domingo, 31 de outubro de 2010

Literatura de terror - gótica


Castelo do Conde Drácula, na Romênia
A literatura de terror, ou literatura gótica está em alta na mídia. Obras do cinema e da Literatura voltada para o público adolescente popularizaram figuras lendárias como o vampiro, o lobisomem, os mortos-vivos e figuras aterrorizantes. Sem entrar nos méritos qualitativos, não podemos esquecer de que este gênero já existe há muito tempo e produziu grandes clássicos em tempos distantes nos quais o cinema, a TV, as redes sociais da internet não existiam.
Tudo começou com Horace Walpole e o romance “O castelo de Otranto”, obra do ano de 1764. Nestes primeiros períodos, a Literatura gótica utilizava-se do físico para causar horror e provocar sentimentos intensos de medo no leitor. Os lugares aterrorizantes eram os castelos medievais, as florestas escuras com árvores altas, casas solitárias e abandonadas. Grande representante deste período, temos a inglesa Ann Radcliff. Em seus romances, figuras humanas são colocadas em lugares que propiciam a mente humana a vagar pelos caminhos do medo do desconhecido, de outros mundos, daqueles que já partiram desta vida. Surgiram também criaturas horripilantes, monstros sanguinários e de aparência extremamente assustadora. Um grande representante destas figuras é o “Frankenstein” , da inglesa Mary Shelley. Construído com pedaços de cadáveres humanos, o monstro tornou-se uma figura mítica e no mundo moderno ganhou muita popularidade através das inúmeras representações no cinema.
No ano de 1809, nascia em Boston, nos Estados Unidos, um escritor que mudaria para sempre os rumos da Literatura de terror. Seu nome é Edgar Allan Poe, que teve um morte misteriosa e uma vida cercada de tragédias, vícios e fracassos. Grande contribuidor para o desenvolvimento do conto como gênero literário, Poe colaborou para a criação da Literatura policial e modificou a forma de escrever sobre o mundo assustador.
Diferente dos seus antecessores, Poe não se utilizava de artimanhas físicas, como espaços e figuras sobrenaturais para causar medo e espanto. Ele criou inúmeras personagens psicologicamente aterrorizadas, figuras humanas aparentemente normais, em espaços normais; que guardavam em suas mentes obsessões e perversidades que as levavam a situações aterrorizantes, crimes, perdições, maldades. Para Poe, um gato preto acendia no coração de um homem tido como puro, os desejos mais cruéis, a consciência mais doentia. Um olho com catarata causava horror em um homem e levava-o a transformar-se num assassino frio e calculista, enquanto tenta convencer o leitor de que não é louco, pois um louco não teria agilidade suficiente para planejar e premeditar um crime perfeito. Os dentes brancos feito marfim da prima adoentada podem tornar-se objeto de desejo de um jovem, fazendo com que ele vá até as últimas consequências para tê-los para si.
Os poemas de Poe também merecem destaque. Em “O corvo” a ave agourenta bate a janela de um homem solitário a meia-noite e o recorda a amada perdida para a morte. Em “Annabel Lee”, os anjos sentem ciúmes do amor perfeito de dois jovens que tem suas almas unidas desde a infância; os ciúmes se devem ao fato das figuras angelicais não aceitarem uma amor tão puro, perfeito e intenso em dois seres humanos, pois este sentimento não é possível nem entre os mensageiros celestes.
Edgar Allan Poe foi um divisor de águas para a Literatura gótica.
Na Irlanda, especificamente no ano de 1897, um romancista chamado Bram Stoker, criou a lenda do vampiro, hoje tão difundida e modificada por escritores populares.
Bram Stoker baseia-se numa figura histórica, o Conde Vlad Dracul (dragão ou demônio),que nasceu no ano de 1431 na Transilvânia, (onde fica localizado o famoso castelo do Drácula). O Conde Vlad foi guerreiro e herói romeno da guerra contra os turcos, que ficou conhecido como “O Empalador” devido a crueldade usada para com seus prisioneiros de Guerra. O “Drácula” de Bram Stoker é o primeiro vampiro da Literatura, a figura inicial da lenda dos mortos-vivos que se alimentam de sangue e vivem eternamente. Depois dele vieram os belos e atraentes vampiros de Anne Rice, e mias recentemente, as figuras controversas dos romance de Stephanie Meyer. Os personagens da saga “crepúsculo” conquistaram o amor de milhares de adolescentes no mundo inteiro, mas ganharam também o ódio de muitos críticos que os consideram deturpados, indignos de sucederem o clássico de Bram Stoker, ou até mesmo os de Anne Rice.
Fica para o leitor a dica: conheçam os clássicos do gênero. É uma viagem excepcional ao mundo do terror, das grandes lendas, dos grandes personagens e lugares pelos quais nossa mente divaga nos mistérios do medo.

sábado, 16 de outubro de 2010

Amor à primeira vista - Falling in love


Quando dois dos maiores astros de Hollywood se encontram unem força a um enredo que foge aos estereótipos propostos pelo tema, temos um grande filme. Um grande exemplar desta mágica é o filme "Amor à primeira vista" (falling in love), do diretor Ulu Grosbard, com roteiro de Michael Cristofer.
O filme é do ano de 1984 e tem como protagonistas os dois grandes e brilhantes astros Robert De Niro e Meryl Streep, além de contar com Dianne Wiest, David Clennon e Jane Kaczmarek no elenco.
Frank Raftis é um engenheiro, casado e pai de dois meninos pequenos; Molly Gilmore uma decoradora autônoma, casado com um médico. Duas pessoas comuns que veem suas vidas aproximarem-se primeiro por acaso: na véspera de Natal, comprando os presentes para os esposos, acabam trocando os livros comprados na livraria repleta de clientes. Três meses mais tarde, encontram-se por acaso no trem, já que Frank deixou o carro na oficina para consertos e Molly tem que visitar o pai que está doente num hospital. Sem que esperassem, os dois começam a desejar que aqueles encontros se tornem frequentes e, quando percebem, já não se encontram por acaso e sim, por escolha. Só uma coisa perturba o recém-descoberto amor: os dois são casados e têm suas vidas ligadas as de outras pessoas.
É um genuíno dilema moderno que poderia ser contaminado pelos clichês que vemos todos os dias povoarem as novelas de TV que tratam deste tema. O enredo do filme, porém, não está contaminado com o maniqueísmo comum nas estórias da TV. Não há maridos carrascos nem esposas fúteis e extremamente ciumentas. O público não é levado a sentir raiva dos cônjuges, nem a torcer deliberadamente para que estes sejam abandonados sem piedade. São apenas pessoas normais, que levam uma vida pacata, cercada pela rotina da cidade grande. Óbviamente o público sentirá uma simpatia pelo casal que vive o romance proibido pela sociedade, mas esta simpatia não é horror as relações familiares particulares deles; esta simpatia vem do fato da relação não ser baseado apenas no contato físico, mas sim, no sentimento que surge sem ser programado, sem ser esperado. A resistência que Frank e Molly têm em se entregar ao amor à primeira vista, é a prova de que a possível traição iria ferir tanto a eles quanto aos respectivos companheiros.
Os conflitos psicológicos apresentados no enredo estão longe de propôr questões morais, esta não é a intenção do filme, pois a arte verdadeira não procura ser manual de bons costumes. O público, ao assistir "Amor à primeira vista" sente-se atraído pelo casal Frank e Molly, mas é provocado instintivamente a reflexões sobre as consequências daquele relacionamento na vida das duas famílias. Esta reflexão, porém, surge naturalmente, não é proposta pelo filme como uma obrigatoriedade para a preservação de nenhum conceito social ou moral.



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Erich Maria Remarque


Erich Maria Remarque nasceu no dia 22 de junho de 1898, na cidade alemã de Osnabrück. Ao nescer, recebeu o nome de Erich Maria Kramer. Realizou os estudos básicos na cidade natal e frequentou a Universidade de Münster. Aos dezoito anos, abandonou os estudos e juntou-se ao exército alemão na Primeira Guerra Mundial. Foi ferido três vezes nas trincheiras, uma delas gravemente. Após o conflito, teve que lutar para sobreviver em um país corroído pela guerra, exercendo várias funções, como a de pedreiro, por exemplo. Esta instabilidade profissional acabou quando conseguiu trabalhar como jornalista em alguns jornais de Hannove r e Berlim, nas funções de crítico teatral e repórter esportivo, entre outras.
Mesmo com uma vida estabilizada, não esqueceu o pesadelo da Guerra e suas noites de insônia eram preenchidas por infindáveis anotações em cadernos. Estas anotações traziam os horrores vividos no campo de batalhas. Daquelas folhas manuscritas, logo surgiu o núcleo de um livro, um romance sobre o absurdo da guerra. A editora Ullstein insistiu no lançamento da narrativa, mas o máximo que conseguiu foi sua publicação em folhetins no jornal Wossiche Zeitung, no ano de 1928.
O sucesso de "Nada de novo no front" (Im Western Nichts Neues) garantiu a edição do texto em formato de livro no ano seguinte. A obra tornou-se um êxito sem precedentes na literatura alemã modernae deixou o público e as autoridades alemãs perplexos. O romance logo foi alvo de críticas e polêmicas, ao mostrar a um público que ainda via a guerra como uma fatalidade histórica cercada de certo romantismo, a verdadeira face dos soldados que nela se envolveram.
Outras obras haviam sido publicadas sobre o primeiro grande conflito mundial, mas nenhuma parecera aos soldados tão realista e reveladora.
No ano de 1930, "Nada de novo no front" (também traduzido no cinema por "Sem novidades no front") foi levado à tela por Lewis Milestone. O filme alcançou êxito mundial e status de filme cult.
O filme e o livro causaram a ira dos nacionalistas alemães e, com o recrudescimento dos sentimentos nazistas a perseguição a Erich Maria Remarque se tornou ainda maior pelo pacifismo manifesto em suas obras. Em 1931, publicou também "O caminho de volta" que retratava as frustrações dos que regressavam dos campos de batalha. No ano de 1933, com a ascensão de Hitler ao poder, o filme baseado na sua obra-prima foi proibido na Alemanha. O escritor exilou-se primeiramente na Suíça e, a partir de 1939, nos Estados Unidos. No dia 10 de maio de 1933, seus livros foram quimados na fogueira na Praça da Ópera, em Berlim.
Em 1938, as autoridades alemãs retiraram sua cidadania alemã, por ter "arrastado na lama" os soldados da grande guerra e apresentado uma visão "antigermânica" dos acontecimentos da guerra.
O escritor só ficou sabendo das hostilidades que sua imagem sofria na Alemanha, quando estava seguro, no exílio nos Estados Unidos. Sua irmã, Elfriede, porém, não teve a mesma dádiva. Ela ainda vivia no país natal e era uma simples costureira, mas acabou confidenciando a uma cliente que poderia muito bem dar um tiro na cabeça de Hitler. Foi denunciada, condenada e decapitada no ano de 1943.
Em 1947 Erich Maria Remarque naturalizou-se norte-americano. Nos seus anos em Hollywood, recheou as crônicas jornalísticas com seus casos amorosos com as atrizes Marlene Dietrich e Greta Garbo. Em 1948, partiu para a Suíça, na companhia da também atriz Paulette Godard, ex-mulher de Charles Chaplin.
Erich Maria Remarque, que é junto a Goethe o escritor alemão mais lido no mundo, faleceu em Locarno, na Suíça, aos 72 anos, no dia 25 de setembro de 1970. Não perdoou a Alemanha do pós-guerra pelo tratamento brando com as autoridades nazistas.
Sem dúvida, "Nada de novo no front" é seu romance mais popular e foi traduzido para 58 idiomas, vendendo mais de 10 milhões de cópias em todo mundo.
Deixou também outros romances sobre o absurdo da guerra:

"Três camaradas" - 1937.

"Náufragos" - 1941.

"Arco do triunfo" - 1946.

"O obelisco preto" - 1956.

E o romance póstumo "Sombras do paraíso" - 1971.

domingo, 10 de outubro de 2010

Personagens de Machado de Assis

Que Machado de Assis é hábil em criar personagens instigantes ninguém pode negar. O leitor certamente coloca alguns dos seus personagens entre os mais celébres da Literatura nacional e até mesmo mundial.
Pensando em casais célebres, Capitu e Bentinho sempre têm um lugar de destaque. Ora, Capitu é uma mulher única e especial na Literatura, parece até que ganha vida própria e provoca no leitor reações adversas. Desde cedo sabia bem o que queria: Bentinho. O próprio Bentinho, ao escrever suas memórias, diz que ela era o lado forte da relação, aquela que sempre confiou que para os dois ficarem juntos era só uma questão de tempo e de alguns ajustes. Sim, havia a promessa, mas promessas podem ser modificadas. Havia José Dias contra a pobre vizinha, mas ele poderia ser convencido a apoiá-los. Havia o ciúme e, bem, este na verdade, não pode ser controlado. Bentinho, por sua vez, é um burguês típico, com sua mãe viúva, inúmeros escravos e agregados para mimá-lo, uma paixão e muito medo de lutar por ela. Capitu acaba "roubando" do marido o papel de protagonista do romance, e ela consegue isso numa sociedade patriarcalista, na qual a figura masculina era o centro de tudo. Os olhos de Capitu, a presença de Capitu, a forma como Capitu conquista os inimigos e os torna aliados...tudo isso torna a amada de Bentinho uma personagem marcante.
E o que dizer de Brás Cubas? O homem que, depois de morto, resolve contar a suas desventuras enquanto caminhava entre os vivos. A escolha da ocasião se deve a libertade que a morte garante, as palavras e fatos que poderiam ser narrados sem sofrer problemas com o julgo da sociedade que caminha neste mundo. Brás Cubas, como homem, é um produto do seu tempo; vive a burguesia e usufrui dela, tornando-se um homem com apenas um saldo positivo: não ter transmitido para ninguém, o legado da sua miséria.
Uma das figuras mais interessantes que povoam a obra de Machado de Assis é, sem dúvida, Quincas Borba. Mendigo, filósofo, louco, quem era Quincas Borba? Ele criou uma filosofia, aparecia de desaparecia da vida do amigo de infância Brás Cubas, deixou sua herança ao professor Rubião, (herança esta que incluía o cachorro que levava seu nome)...o professor Rubião é um dos poucos personagens de Machado de Assis que não vive de renda, mas, ao receber a fortuna de Quincas Borba, abandona tudo e vai para a Côrte, viver as alegrias da vida burguesa, alegrias estas que não poderia desfrutar na condição de trabalhador.
Sofia, a mulher cobiçada por Rubião, vive de acordo com os princípios da sociedade que Machado de Assis tanto critica. Ao notar o interesse do novo rico, Sofia e seu marido Cristiano visualizam uma bela forma de participar do desfrute daquele dinheiro vindo de forma tão inesperada. Sofia não se entrega para Rubião em nenhum momento, mas o mantêm preso na sua teia de sedução, até que não reste a ele mais nada, nem mesmo a sanidade. Quando o ex-professor está perdido nas ruas, transformando-se em motivo de riso para a mesma sociedade que antes o recebera de braços abertos, ele não serve mais para nada, deveria ser descartado, e assim aconteceu.
Temos também os gêmeos Pedro e Paulo, que brigavam ainda no ventre da sua mãe (assim como os personagens bíblicos Esaú e Jacó, que dão título ao romance), sendo opostos em tudo, menos no amor pela jovem Flora. Clichê? Não na obra de Machado de Assis, que construiu os personagens sem estereótipos de vilania ou heroísmo, sem a oposição do bem e do mal.
E o comandante Aires? Seria ele o próprio Machado de Assis transpondo-se para as páginas de um livro? Muitos afirmam que sim, pois o "Bruxo dos Cosme Velho", assim como Aires, observava o mundo, a sociedade e apresentava suas impressões e fazia isso com maestria.
Mas não são apenas nos romances que Machado de Assis foi mestre em criar personagens. Ele, como exímio contista, criou personagens interessantes e marcantes, como Simão Bacamarte, o médico alienista que descobria a loucura numa cidade inteira, percebendo depois que a loucura era toda sua.
Fortunato, personagem do conto "A causa secreta", procurava de todas as formas saciar seu desejo de ver e degustar o sofrimento alheio. As noites na cabeceira dos feridos e da prória esposa, a ajuda aos doentes, tudo era apenas um pretexto para saciar o seu sadismo, aliado ao masoquismo que o faz sentir um prazer imenso em ver o amigo beijando a sua esposa morta.
Temos também o Pestana, compositor de polcas populares que buscava a imortalidade dos grandes músicos clássicos. O pobre Pestana morreu vendo suas músicas serem cantadas por populares e esquecidas num breve espaço de tempo.
Na tradição de mulheres misteriosas de Machado de Assis, temos a Dona Conceição, de "Missa do galo". Estaria ela se insinuando para o jovem amigo da família ou era tudo produto da imaginação e da malícia daquele rapaz?
Voltando aos romances, temos a obra romântica de Machado de Assis, da qual saltam alguns personagens muito interessantes, que anunciavam a "era" realista que estava por vir na produção do escritor.
Félix, de "Ressurreição" é um deles. Com um coração sepultado há muito tempo, Félix acredita poder ressucitá-lo amando a viúva Lívia. Instável emocionalmente e preso ao ciúme (anunciava ou não um outro personagem de Machado de Assis que viria em "Dom Casmurro"?), Félix fracassa na tentativa de "Ressurreição" e acaba deixando-o sepultado mesmo.
Uma mulher muito interessante entre as "românticas" do escritor, é Helena, personaegem que dá título a um dos romances desta fase.
Mesmo sabendo-se não merecedora da forturna do suposto pai, o Conselheiro Vale, ela vai viver na casa do filho do Conselheiro e permite que todos acreditem nos seus laços sanguíneos com a Família Vale. Apaixonada pelo "irmão", Helena entrega-se à morte, já que se sente indigna do amor de Estácio por ter falhado com a verdade. Como muitas mulheres, Helena faz um julgamento feroz das suas atitudes e condena a si própria por elas.
Estes são apenas alguns dos personagens marcantes da obra do grande Machado de Assis. Pretender fazer uma análise monuciosa de todos os personagems criados com maestria por Machado de Assis seria uma audácia minha.