas brasileiros.O instinto de nacionalidade procurou afirmar-se e tornar-se cada vez mais consciente por várias formas, algumas incorporadas às letras brasileiras. Afrânio Coutinho destaca o como exemplo, a visão da natureza exterior no Arcadismo e interior no Romantismo.O crítico também trabalho formas de nativismo, seja na sátira de Gregório de Matos, seja na imagem do índio, nosso herói nacional que não resistiu à morte do Romantismo. Mas a sua contribuição para a Literatura brasileira não morreu. Ícones da Literatura Brasileira, José de Alencar e Machado de Assis também contribuem de uma forma muito significativa para a definição do caráter nacional da Literatura Brasileira.José de Alencar em 1872 mostra como entendia o caráter brasileiro da Literatura. Para ele não bastava a reprodução de paisagens, tipos e linguagem locais, é preciso que se faça presente aquele “sentimento íntimo” que orienta características nos personagens, que não poderiam aparecer noutro tempo ou lugar.Machado de Assis no ensaio de 1873 “Instinto de Nacionalidade” formulava em termos críticos a mesma idéia. Para ele o “sentimento íntimo” torna o escritor um homem do seu tempo, do seu país, ainda que trate de assuntos remotos no tempo e espaço.Portanto, do nativismo ao nacionalismo, o espírito nacional cresceu ininterruptamente, até se firmar independente e fecundo. Afrânio Coutinho destaca que o pensamento crítico do século XIX ressalta a valorização da produção literária colonial, como expressão de nacionalidade. A obra de Anchieta, por exemplo, é para muitos críticos cheia de brasilidade. Tudo isso, leva a uma velha questão: o primeiro autor da Literatura Brasileira. Capistrano de Abreu fez iniciar a literatura no Brasil com os primeiros estrangeiros que descreveram a terra. Alguns defendem a posição para Botelho de Oliveira. Ainda outros apontam Anchieta como a primeira figura.Para Afrânio Coutinho é falsa a ligação que existe entre Romantismo e nacionalidade, da mesma forma que é falsa a ligação entre nacionalidade literária e nacionalidade política, pois a primeira independe da segunda. O processo de nacionalização que se consolidou no Romantismo era fruto de um processo que começou na época colonial.É destaque também, que uma literatura pode ser diferenciada e autônoma, sem ser esteticamente superior. Foi o caso da Brasileira nos dois primeiros séculos. Uma literatura surge desde o instante em que obras literárias aparecem e são usadas para divertir o público, por menor e mais rarefeito que seja.O crítico cita exemplos da Literatura Francesa e Inglesa para exemplificar a questões de autonomia. A formação da nossa Literatura foi um processo de desenvolvimento, desde a colônia até o século XX, onde se consolidou. Uma literatura é nacional, a partir do momento em que exprime traços do caráter e da civilização a que pertence, portanto não devemos considerar “brasileiro” apenas o que foi produzido depois da Independência em 1822. Os brasileiros de 1822 são os mesmos homens que habitaram o Brasil muito antes.A atitude dos nacionalistas foi trabalhar a emancipação mental em relação à Europa e trazer conteúdo e substância a civilização americana.A literatura no século XX é construída sobre um sentimento de nacionalidade, que lhe empresta o caráter, lhe exprime o elance.A evolução literária brasileira foi uma luta entre duas tradições, a luso-européia e a nativa em formação. Daí surge duas linhagens de escritores, os que concebem a literatura como um produto espontâneo e telúrico e os que a entendem como uma flor da cultura européia. Prevaleceu a tradição nativa, a nacionalidade.Afrânio Coutinho afirma que o movimento Modernista, iniciado em 1922, foi o corporificador dessa maturidade da consciência literária nacional e examinando-o dessa perspectiva, verificaremos as suas conquistas definitivas. Essa contribuição não se limita à esfera literária, mas envolve toda a cultura.Esses fatos não comprovam, todavia, que a Literatura Brasileira voltou as costas para qualquer tendência estrangeira. Mas o essencial da cultura brasileira contemporânea aplica-se, sobretudo às artes e à literatura. Afrânio Coutinho conclui o texto com a mesma idéia inicial: a continuidade do pensamento brasileiro acerca do problema, isto é, a do nascimento e evolução de uma tradição – a da consciência nacional da literatura. Ele utiliza a opinião de vários críticos e constrói um texto sólido, para ser analisado pelos que se interessam pela história e caracterização da Literatura Brasileira.

Joaquim Manuel de Macedo


Joaquim Manuel de Macedo nasceu em Itaboraí, Estado do Rio de Janeiro, em 24 de junho de 1820, filho de Severino de Macedo carvalho e Benigna Catarina da Conceição. Sua vida não teve grandes acidentes. Formado em medicina, não parece haver experimentado grande atração pela carreira. Professor, lecionou no Colégio Pedro II, deixando uma “História do Brasil” por perguntas e respostas. Político, foi eleito deputado provincial em várias legislaturas, deputado geral nas legislaturas de 1864 a 1868 e na de 1878 a 1881; figurou numa lista tríplice para senador, e recusou uma pasta no gabinete de 31 de agosto de 1864. Jornalista, colaborou em vários órgãos da imprensa brasileira, publicou neles, em folhetins, alguns dos seus romances. Teatrólogo, escreveu e fez representar diversas peças, entre as quais a comédia “O Novo Otelo” (1863), e o drama “Lusbela” (1863). Em nenhuma destas atividades, entretanto, conseguiu a popularidade que obteve como romancista. Macedo pode ser considerado o George Ohnet brasileiro. Depois da “Moreninha”, publicada em 1844, marcando um extraordinário sucesso literário, suas mais famosas novelas são: “O Moço Louro” (1845), “Os Dois Amores” (1848), “Rosa” (1849), “Vicentina” (1853), “Memórias do sobrinho do meu tio”(1867), “As Mulheres de Mantilha” (1870), “A Misteriosa” (1872). Foi o primeiro romancista brasileiro a focalizar o ambiente da escravidão nas novelas enfeixadas sob o título de “As Vítimas Algozes” (1869). Sem preocupar-se com análises psicológicas, Macedo tinha sempre em mira narrar uma história sentimental, de intriga muitas vezes complicada ( no “Moço Louro” certos episódios lembram páginas de romance policial), em que, depois de várias peripécias, tudo acabava mais ou menos bem, com casamento, reconciliação de inimigos, e o merecido castigo dos maus. Foi o tipo do novelista romântico, mas sem as qualidades artísticas e a poesia de José de Alencar. O autor da “Moreninha” visava apenas distrair, falando ao sentimentalismo das jovens casadouras. Mas suas novelas, pondo de lado o interesse essencialmente romanesco, encerram curiosa documentação de costumes sobre a sociedade do Império. Os tipos característicos da época, os salões, os bailes, o ambiente familiar, tudo isso encontramos nas histórias ingênuas de Macedo. Como observa José Veríssimo, as situações pouco variam, sendo infalível certa categoria de personagens, como a moça namoradeira, a invejosa que contra esta conspira, o galã, o velho alcoviteiro, o estudante, o vilão. Joaquim Manuel de Macedo faleceu no ano de 1882.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Honoré de Balzac


Honoré de Balzac nasceu em Tours, a 20 de maio de 1799, e morreu em Paris, a 18 de agosto de 1850. Depois de estudos medíocres, conclui o curso de Direito na Sorbonne, em 1819. Ávido de leitura desde os seus tempos de liceu, renuncia à carreira jurídica para se entregar por completo ás Letras, compondo uma primeira tragédia em verso em 1821. Cromwell. Datam de 1822 os seus primeiros romances. Neste mesmo ano, apaixona-se por Laure de Berny, 22 anos mais velha do que ele; desta experiência amorosa surgirá mais tarde Lê Lys dans la Vallée (1835). Perante o fraco êxito da sua produção literária, Balzac lança-se numa tentativa de editor-livreiro que redunda num terrível fracasso, em 1828. A partir de 1829 a sua produção literária intensifica-se, para apenas cessar com sua morte. Colabora em diversos jornais e revistas, freqüenta os círculos literários e mundanos, tem sucessivas paixões. Em 1832, inicia um longo caso de amor com uma condessa polonesa, Eveline Hanska, com quem virá a casar em 1850, meses antes de morrer.O romance Eugênia Grandet, dedicado a Marie du Fresnay , com quem teve uma filha, data de 1833 e enquadra-se na série dos Études de Moeurs que, juntamente com os Études philosophiques e os Études Analytiques, constituem uma tríade em que o autor pretende apesentar uma história da sociedade. Posteriormente, aliás, Balzac completa e revê toda a sua obra, que sistematiza em La Comédie Humaine, publicada em 1848. Neste vasto fresco da vida na França do seu tempo, que engloba 91 romances e em que as mesmas personagens surgem de livro para livro, incluem-se seu mais popular romance La Femme de Trente Ans de 1831 e La Peau de Chagrin do mesmo ano, além de Lê cure de Tours de 1832, Lê Médecin de Campagne de 1833, Lê Père Goriot de 1835, Lês Illusions Perdues escrito entre os anos de 1837 e 1839 de que A Capital de Eça de Queirós é uma adaptação, Splendeurs et Miséres dês Courtisanes de 1844, La cousine Bette de 1846, Lê Cousin Pons de 1847, entre outros. Balzac criou entre toda sua obra, que inclui contos, romances, peças de teatro, cerca de 2000 personagens, por isso ficou conhecido como “O escritor fábrica” e marcou a Literatura francesa e mundial como um dos mais importantes escritores de todos os tempos.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

ANNABEL LEE - Edgar Allan Poe

ORIGINAL:

Annabel Lee

It was many and many a year ago,
In a kingdom by the sea,
That a maiden there lived whom you may know
By the name of ANNABEL LEE;
And this maiden she lived with no other thought
Than to love and be loved by me.

I was a child and she was a child,
In this kingdom by the sea;
But we loved with a love that was more than love-
I and my Annabel Lee;
With a love that the winged seraphs of heaven
Coveted her and me.

And this was the reason that, long ago,
In this kingdom by the sea,
A wind blew out of a cloud, chilling
My beautiful Annabel Lee;
So that her highborn kinsman came
And bore her away from me,
To shut her up in a sepulchre
In this kingdom by the sea.

The angels, not half so happy in heaven,
Went envying her and me-
Yes!- that was the reason (as all men know,
In this kingdom by the sea)
That the wind came out of the cloud by night,
Chilling and killing my Annabel Lee.

But our love it was stronger by far than the love
Of those who were older than we-
Of many far wiser than we-
And neither the angels in heaven above,
Nor the demons down under the sea,
Can ever dissever my soul from the soul
Of the beautiful Annabel Lee.

For the moon never beams without bringing me dreams
Of the beautiful Annabel Lee;
And the stars never rise but I feel the bright eyes
Of the beautiful Annabel Lee;
And so, all the night-tide, I lie down by the side
Of my darling- my darling- my life and my bride,
In the sepulchre there by the sea,
In her tomb by the sounding sea.


Tradução de Fernando Pessoa

ANNABEL LEE

1ª:Foi há muitos e muitos anos já,

Num reino de ao pé do mar.

Como sabeis todos, vivia lá

Aquela que eu soube amar;

E vivia sem outro pensamento

Que amar-me e eu a adorar.

2ª:Eu era criança e ela era criança,

Neste reino ao pé do mar;

Mas o nosso amor era mais que amor --

O meu e o dela a amar;

Um amor que os anjos do céu vieram

a ambos nós invejar.

3ª:E foi esta a razão por que, há muitos anos,

Neste reino ao pé do mar,

Um vento saiu duma nuvem, gelando

A linda que eu soube amar;

E o seu parente fidalgo veio

De longe a me a tirar,

Para a fechar num sepulcro

Neste reino ao pé do mar.

4ª:E os anjos, menos felizes no céu,

Ainda a nos invejar...

Sim, foi essa a razão (como sabem todos,

Neste reino ao pé do mar)

Que o vento saiu da nuvem de noite

Gelando e matando a que eu soube amar.

5ª:Mas o nosso amor era mais que o amor

De muitos mais velhos a amar,

De muitos de mais meditar,

E nem os anjos do céu lá em cima,

Nem demônios debaixo do mar

Poderão separar a minha alma da alma

Da linda que eu soube amar.

6ª:Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos

Da linda que eu soube amar;

E as estrelas nos ares só me lembram olhares

Da linda que eu soube amar;

E assim 'stou deitado toda a noite ao lado

Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,

No sepulcro ao pé do mar,

Ao pé do murmúrio do mar.

Análise:

O título do poema é uma dedicatória. O eu lírico escreve um poema contando brevemente a história de amor entre ele e Annabel Lee.

Na primeira estrofe, temos a personificação do amor perfeito entre dois jovens. O poeta age como um narrador, como se o poema fosse “prosa dentro da poesia.” Ele narra uma história que já aconteceu há muito tempo, mas que ainda está viva dentro dele. Tudo se passa num lugar anônimo....um reino ao pé do mar, na literatura entende-se que o mar representa o interior dos personagens, então, a figura do mar serve para deixar claro que eles viviam para si, para o seu interior...viviam para seu próprio amor, sem nenhuma outra preocupação. Era uma relação de posse um pelo outro e de total dependência.

Na segunda estrofe, o eu lírico afirma que os dois eram crianças...é sabido que em tempos passados, as pessoas amadureciam mais cedo e formavam uma vida em família antes mesmo dos vinte anos. A expressão “Criança” não tem significado denotativo, pois os adolescentes e adultos jovens eram também chamados de “Crianças” pela pouca experiência de vida que possuíam.O amor que um nutria pelo outro era mais que um sentimento humano...era um sentimento divino. As figuras divinas dos anjos, são mostradas no poema como formas imperfeitas, já que além de não serem capazes de amar com a mesma força que os seres humanos, eles possuem uma característica muito humana: a inveja.

Na terceira estrofe, o eu lírico afirma que a inveja dos anjos foi a razão da sua amada ficar doente, a doença não é mencionada, mas ele diz que “Um vento saiu duma nuvem, gelando e matando”, por esta descrição podemos acreditar que a amada contraiu tuberculose que era uma doença fatal na época em que este poema foi escrito (meados do século XIX).Entra em questão um situação muito corriqueira naquele tempo: O casamento arranjado. Annabel tem um parente fidalgo e este, vem a buscar para si, a tirando dos braços do amado.O “sepulcro ao pé do mar” não deve ser considerado no sentido denotativo. É uma metáfora ao novo lar de Annabel e a sua condição de casada, que se torna um sepulcro quando não existe amor e é uma mera convenção social.É a vida sem amor que se transforma em morte.

Na quarta estrofe, temos um paradoxo: os anjos mandaram um vento adoecer Annabel por inveja do seu amor, mas se sentiam tristes, já que a morte dela não aumenta a capacidade deles de amar e não diminuía o amor do casal. Eles sentem tristeza, mas a inveja ainda é mais forte.

Na quinta estrofe, o amante afirma que o amor dele e de Annabel é mais forte do que a morte, é maior do que a vida, já que esta é passageira e o sentimento é para toda a eternidade, portanto, não respeita a separação carnal imposta pela morte.O amor era maior que qualquer amor já descrito na antiguidade e nem mesmo os anjos do céu mandando a morte, nem nada que exista abaixo do céu e acima do mar poderia separa duas almas que se amaram tanto.

Na última estrofe, temos o desfecho esperado, tudo leva o amante até sua amada, os luares tristes, as estrelas, e ele nem precisa de uma presença física para lembrar-se de Annabel, mas mesmo assim, vai todo dia até sua sepultura ao pé do mar. Ele a chama de anjo devido a sua pureza, é o amor que não se manifesta carnalmente, um amor espiritual no qual o amor vale por si mesmo e não pelo prazer que produz.Ele a chama de sonho, sonho não realizado, que a vida negou.Ele a chama de fado, que é uma tristeza que tem de se carregar na vida. O amor do casal foi cercado de tristezas, mas permaneceu firme e não enfraqueceu apesar de qualquer tipo de separação física.Fisicamente a ele, só resta ficar deitado toda a noite ao lado de Annabel no seu sepulcro ao pé do murmúrio do mar que foi testemunha de toda sua história.

Comparando histórias

A triste história de amor descrita no poema “Annabel Lee” não é a primeira com este tema e com certeza, não será a última. O amor proibido, a morte que não é o bastante para separar duas almas que se amam, a fidelidade além da vida, a eternidade do sentimento, são temas que sempre nutriram a literatura e por conseqüência, a cultura Pop. Filmes como “ Amor além da vida”, “Ghost – do outro lado da vida”, “Love Story”, são alguns exemplos de como o cinema já se valeu destes temas que geralmente geram lágrimas de comoção nos corações sensíveis. Romances também se valeram destas questões...como exemplo maior podemos citar “O Morro dos Ventos Uivantes”, uma bela obra contemporânea ao poema analisado, que conta a história de um amor fatalmente destinado ao fracasso já que contrariava as leis da sociedade. Um amor que só a morte conseguiu realizar já que em vida era impossível.Annabel Lee foi escrito por Edgar Allan Poe, um poeta norte-americano que bebia as fontes da literatura gótica inglesa do século XIX e que tinha na sua própria história muita inspiração para escrever textos sombrios e cercados de mistérios. Poe teve uma vida trágica e amou uma prima que morreu tuberculosa muito jovem. Sua morte até hoje provoca mistério. Ele foi encontrado morto num bar com apenas 40 anos de idade e deixou uma obra permeada de contos e poemas que mexem com o leitor e fazem pensar nas tragédias que acontecem todos os dias entre pessoas que se amam e que sofrem.Sendo assim, é de se esperar que poemas como “Annabel Lee” tragam histórias que ultrapassem as barreiras da Vida e morte, amores que tem a vida como uma prisão e a morte como uma liberdade...mas Poe vai além, ele deixa o narrador do poema vivo...maior tristeza para ele que não tem nem a morte como aproximação da amada. É paradoxal que a vida se torne indesejada, roubando esta característica da morte que sempre foi a “indesejada das gentes”.O poema é triste e tem um final infeliz não pelo fato de Annabel ter morrido, mas sim pelo fato de seu amado continuar vivo sofrendo uma separação física da sua amada. É a vida que torna este poema sombrio e não a morte.Poe também detém o título de ser o “pai da Literatura policial” através do detetive Dupin, criado por ele e presente em alguns contos como “Os crimes da Rua Morgue”. Muitos críticos afirmam que este personagem serviu de inspiração para Arthur Conan Doyle criar o famoso e popular “Sherloke Holmes”.

Poema musicado que serve para comparação

Eu não existo sem você

Tom Jobim

Eu sei e você sabe

Já que a vida quis assim

Que nada neste mundo Levará você de mim

Eu sei e você sabe Que a distância não existe

Que todo grande amor Só é bem grande se for triste

Por isso, meu amor Não tenha medo de sofrer

Que todos os caminhos me encaminham para você.

Assim como o oceano só é belo com luar

Assim como a canção só tem razão se se cantar

Assim como uma nuvem só acontece se chover

Assim como o poeta só é grande se sofrer

Assim como viver sem ter amor não é viver

Não há você sem mim

E eu não existo sem você.

Este poema de Tom Jobim musicado por vários interpreteis mostra que os temas vistos em “Annabel Lee” ultrapassam as barreiras de tempo e espaço. Bem longe da Inglaterra e bem distante do século XIX, um escritor brasileiro escreve um poema que é um diálogo passível de várias interpretações, uma delas, é a do eu lírico conversando com seu amor antes da morte e deixando claro que não é preciso medo, pois a morte não separa corações que nasceram para viver juntos e que não existem separados. Portanto, é preciso ficar juntos de qualquer forma, mesmo que seja em pensamento. O poema é cercado por comparações...um não existe sem o outro, não tem razão para existir...assim como o oceano só é belo com o luar,assim como a canção só tem razão se se cantar,assim como uma nuvem só acontece se chover, assim como o poeta só é grande se sofrer, assim como viver sem ter amor não é viver...não existe um sem o outro.



quarta-feira, 3 de junho de 2009

Helena – Machado de Assis

O escritor mais aclamado pela crítica brasileira, Machado de Assis, é amplamente conhecido pelos seus romances realistas, nos quais a fina ironia e a crítica as bases da sociedade burguesa se destacam. Muitos deixam de lado a fase “romântica” do autor, o que é um grande erro, já que entre os romances de cunho mais sentimental, Machado de Assis consegue destacar-se já com uma pitada de realismo que se desenvolveria na obra posterior do autor.O romance apresenta um enredo que nos dias atuais já se tornou parte do “Lugar comum” sendo constante em telenovelas e filmes, mas na época de seu lançamento 1876 o tema “amor entre irmãos” era muito polêmico. O realismo presente na segunda fase da obra de Machado de Assis já ganhava contornos neste romance, pois a estória se inicia com a morte do Conselheiro Vale por apoplexia fulminante e em seu testamento ele dá instruções para que seu filho Dr. Estácio e sua irmã Úrsula acolham em casa sua filha chamada Helena, fruto de um relacionamento extraconjugal. O filho e a irmã desconheciam a existência da jovem e relutam em aceitar tal idéia, mas acabam obedecendo as ordens do falecido conselheiro e desta forma, Helena vai viver na propriedade que agora pertence a seu meio irmão Estácio.No início, Dona Úrsula tem certa antipatia pela estranha que entrou em sua vida de forma tão abrupta, mas com o tempo, a personalidade encantadora e a beleza de Helena conquistam a todos, inclusive seu irmão que passa horas com ela entretido entre conversas e passeios. Estácio estava noivo nesta época, mas logo percebe que a noiva não é a mulher com quem sonha passar a vida inteira. Ele se assusta ao perceber que a falta da irmã lhe causa sentimentos bem diferentes de uma saudade fraterna, ele precisava de helena perto de si, como um homem precisa da mulher que ama para viver. Helena sente o mesmo por ele, e resolve ficar noiva também. O escolhido é um amigo de infância de Estácio que caba de voltar da Europa. A situação se agrava quando Estácio é tomado pelo ciúme ao descobrir que a irmã visita com frequência uma cabana onde mora um homem de meia idade. A surpresa é grande para Estácio ao descobrir que o homem visitado por Helena é na verdade, seu pai biológico, já que quando o Conselheiro Vale iniciou o romance com a mãe de Helena a pequena já era nascida. Estácio fica confuso com o misto de sentimentos que se apossam dele, poderiam passar agora da condição de irmãos para amantes? Ele é aconselhado pelo Pároco local a não levar esta ideia a diante, já que a sociedade nunca compreenderia a relação dos dois. Enquanto isso, Helena se julga culpada por saber toda a verdade e escondê-la este tempo todo do seu amado. Aos poucos, Helena vai definhando em sua culpa, acreditando que Estácio a considera uma mulher aproveitadora por esconder a verdade sobre sua paternidade. Consumida pelo remorso, Helena morre por amor a Estácio. Este é o desfecho romântico de uma obra de transição de Machado de Assis. Neste romance estão presentes algumas situações que se tornarão constantes nos romances realistas do autor, como o casamento por conveniência, o adultério (no caso do Conselheiro Vale), e o comportamento desenvolvido pela protagonista que mente sobre sua origem para ser acolhida no conforto da família Vale. Machado de Assis sabia a hora certa de esbofetear a sociedade com sua pena e por isso, guardou a ironia mais ácida para cinco anos depois ser despejada em “Memórias póstumas de Brás Cubas”.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Lima Barreto


Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro em 13 de maio de 1881, filho de pai português e mae escrava. Após os primeiros estudos em Niterói, vai para o antigo Colégio Pedro II. Em 1897 ingressa na Escola Politécnica, cursando Engenharia até 1902, quando se vê obrigado a abandonar o curso para cuidar do pai, doente mental. Emprega-se na Diretoria do Expediente da Secretaria de Guerra; o funcionalismo público lhe dá certa tranqüilidade financeira. Datam dessa época alguns de seus contos, suas primeiras colaborações na imprensa. Mestiço, pobre e socialista, vítima de toda espécie de preconceitos, com o pai já louco, internado na Colônia dos Alienados, Lima Barreto vive intensamente todas as contradições do inicio do século e passa por profundas crises depressivas. Alcoólatra, é internado duas vezes, em 1914 e 1919, Hospício Municipal. Em 11 de maio de 1918, no semanário ABC, redige um manifesto socialista, exaltando a Revolução Russa de 1917.
Passa o ano de 1922 cuidando de seu pai moribundo. Morre em primeiro de novembro de 1922, 48 horas antes do falecimento de seu pai.
Muito já se discutiu sobre a importância de Lima Barreto em nossa literatura. No seu tempo não foi reconhecido, chegando mesmo a receber violentas críticas por sua “falta de estilo”, entretanto, recentemente sua obra mereceu reavaliação, tendo sido colocada em lugar de destaque em nossas letras. É hoje inegável, que um romance como Triste Fim de Policarpo Quaresma deva figurar entre nossas obras-primas, ao lado da melhor produção de Machado de Assis e de Graciliano Ramos.
Por sua visão da realidade, Lima Barreto dever ser estudado como um pré-modernista: é consciente de nossos verdadeiros problemas, ao mesmo tempo que critica o nacionalismo ufanista, exagerado, utópico, herdado do Romantismo.
O estilo de Lima Barreto tão duramente criticado pelos ainda parnasianos de sua época, é outro ponto de contato com o Modernismo: leve, fluente, propositadamente frouxo para os padrões do século XIX, aproxima-se da linguagem jornalística, estilo que faria escola entre vários autores após 1922.
A leitura do romance Triste Fim de Policarpo Quaresma já nos situa no universo de Lima Barreto, com os alvos a serem atingidos, numa mistura saudável de crítica, análise e humor. O tema central dessa figura quixotesca que é Policarpo Quaresma; um nacionalismo perigoso quando manipulado por mãos férreas, como as do Marechal Floriano. Lançado em 1911, o livro é uma profecia sobre os regimes autoritários nazifacistas que ganhariam corpo a partir da década de 1930: para engrandecer a pátria, só um governo forte, ou mesmo a tirania.
Lima Barreto critica a educação recebida pelas mulheres, que eram preparadas para o casamento apenas, (o romancista foi uma das primeiras vozes a defender o voto feminino); critica também a República, que nos levou a ditadura de Floriano, bem como exagerado militarismo em nossa política.
Em todos os seus romances, percebe-se um traço autobiográfico: suas experiências aparecem projetadas em algumas personagens, principalmente negros e mestiços que sofrem o preconceito racial. Além de seu valor como romancista, Lima Barreto nos oferece um retrato perfeito dos subúrbios cariocas e de sua população, como um autêntico cronista.



Henry James



Henry James nasceu no dia 15 de Abril de 1943 em Washington Square Nova York . O pai de Henry James era um homem muito culto e fazia questão de que os filhos recebessem uma ótima educação, portanto, ainda jovem, Henry viajou pela Europa e percorreu vários países. Conhecer mundos tão contrastantes o levou a definir uma filosofia segundo a qual a arte de viver nada mais é do que obedecer às exigências e as ambigüidades da arte. No ano de 1962 o futuro escritor começa a estudar direito em Harvard, mas, estava mais interessado na leitura de autores como Balzac, Nathaniel Hawthorn, entre outros. Por isso, abandonou a carreira de Advogado para se dedicar à Literatura. Seus primeiros textos e críticas apareceram em alguns jornais na época.O escritor começou a sua carreira literária em 1865 escrevendo artigos para jornais. Nunca mais abandonou a Literatura e se consagrou como um grande escritor da Literatura Norte-Americana e Inglesa em geral. Explorou com profundidade a psicologia dos personagens e introduziu a técnica da narrativa indireta, apresentando os mesmos acontecimentos relatando ponto de vista de cada participante, recorrendo ao Flash-Back. Sua obra compreende contos, peças, ensaios, autobiografia e vinte romances. Podemos dividir a obra em três etapas: - Da década de 1870 destacam-se romances como “Os Americanos”em 1877 e “Daisy Miller”em 1879. Sua produção desta época culmina com “O Retrato de Uma Senhora” de 1881, cujo tema é o confronto entre o novo mundo e os valores do velho continente. É do mesmo ano um romance muito importante “A Herdeira”. - Na segunda fase, Henry James experimentou vários temas e formas. Entre os anos de 1885 e 1900 três novelas possuíam conteúdo social e político, eram elas: “Os Bostonianos” de 1886, deste ano também é “Princess Camassina”e de 1889 “The Tragic Muse”. São histórias de revolucionários e trazem uma forte influência da corrente naturalista. Os anos de 1890 até 1895 ficaram conhecidos como “os anos dramáticos” e Henry James escreveu sete peças de teatro sendo que duas foram encenadas sem êxito. Ele voltou a narrativa e merecem destaque “The Next Time”de 1895 e um dos seus melhores romances no ano de 1898 “A Volta do parafuso”. - A última fase da obra de Henry James é considerada por muitos críticos como a mais importante, na qual o autor explora a consciência humana e sua prosa torna-se mais densa e complexa. São deste período as obras-primas “As Asas da Pomba”de 1902, “Os Embaixadores” do ano de 1903 e “A Taça de Ouro” publicado em 1904. Estes são apenas alguns dos muitos romances escritos por este brilhante escritor.
No ano de 1876 Henry James fixou residência em Londres e passou os últimos anos da sua vida em isolamento. No ano de 1915 com a Primeira Guerra Mundial o autor naturalizou-se britânico e morreu aos 72 anos, pouco depois de receber a Ordem do Mérito Britânica.