segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A Felicidade não se compra - Frank Capra




"A felicidade não se compra" é uma fábula natalina do italiano Frank Capra que sobreviveu ao passar dos anos e ao cinema moderno. Baseado no conceito do autor de que um único homem tem uma grande importância para o mundo, Capra apresenta a estória de um bom e generoso homem chamado George Bailey, interpretado pelo brilhante James Stewart. Na noite de Natal, George se vê cercado de dívidas que o levarão pra a cadeia e rsolve se suicidar. Como muitas pessoas que o amam rezam e pedem por ele, São José anuncia à Deus que ele precisa de ajuda e para isso, eles mandam à Terra um anjo de segunda classe, conhecido assim por ainda não possuir asas. O nome do anjo era Clarence e ele recebeu a promessa de ganhar finalmente as asas que esperava há duzentos anos, se conseguisse salvar a vida de george Bailey.
Deus conta para Clarence a estória de vida de George, desde sua infância quando salvou a vida do seu irmão Harry e por este ato heróico perdeu a audição de um dos ouvidos; até seu casamento com Mary, o nascimento de seus quatro filhos e sua luta para manter viva a firma pela qual seu pai tanto lutou. Através da firma, ele ajudou muitas pessoas pobres a construírem suas casas, formando um bairro na cidade e tirando od pobres do aluguel cobrado pelo homem mais poderoso da cidade: Mr. Potter.
Quando está para pular de uma ponte e se afogar, Clarence se joga em seu lugar, obrigando-o a salvá-lo. George diz á Clarence que o mundo seria melhor se ele não tivesse nascido e seu pedido é atendido, ele tem o direito de saber como seria o mundo e a vida das pessoas que ele conhecia caso ele não existisse.
Ele descobre que se não existisse, a vida de muitas pessoas seria alterada. Seu irmão teria morrido, sua esposa seria uma triste e amargurada solteirona, sua mãe seria um velha pensionista triste e a cidade seria domindada pelo poderoso Potter.
Quando volta a "existir" e vai até sua casa, ele descobre que todos os seus amigos resolveram ajudá-lo e suas dívidas estão pagas. george percebe que a verdadeira felicidade e a verdadeira riqueza não são os bens que juntamos, mas sim, os amigos que conquistamos.
Segundo Clarence, toda a vez que um sino toca é um anjo que ganha asas. george fica feliz quando percebe o pequeno sino da árvore de Natal tocando, pois sabe que seu anjo da guarda acabava de ganhar suas tão desejadas asas.
É uma bela fábula que encanta todas as gerações desde que foi lançada no ano de 1946.

domingo, 30 de agosto de 2009

Pássaros Feridos - Colleen McCullough



O romance da australiana Colleen McCullough foi lançado no ano de 1977 e na década de 80 ficou popular devido a uma adaptação para a TV. A adaptação obteve grande sucesso, e atingiu grandes índices de audiência.
O enredo é a estória de uma vida triste, a vida de Meggie Cleary. Acompanhamos a pequena Meggie desde a sua infãncia na Nova Zelândia, quando ela vivia as atribulações de frequentar um escola que só lhe trazia sofrimento. Os pais de Meggie, Paddy e Fiona Cleary, vivem uma situação a parte. A mãe era uma rica herdeira, que por se envolver com um homem casado e ter um filho dele, é obrigada a se casar com um pobre imigrante irlandês empregado da sua casa. fiona sempre amou o filho que teve com seu grande amor mais do que os outros esua indiferença para com a vida e a família deixaram marcas na personalidade dos filhos.
Ao mudarem-se para a Austrália, para cuidar da fazenda Drogheda da irmã de Paddy, a vida da família sofre várias mudanças. Eles conhecem o jovem padre irlandês Ralph de Bricassart , que desde o início, desenvolve uma relação de profunda amizade com Meggie, que agora conta com dez anos de idade.
A família Cleary é cercada por tragédias: A morte do pai e de um dos irmãos num incêndio na fazenda, a fuga do irmão mais velho quando descobre não ser filho legítimo de Paddy...Meggie se sente só e procura refúgio nos braços do Padre Ralph, que a repele e vai morar no Vaticano, tendo como missão cuidar dos bens da tia de Meggie que falecera.
Meggie resolve se casar com um trabalhador da fazenda, chamado Luke; um homem rústico que desde o início deixa claro não ter muitos sentimentos pela esposa. Ela é levada pelo marido ao outro lado do país, e enquanto o marido trabalho no corte de cana, ela é obrigada a trabalhar numa casa de família.
A situação fica cada vez mais difícil para ela. Quando Meggie engravida, Luke não recebe a notícia muito bem e fica totalmente ausente durante os nove meses de gestação. Depois de um parto complicado, ela dá a luz a Justine. os patrões resolvem dar a Meggie uma viagem à uma ilha paradisíaca para que ela se restebeleça dos sofrimentos que passou, e nesta ilha, ela recebe a visita do então Bispo Ralph de Bricassart. Nos dias que passam juntos, eles consumam o amor que a muito tempo sentiam, mas a jovem se decepciona ao perceber que Ralph não pretende abandonar a vida religiosa por ela.
Depois da separação, Meggie percebe que está grávida e desta vez, o filho é do seu grande amor. Ela decide separar-se do marido, que por sua vez acredita que o filho que ela espera é dele. Voltando a Drogheda, ela dá a luz à Dane, um menino bonito como o pai, que logo conseguiu consquistar o coração da mãe sem deixar muito espaço para a pequena Justine.
Os anos passam e os amantes não se reencontram. Justine agora é uma moça a frente do seu tempo, cheia de conceitos próprios e amor pelo irmão. Dane se torna um jovem atlético e bonito, de uma bondade expressiva. Depois de uma nova visita do Padre Ralph (agora já marcado pelo tempo), o jovem resolve abraçar a religião e se ordenar padre. Meggie não se conforma, era como se Deus lhe tirasse além do seu grande amor, seu filho mais querido.
Dane vai para o seminário e Justine viaja para Londres, para trabalhar como atriz de teatro. Lá, ela conhece o alemão Rainer, que se torna seu melhor amigo na cidade.
Com a ordenação de Dane, Rainer se declara apaixonado por Justine, mas a jovem não estava acostumada a ser amada e repele o pretendente. Quando resolve aceitá-lo, uma tragédia acontece: seu irmão recém-formado padre vai até a Grécia para uma viagem de férias. Ao tentar salvar uma jovem, ele acaba morrendo e isto deixa Justine com muito remorso por não ter viajado com ele para ficar com Rainer.
Meggie sente necessidade de contar a verdade sobre a paternidade ao padre Ralph, para que ele a ajude a transportar o corpo de Dane da Grécia para Drogheda.
A emoção é muito forte e Ralph não suporta. Ele falece no dia do enterro do filho.
Meggie, depois de todo o sofrimento, descobre que agiu errado amando um filho mais do que outro e procura aconselhar Justine a aceitar o amor de Rainer. Em todo o romance, é a única estória de amor que tem um desfecho feliz.
O desfecho de Meggie é melancólico. Sem o homem e o filho que tanto amava, ela se torna uma matriarca de Drogheda e entende que não pode culpar ninguém por suas próprias escolhas.
Colleen McCullough escreveu seu romance baseado numa lenda acerca de um pássaro Celta:

"Existe uma lenda acerca de um pássaro que canta uma vez na vida, com mais suavidade que qualquer outra criatura sobre a Terra. A partir do momento em que deixa o ninho, começa a procurar um espinheiro-alvar e só descansa quando o encontra. Depois, contando entre os galhos, selvagens, empala-se no acúleo mais agudo e mais comprido. E, morrendo, sublima a própria agonia e despende um canto mais belo que o da cotovia e o do rouxinol. Um canto superlativo, cujo preço é a existência. Mas o mundo inteiro para para ouvi-lo, e Deus sorri no céu. Pois o melhor só se adquire à custa de um grande sofrimento...Pelo menos é o que diz a lenda."


quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Antes de Amar-te... (Pablo Neruda)


Pablo Neruda teve sua imagem muito popularizada pelo belíssimo filme italiano "O Carteiro e o Poeta". Este filme conta um período da vida de Pablo, no qual foi exilado do Chile, seu país natal, por suas ideias e apoio comunistas. Ele foi viver numa ilha italiana, habitada por pobres pescadores. Ao ficar amigo de um carteiro, Dom Pablo planta no coração do jovem a semente poética e o pobre carteiro pede que o poeta famoso o ajude a consquistar sua amada Beatrice através da poesia.

Uma estória sensível, que coloca a poesia muito próxima de todos.

Embora Pablo Neruda tenha ficado famoso por este episódio, no qual suas ideias políticas comunistas se destacaram, ele era também conhecido como "O poeta das mulheres", por escrever poemas sentimentais, cheios de amor e simplicidade.


Antes de Amar-te... (Pablo Neruda)

Antes de amar-te, amor, nada era meu

Vacilei pelas ruas e as coisas:

Nada contava nem tinha nome:

O mundo era do ar que esperava.

E conheci salões cinzentos,

Túneis habitados pela lua,

Hangares cruéis que se despediam,

Perguntas que insistiam na areia.

Tudo estava vazio, morto e mudo,

Caído, abandonado e decaído,

Tudo era inalienavelmente alheio,

Tudo era dos outros e de ninguém,

Até que tua beleza e tua pobreza

De dádivas encheram o outono.


Neste poema, por exemplo, Dom Pablo declara à amada toda a importância que ela tem em sua vida. Antes de conhecê-la, ele andou por aí, sem rumo, nada o atraía, nada possuía a paixão que ele tanto esperava. Andou por caminhos obscuros, caminhos que não lhe traziam respostas. Uma grande curiosidade são os versos "Até que tua beleza e tua pobreza De dádivas encheram o outono".

A amada não era perfeita como as mulheres do romantismo e esta é a diferença entre um poema de amor romântico e um poema de amor moderno...a beleza está junto com a pobreza, não são paradoxos, são semelhantes.

O Outono é a estação que precede o inverno, estação que desnuda as árvores e prepara as pessoas para o frio futuro. Neste poema, o Outono simboliza a época em que ele finalmente encontrou seu caminho. O amor verdadeiro chgou em sua vida numa idade mais madura, não na juventude.

Pablo Neruda conseguiu no Chile uma popularidade que nós brasileiros devíamos dar aos nossos ícones da Literatura.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

'O Sol É para Todos' é livro essencial, diz pesquisa


O livro "O Sol É para Todos", escrito pela americana Harper Lee, foi escolhido na Grã-Bretanha como a obra que todo mundo deve ler antes de morrer.O livro, lançado em 1960, conta a história de um homem negro que é injustamente acusado de estupro de uma garota branca e foi levado para o cinema dois anos depois em um filme de grande sucesso estrelado por Gregory Peck.
Jean Louise Finch relembra relembra um episódio da sua infância, quando o pai, um repeitado advogado sulista chamado Atticus Finch, aceita defender um jovem negro chamado Tom Robinson, acusado de estrupar uma moça branca, chamada Mayella Violet Ewell.
Entre as brincadeiras e aventuras infantis com seu irmão Jem, Jean Louise mostra todo o preconceito que eles sofreram pela escolha escolha do pai.
Tom Robinson era inocente e o advogado sabia disto. ele sabia também, das mínimas chances que o jovem tinha de ser absolvido, pois, a sociedade sulista norte-americana estava impregnada de conceitos preconceituosos e nunca permitiria isso.
Mayella cometeu um erro imperdoável para tal sociedade. Ela tentou seduzir o jovem negro chamando-o até sua casa e portanto, o júri o condenou, apesar da sua inocência.
A integridade do advogado fez com que ele se tornasse um personagem muito simpático aos leitores e aos que assistiram o filme, no qual ele é interpretado pelo ator Gregory Peck. Numa eleição recente, o personagem foi eleito o maior "mocinho" da história do cinema.
"O Sol é para Todos" não é um romance clichê sobre o preconceito sulista norte-americano, é um romance que não levanta bandeiras, apenas apresenta a situação e deixa aos leitores a missão de julgar. Dependendo dos conceitos de cada um, a leitura pode causar comoção, revolta, simpatia...mas, com certeza é um romance que não passa despercebido.

Júlio Verne


Júlio Verne nasceu em Nantes, França, em 1828. Era de uma família rica que contava com navegadores e armadores. Em 1839, comprou o engajamento de um grumete num navio de longo percurso que partia para a Índia. Resgatado em Paimboeuf pelo pai, confessou desejar trazer para sua prima, calorine Tronson, um colar de coral. Severamente repreendido, prometeu:"De hoje em diante, só viajarei em sonhos."
Escritor francês mais traduzido no mundo, Júlio Verne escreveu oitenta romances, publicou grandes obras de divulgação e quinze peças de teatro. Sua fama é antiga, pois data de 1863-1865, quando foram publicados "Cinco semanas num balão", "Viagem ao centro da Terra", "Da Terra à Lua", seus três primeiros romances.
Escreveu ainda clássicos como "A volta ao mundo em 80 dias" e "A Jangada" e "Vinte mil léguas submarinas".
Num século de gênios como Balzac, Dickens, Tolstoi...Júlio Verne surgiu um pouco à margem, como um artesão da ficção, um mago com encantamentos inesgotáveis e, de certa maneira, como um vidente capaz de imaginar, muito antes, as mais incríveis conquistas da ciência.
Morreu no ano de 1905, em Amiens, França.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O Conde de Monte Cristo - Alexandre Dumas Pai



Quem nunca assistiu uma novela de TV na qual o protagonista é vítima da inveja, o vilão rouba tudo que ele tem de bom na vida, ele é condenado injustamente e volta anos depois para vingar-se dos opressores? Este estereótipo foi criado no romance "O Conde de Monte Cristo" do romancista francês Alexandre Dumas Pai (não confundir com Dumas Filho, autor de "A Dama das Camélias).
Edmond Dantes é um pobre marinheiro que só tem por bens o amor da bela Mercedes Iguanada e do seu pai.
Um acontecimento vem estragar a felicidade do jovem. Em 1814 Napoleão Bonaparte, o imperador francês, foi exilado na Ilha de Elba, na costa da Itália. Temendo que viessem resgatá-lo, seus captores britânicos atiravam contra qualquer um que surgisse na praia, por mais inocente ou aflito que fosse. Por precisarem de socorro médico, pois o capitão do navio mercante Pharaon contraíra meningite, é exatamente neste lugar que Edmond Dantes , o 2º imediato, juntamente com o melhor amigo de Dantes, Fernand Mondego ,representante do dono do navio, resolvem aportar. Isto inicia um pequeno combate, que só termina quando Napoleão garante que os desconhecidos não eram agentes dele. Quando a situação se acalma, Napoleão pede para Edmond entregar uma carta pessoal para um amigo dele. Napoleão garante que não há nada de mais na carta, então Dantes concorda. Ao chegarem em Marselha Morell , o dono da companhia de navegação, quer saber o que houve, então chama Danglars ,o 1º imediato juntamente com Dantes, que assume a responsabilidade. A determinação e a coragem de Edmond agradam Morell, que o nomeia o novo capitão do Pharaon, o que deixa Danglars muito irritado. Dantes, feliz com a promoção, vai correndo contar a boa nova para Mercedes Iguanada, sua noiva, com quem pensa em se casar num futuro próximo.
Danglars e Fernando, o "melhor amigo" de Dantes, armam para que ele seja preso por traição, por ter entregue a carta de Napoleão. Ele é madado imediatamente para o Castelo d'If, no qual recebe constantes surras e torturas. No castelo, ele conhece o Abade Faria, que ao morrer, lhe entrega um mapa de uma ilha chamada Monte Cristo, na qual ele teria enterrado um tesouro. Quando o corpo do Abade morto vai ser levado para fora do castelo, Dantes se coloca no lugar do do falecido e consegue escapar da prisão, após vários anos de sofrimento naquele lugar. Dantes vai até a ilha e encontra o tesouro, tornando-se muito rico e adotando o o título de "Conde de Monte Cristo".
Voltando para sua terra, descobre que Mercedes de casou com Fernando e seu pai havia morrido de fome algum tempo depois da sua prisão. Edmond consegue vingar-se de todos os seus inimigos, mas, os românticos têm uma desagradável surpresa. Ao contrário do que todos esperam, Edmond Dantes não retoma seu romance com seu amor do passado, Mercedes, que agora está viúva, já que seu marido suicidou-se. Ele termina o romance viajando de barco para outras terras, junto de sua criada que agora tornara-se seua esposa.
Um desfecho pouco romântico para um folhetim totalmente romanesco. Na época em que foi escrito, os romances eram publicados nos jornais, um capítulo por dia, lançando no coração dos leitores a curiosidade e a ansiedade em saber logo o que aconteceria com os cativantes personagens.
Dumas Pai tornou-se especialista em romances de aventura, escrevendo também "Os Irmãos Corsos" e o mais popularar de seus livros "Os Três Mosqueteiros".


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Literatura de massa...mercado literário?

Frequentemente temos notícias de lançamentos de livros de alguns autores não muito bem vistos pela crítica. A obra torna o criador milionério, por vezes famoso...só não consegue colocá-lo como grande escritor oas olhos da crítica especializada.
Professores de Literatura são muito questionados quanto a isso: "Qual é a sua opinião sobre estes romances?" "Será que ao invés de ler Machado de Assis não posso ler Sidney Sheldon?"
São algumas das questões propostas.
Na verdade, estes romance "Best-sellers" são muito eficientes no período de formação do leitor. Um adolescente que odeia ler, um adulto que nunca leu um romance ou um poema em sua vida, vai gostar de ler os romances cheios de intrigas de Sidney Sheldon, as açúcaradas estórias de Danielle Steel e Nora Roberts, os famosos romances de Paulo Coelho.
O leitor não pode, poré, acostumar-se a ler apenas este tipo de romance. Aos poucos, ele tem que acrescentar ao seu "menu" livros mais elaborados, de autores clássicos...é um processo lento, que pode começar com contos, poemas mais simples, romances mais curtos, até chegar em obras intensas de autores apaixonantes como Machado de Assis, Charles Dickens, Jane Austen, Irmãs Brontë, entre tantos outros.
Digamos que a Literatura de massa seja um "degrau" (não no sentido pejorativo) para a construção do prazer em ler em pessoas que têm dificuldades para isso.
Todos têm o direito de conhecer coisas novas. Na Literatura não é diferente.

Dom Casmurro e São Bernardo (Comparação)

Duas mulheres vítimas de maridos ciumentos. Dois romances que estão entre os mais populares e enigmáticos da Literatura brasileira. De fato, “Dom Casmurro” e “São Bernardo” têm pontos em comum, que podem ser comparados para uma melhor compreensão das obras. Os dois maridos são muitos diferentes; Bentinho é um jovem frágil e dependente, enquanto Paulo Honório é um homem rude, marcado por uma vida difícil e que não mediu forças nem teve escrúpulos para conquistar a fazenda São Bernardo. Bentinho era um filho da sua época, um burguês que vivia de renda e era mimado pela mãe viúva, vivendo cercado de empregados e com tempo livre para se apaixonar pela vizinha sedutora. Paulo Honório era árido com a sua terra. Seco como os campos nordestinos castigados pela estiagem freqüente, que o faziam parte da paisagem dura e sofrida.O ciúme dos dois é guiado por diferentes motivos. Bentinho achava que a esposa o traia com seu melhor amigo, mesmo depois de lutar contra todos para viver o grande amor que nutriam um pelo outro desde a infância. Era mais do que uma traição de esposos. Era uma traição aos sonhos da infância, a pureza de um amor que só se concretizou a custa de muita luta e perseverança. Por outro lado, Paulo Honório possuía por sua esposa um ciúme carnal. Ele tinha medo de que Madalena se deitasse com outros homens e o humilhasse perante os empregados e outras pessoas que ele considerava valerem tanto quanto “bichos”. A obsessão, porém, era igual. No seu desespero Bentinho acreditava que a traição era uma verdade absoluta e começava a analisar situações do passado de forma diferente, sob o olhar da desconfiança. Paulo Honório olha para cada um dos seus empregados e imagina se sua esposa já teria dormido com eles. Cada um da sua forma, os dois castigaram suas esposas pelas supostas traições. Bantinho impõe o exílio à Capitu e a seu filho, embora para muitos, o exílio na Europa não seja um castigo digno de pena. O rude Paulo Honório, por sua vez, impõe uma tortura moral à Madalena, que a leva ao desespero e enfim, ao suicídio. De qualquer forma, os dois conseguiram impor suas vontades e seus castigos, sendo juízes e utilizando seus próprios conceitos para julgar suas esposas.
Capitu e Madalena, a primeira vista, são mulheres muito distintas entre si. A primeira é descrita desde o início, pelo marido, como sedutora, com seus olhos de cigana, sua força e seu comportamento a frente da sociedade em que vivia. Madalena é frágil, uma professorinha de cidade do interior. Mas, as duas têm algo em comum. São mulheres que lutam pelo que querem e procuram satisfazer suas vontades e impor seus conceitos, mesmo em sociedades machistas e opressoras como o Brasil do século XIX ou o interior nordestino de meados do século XX. Capitu sabe bem que não é desejada como esposa de Bentinho, já que o jovem está prometido ao seminário e a vida clerical por sua mãe. Ele percebe muitos opositores, como o empregado José Dias, por exemplo. Ela entende que precisa agir de alguma forma e usa o método da sedução para conseguir com que todos que se opunham ao seu romance, sejam vencidos e fiquem ao seu lado. Bentinho mesmo admite que Capitu fosse o lado forte da relação, pois ele era um chorão e muito mais frágil do que ela. Em nenhum momento durante as acusações, Bentinho permite que Capitu se defenda e isso cria uma das maiores dúvidas, senão a maior, da Literatura Brasileira. Teria Capitu traído ou não o marido? Ora, ele estava transtornado pelos ciúmes, era um homem fraco e enxergava as situações da forma que lhe apetecia. Por ouro lado, algumas situações foram criadas especificamente para causar a dúvida: Capitu queixando-se de dor de cabeça para não ir ao teatro com o marido e este flagrando Escobar no corredor de casa é uma destas situações. Com o passar do tempo e as suspeitas aumentando, Bento passa a enxergar esta situação com outros olhos.As suspeitas, na verdade, não são o ponto principal do romance. O ponto principal são os personagens e situações criados por Machado de Assis. Capitu, por exemplo, é uma das personagens mais intrigantes da Literatura mundial e seus olhos de cigana oblíquos e dissimulados fizeram a sociedade machista do século XIX sentisse atraída a acreditar numa possível adultera e rejeitar as opiniões de um marido possivelmente traído. Madalena é uma mulher de aparência frágil, diferente daquilo que Paulo Honório imaginava para mãe do seu herdeiro. Mas, ela é também uma mulher que luta pelo que quer, procura impor-se ao marido, impor seus conceitos de solidariedade e no início da relação, tem esperanças de mudar o pensamento machista e nada fraterno de Paulo Honório. Com o passar do tempo, Madalena percebe que para o marido, ela era apenas uma reprodutora que lhe deu o que tanto desejava: um herdeiro para as terras de São Bernardo. Sentindo-se oprimida pela obsessão ciumenta do companheiro, ela suicida-se, num ato parecido com o de outras protagonistas que se viram sem saída. Em primeiro lugar, o leitor deve notar que as duas mulheres agem na estória e dão forma ao texto dos autores. Capitu se destaca como protagonista, deixando para seu marido ciumento e solitário, o lugar de segundo protagonista. Madalena, por sua vez, é uma personagem interessante, que se contrapõe a personalidade dura e pouco simpática do marido. Duas estórias escritas em épocas diferentes, mas que conduzem o leitor a reflexão sobre as relações humanas problemáticas, relações estas que os classificam até hoje como clássicos da Literatura Brasileira.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O perfil da mulher na Literatura

As mulheres já foram vistas na Literatura como intocáveis anjos de beleza inatingível, puras como os querubins no céu. Tocá-las seria um erro que colocaria abaixo o mundo de ilusões do apaixonado cavalheiro. As mulheres românticas eram assim. As Carolinas, Cecílias, Amálias de José de Alencar são perfeitas física e espirutualmente. Mas, este mesmo José de Alencar criou uma certa Aurélia que para vingar-se do homem que a desprezou, comprou um marido e o humilhou perante a sociedade. Ele também criou Lúcia, que antes era Maria da Glória, mas mudou o nome para fingir-se de morta e viver no mundo da prostituição. Teve ainda uma Emília que era uma mulher a frente do seu tempo e das colegas casadoras do século XIX.
Eram as protagonistas que compunham os perfis da mulher, que José de Alencar traçara em romances de transição, que apresentavam situações levemente realistas, mas não se desprendiam dos desfechos românticos. Estas três mulheres eram sempre vencidas ao final pelo amor.
Já no Realismo, as mulheres eram bem mais "espevitadas" do que as românticas. Como exemplo, temos as mulheres dos romances de Machado de Assis, começando pela mais famosa, Capitu. Uma mulher forte e decidida, que seduzia todos que não simpatizavam com seu jeito e que fez uma sociedade machista preferí-la ao marido possivelmente traído. Virgília também é sedutora, prefere ter um romance com Brás Cubas quando tudo é proibido: ela está casada e tem um filho. Sofia, por sua vez, sabe bem o que quer e mesmo não traindo o marido com Rubião, deixa o apaixonado "cozinhando" até o momento em que consegue atingir seu objetivo, que é tirar do novo rico grande parte da sua fortuna.
Temos ainda tantos exemplos possíveis, como a fútil e adúltera Emma Bovary, a também adúltera Luiza que não resiste ao charme cafajeste do primo Basílio...
O perfil das mulheres, assim como o perfil da Literatura em geral, muda conforme os interesses e as transformações sofridas pela sociedade. As românticas e angelicais moças do Romantismo eram o estereótipo do que a burguesia pretendia ser mas, nem sempre conseguia.
Durante o Realismo os tempos eram outros. A sociedade burguesa já estava estabelecida e surgiam críticos dela. Os realistas retratavam em sua personagens uma coletividade e não situações e características individuais. Por isso, Gustave Flaubert, ao ser questionado em seu julgamento por imoralidade, sobre quem era Madame Bovary, deu a seguinte resposta: "Madame Bovary sou eu".
Emma Bovary era um retrato da sociedade francesa da época. A futilidade e os sentimentos efêmeros da jovem senhora eram características da toda a França que se distanciava cada vez mais dos preceitos de "Igualdade, Liberdade e Fraternidade" que formaram o eixo de sustentação da Revolução Francesa.
Assim caminha a Literatura até os dias atuais, fazendo uso das nossas características femininas para criticar, convencer, atrair e seduzir a sociedade.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O Coração Denunciador - Edgar Allan Poe




Edgar Allan Poe é sem dúvidas, o mestre do horror. Seus contos trazem um terror impregnado na personalidade dos personagens, diferentemente dos primeiros escritores do gênero, que colocavam pessoas normais em lugares perturbantes, Poe coloca pessoas perturbadas em lugares normais.
E desta forma, Poe desenvolve o conto "O coração denunciador". Narrado em primeira pessoa, desde o início o leitor nota a mente perturbada do protagonista, que encarregado de cuidar de um idoso, não consegue suportar os olhos azuis do velho e decide matá-lo por isso.
Algumas tentativas de assassinato são frustradas, até que numa noite, ao olhar o velho dormindo pela fresta da porta, o cuidador não tem coragem de matá-lo, até que a vítima tem a infelicidade de abrir um pouco os olhos para ver quem estava no seu quarto. Como os olhos eram objeto de ódio do cuidador, ele cria forças para cometer o assassinato, retalhar o corpo e enterrá-lo abaixo do piso da sala de estar.
Sem o mínimo sinal de remorso, ele vê os dias passarem tranquilos, por não ter mais em sua presença os olhos que tanto o inquietavam.
Como nada é perfeito, os vizinhos dão por falta do velho e a polícia é acionada. Ao chegarem à casa, o jovem cuidador os leva à revista de todos os cantos da habitação e como não encontram nada, acreditam na história que ele lhes conta: o velho teria viajado por algum tempo.
A situação já estava resolvida, mas os policiais resolvem sentar-se na sala de estar, e o cuidador coloca seu assento em cima do local onde enterrou o velho com seus inquietantes e perturbadores olhos azuis. Enquanto conversavam, ele começou a escutar um coração bater naquele local e logo percebeu que era o coração do velho querendo denunciá-lo. Com a agonia aumentando cada vez mais, o jovem cuidador não suporta e entrega o crime à polícia.
Era o coração denunciador do velho que voltava a bater para angustiá-lo.
Este conto é representante do horror psicológico que Poe soube cultivar melhor que ninguém no século XIX. Com apenas dois personagens importantes, o autor consegue desenvolver uma estória tensa que leva o leitor a sofrer junto do protagonista a angústia de escutar um coração querendo denunciá-lo, de não suportar o olhar do velho, que mesmo sem dizer uma palavra, carrega uma carga dramática sobre si.
No início da narração, o protagonista tenta amenizar sua situação e convercer o leitor de que é apenas "nervoso" e não um louco. Fica a cargo de cada um julgá-lo conforme seus preceitos de loucura ou sanidade.


terça-feira, 11 de agosto de 2009

Quimeras

QUIMERAS
Num meio dia de sol de primavera vi você chegar
Abandonei a Diana, as aljavas e flechas que haviam dentro de mim,
trazia nos olhos a imensidão desconhecida do mar
E mergulhei na aventura oceânica de amar
Amar sem limites, porque o limite é o cálice
E vi o despenhadeiro ocre da montanha antes do ápice
Calar-se quando há tantas coisas ainda não ditas
Bordados por fazer, flores do campo não vistas
E tinha a sua imagem exuberante à beira do mar
As vestes brancas e a mão pura, titânica
E nos olhos uma ilusória profundeza oceânica
E o sabor inconstante das marés
Nessa imensidão de templos seres que havia em ti
Perdi-me em labirintos e não me reconheço
Perdi-me nas ondas, perdi-me em mim
(MARIA MIGUEL)

sábado, 8 de agosto de 2009

A Tua Voz

A Tua Voz

Tua voz ecoa suave...
Trazendo um gosto acri- doce de saudade,
reacendendo sonhos perdidos sob o orvalho,
numa doce e molhada relva de outono.
A tua voz
me envolve em sedas vermelhas,
faíscam fantasias, trepidam fagulhas – centelhas
como acordes triunfais de Mozart
soberanos, depois de um exílio de silêncio contido.
Essa tua voz de água corrente
Roubou-me o silêncio esquecido,
Que dormia em cascatas seculares
trancado, imerso no mais profundo sonho dormente.Aqui neste escolhido vazio
desperta o sol, que descortina para a vida
e desperta minha face inerte de frio
Desenha nos meus olhos,
o brilho febril desta chama quente,
e acende a flama apagada, deste meu coração que sente.
Maria Aparecida Miguel

SONETO DA SAUDADE

SONETO DA SAUDADE


ENQUANTO FOGUETES VIVOS AO LONGE SUBIAM...
NA NOITE LONGA E FRIA DE SÃO JOÃO,
DOIS LÁBIOS CÁLIDOS EXIBIAM
SORRISOS IMERSOS DE PAIXÃO

CESSOU-SE O TEMPO DOS AMANTES...
ADORMECEM EM CHAMAS FRIAS FANTASIAS,
AS NOITES ESPERAM DORMENTES A CHEGADA DOS DIAS:
SÃO RESQUÍCIOS DO ÉRAMOS ANTES...

PASSARAM-SE OS FOGOS E TODAS AS FESTAS,
CAMINHO TORTUOSO EM PASSO LENTO,
SILENCIOSAS NOITES, CALADAS...ORQUESTRAS

TREMULAM...PALAVRAS MUDAS, RESSEQUIDAS,
FLÂMULA DE ESPERANÇAS, MURCHAS...ESQUECIDAS
SONHOS DESFEITOS, ESFACELADOS...AO VENTO
Maria Aparecida Miguel

Poemas maravilhosos...

A partir de hoje eu vou usar este espaço para postar, além de textos com resenhas e críticas e afins, alguns poemas de uma autora que eu admiro muito: Maria Aparecida Miguel, professora doutora da UEMP de Cornélio Procópio. Ela foi minha professora e eu admiro muito a sua paixão por literatura; aí vai um deles:

INVERNO
Manhã de inverno...
Cada tique taque do relógio
Acompanha compassado
Meu esmaecido coração
Quisera ouvir sua voz de primavera
E ver tapetes de flores na calçada
E os muros solenes todos enfeitados de hera.

Te amo...
E esse amor me tornou assim
Meu coração misto de lágrima e carmim
E no meu peito de inverno
No sal das minhas lágrimas
O presságio do fim
Daquilo que idealizei que seria eterno
Bebo cálice de Dante
Este absinto de inferno

Quisera sentir teu corpo de Eros
E nossos corpos cansados depois de um ritual profano
Mas o que ouço é esse insistente relógio
Que anuncia que estás perdido pra mim
E no fundo do meu coração de Hera
Tão doído e eternamente este relógio reverbera...

BRASIL - UM PAÍS DE GRANDES REFORMAS ( A "época" de Lima Barreto)

Dois acontecimentos decisivos aconteceram no panorama da vida política e social do país, quando Lima Barreto mal entrava para a escola primária: a abolição da escravatura (1888) e a Proclamação da Independência (1889).
Da abolição uma recordação indelével, é que, precisamente no dia em que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, Lima Barreto completava sete anos de idade, e como presente de aniversário seu pai o levou ao Largo do Paço, para assistir aos festejos comemorativos.
Recordando, mais tarde a imagem da princesa, que naquele dia tinha vindo a janela para saudar o povo, loura, muito loura, maternal com um olhar doce e apiedade, Lima Barreto fala da missa no campo de São Cristóvão, das comemorações e do clima de festa que perdurou por vários dias, era como se o Brasil tivesse sido descoberto outra vez. Houve barulho de bandas de música, de bombas, indispensável ao nosso regozijo, e houve também préstitos cívicos. Construíram-se estrados para bailes populares, houve desfile de batalhões escolares e eu me lembro que vi a princesa imperial, na porta da atual prefeitura, cercada de filhos assistindo aquela fileira de numerosos soldados a desfilar pela cidade. Devia ser tarde ao anoitecer.
A proclamação da República no ano seguinte diluiria esse clima eufórico de confraternização social, fazendo com que a adolescência do futuro escritor coexistisse com o duro período de legalização do regime, inaugurado com o golpe militar encabeçado por Deodoro da Fonseca.
As lutas e dissidências que se seguem com a instalação da Assembléia Nacional Constituinte, de 15 de novembro de 1891, abrem uma série de conflitos políticos que trariam a insegurança para a nação, num quadro que se agrava quando Deodoro da Fonseca, ameaçado pelo Congresso, decide fecha-lo em 1891.
Vamos saber um pouco sobre os governos daquela época, as medidas ditatoriais então postas em prática, tais como o estado de sítio e a censura aos jornais, acarretam reações legalistas nos estados, particularmente em São Paulo, num momento em que Floriano Peixoto com o apoio do exército e da marinha, é levado ao poder para restaurar a ordem constitucional.
Começam então a ganhar forças grupos de poder cuja influência ideológica a obra de Lima Barreto tantas vezes repudiava, os segmentos militares autoritários e as minorias oligárquicas dos estados.
O próprio Floriano, que se propunha a governar, com a Constituição, ao adotar uma política de intervenção nos estados, por meio de alianças com grupos locais, aprofunda as dimensões. O país mergulha assim num ciclo de rebeliões que explodem tanto nos estados como na capital da República, particularmente depois de sua morte em 1895. são desse tempo a Revolução Federalista, de Gumercindo Saraiva no Rio Grande do Sul, a Revolta Armada, no Rio de Janeiro, a invasão de Santa Catarina e do Paraná pelos revoltosos, as manifestações jacobinistas da escola militar da praia vermelha, em repúdio a Prudente de Moraes, e a repressão desfreada aos monarquistas depois do fracasso da expedição Moreira Cezar a Canudos, tomada como pretenso foco de um levante restaurador.
O governo difícil de Prudente de Moraes (1894 – 1898), devido, sobretudo a permanência da máquina burocrática e política nas mãos dos aliados de Floriano, traria o acirramento na luta pelo poder do estado, a insatisfação militar e a crescente agitação das massas nos grandes centros urbanos. Tudo isso agravado por uma inflação que, a partir da crise do café atingia índices inesperados.
Ao seu sucessor Campo Sales (1898 – 1902) estaria reservada a tarefa de controlar os jacobinistas e os oligarcas, mediante ao apoio que através da política dos governadores, passou a receber dos estados influentes. O equilíbrio das finanças, obtido nesse período, permitirá ao próximo presidente, Rodrigues Alves (1902 – 1906), sanear e embelezar o Rio de Janeiro, reconstruindo a cidade, erradicando a febre amarela, e abrindo uma fase de prosperidade econômica.
Por essa época, Lima Barreto entra para a escola politécnica e começa a colaborar na imprensa. Pode assim testemunhar esse curto momento de progresso na história da Primeira República, reclamando sempre, um espaço maior para as classes oprimidas.
Os presidentes vão se sucedendo, a morte de Afonso Pena, o rápido mandato de Nilo Peçanha e a vitória nas eleições do Marechal Hermes da Fonseca sobre Rui Barbosa, aparecem na obra circunstancial do jornalista, de maneira bastante desfavorável. É que a partir de Hermes, a política das salvações nacionais como que rejuvenescia os velhos grupos dominantes, ou seja, substituía a velha oligarquia por novos governos de tendência também oligárquica, sem destruir o pacto com os militares.
A tentativa de intervenção em São Paulo e o fracasso das campanhas civilísticas consagram o elitismo autoritário do projeto político hegemônico, deixando a nação a mercê dos latifundiários, da burguesia arrivista e da finança internacional.
Os resultados não tardariam e o inicio da derrocada econômica, no governo de Venceslau Brás (1914 – 1918), vem em forma de desemprego, de greves, de reivindicações dos direitos políticos, tornando mais calamitosa ainda a convivência com as injunções da Primeira Guerra, então em curso.
É nesse clima que transcorrem os últimos cinco anos de vida do escritor, anos de participação política e social intensa, principalmente durante o governo seguinte, de Epitácio Pessoa (1919 – 1922), quando se radicalizam as manifestações operárias e a crise econômica se alastra para a maioria dos estados.
A ascensão da burguesia industrial, a aliança com os profissionais liberais, o peso político do exército davam sustentação a um bloco dominante cada vez mais incomodado pela rebelião do proletariado urbano, pela imigração em massa dos trabalhadores europeus e pelas reformas inadiáveis que o país estava a exigir.
Desse quadro, emerge um grupo de ideologias em conflito, sendo possível identificar, uma visão do mundo estática quando não saudosista, uma ideologia liberal com traços anarcóides, um complexo mental pequeno-burguês, da classe média oscilante entre o puro ressentimento e o reformismo, e uma atitude revolucionária.
Lima Barreto viveu nessa época conturbada da política e isso influenciou muito a sua obra, que vista assim em confronto com a época, resulta numa espécie de combinatória irreverente de cada uma dessas tendências. Formando-se num momento que a “BÉLLE ÉPOQUE”, dos boêmios e dos cafés. É uma obra que se constrói entre dois mundos: o mundo tradicionalista agrário, saudosista e reformador e o mundo do novo século, seduzido pela vanguarda e pelo irracionalismo, fecundado pelo dadaísmo e pelo cubismo, pela psicanálise e pelo relativismo de Einstein, pela Revolução Russa, anarquismo espanhol e sindicalismo fascista.
Nesse novo espaço, ao mesmo tempo em que as conquistas materiais do homem ( o cinematógrafo, o automóvel, o avião, o telefone), desvinculam a criação literária dos temas tradicionais que até o Simbolismo alimentavam o ideal artístico de vida, a participação intelectual do escritor se amplia. A crônica e o depoimento vão aos poucos ganhando uma importância que não tinham, na medida em que representam uma forma direta de convivência e de participação nas contradições da nova realidade.
Paralelamente, acirra-se o confronto entre os ideais estéticos e os ideais políticos, uma nova literatura de fermentação social e de redescobrimento interno do país viria substituir o regionalismo convencional do passado.
A sedução pelas vanguardas leva ao repúdio da Academia, pondo em xeque o eletismo do intelectual isolado, que até então se legitimava no mesmo espaço em que o coronel Arcaide, em nome da ordem e da justiça, decidia sobre o destino das comunidades internas de cidadãos.
Por outro lado, essa ânsia de modernidade, atinge o universo ideológico da burguesia urbana em ascensão, ocasionando um momento de libertação intelectual nas elites, responsável pelo consumismo elegante que alimentará a necessidade de figurar nas rodas sociais e de sustentar a moda a partir, sobretudo, da banalidade e do excesso das classes ociosas.
Elaborada nos limites de contexto, a obra de Lima Barreto nos revela de um lado, o autor em que se chocam frente a frente, a visão do novo e a permanência do velho, e de outro, o intelectual que trás consigo a voz do inconformismo apontado para uma ruptura com a tradição, através de atitudes claramente favoráveis à renovação que viria a partir de 1922, com a Semana de Arte Moderna.
A sua posição sempre favorável a liberdade do escritor e a necessidade de aproximá-lo das camadas marginalizadas repercutiu incessantemente no surgimento de uma literatura de contestação, apropriada ao novo clima social que caracterizava no começo do século, os grandes aglomerados urbanos.
Mais ainda, paralela a essa rebeldia ante-eletista, a tentativa de formular teoricamente uma literatura social e politicamente militante, voltada para a urgência do cotidiano em mudança, e ao mesmo tempo inspirada na redenção do homem oprimido, transforma a sua obra numa das contribuições intelectuais mais importantes nas letras brasileiras deste século.
Com ele de fato, a preocupação com a linguagem e a contestação dos critérios que consagram perante a tradição acadêmica produziram resultados decisivos. Roteirizando a própria retórica, utilizando a linguagem como espelho que se volta com o próprio sistema, Lima Barreto inaugura o desgaste dos velhos modelos e antecipa uma resistência significativa na transição para o Modernismo.

Encarnação - José de Alencar


A segunda esposa é um tema interessante e recorrente. O amor além da vida de um viúvo que não consegue desvencilhar-se da imagem perfeita da primeira esposa, levada cedo de seus olhos. Ao contrair segundas núpcias, dificuldades surgem, como o remorso, o sentimento de culpa e a sensação de que está traindo seu primeiro e verdadeiro amor. O romance de José de Alencar trás uma estória de amor assim. Publicado postumamente, no ano de 1877, o romance conta a trajetória de Hermano, que vive com sua esposa Julieta numa casa ao lado da mansão da família da pequena Amália. Julieta deixa a entender que para ela o amor não acaba com a morte, portanto, quando ela morre durante a primeira gravidez, Hermano isola-se do mundo e se transforma num homem triste e solitário. Os anos passam e Amélia torna-se uma mulher bonita e prendada. Ao vê-la tocando ao piano a música preferida da amada Julieta, Hermano decide pedi-la em casamento. Amélia reluta em aceitar, pois, ao ver Hermano em companhia duma dama no quarto da esposa morta, acredita que ele não é fiel ao amor antigo. Ela percebe que está muito apaixonada por ele e é vencida, entregando-se ao casamento com o vizinho misterioso. Sem consumar o matrimônio, Amélia percebe que foi um grande erro, pois, Hermano vive preso à imagem de Julieta e não conseguia amá-la da forma como ela o amava. Ele decide então, pôr fim a sua vida, para deixar Amália livre e não estragar a vida da jovem mantendo-a presa a uma relação sem futuro. Amália decide entrar escondida no antigo quarto de Julieta e tem uma grande surpresa ao notar duas estátuas em posições diferentes da falecida Julieta. A suposta amante que ela acreditava ter visto antes de casar-se, era na verdade uma estátua, fruto da obsessão do marido por um amor que ele idealizara em Julieta. Decidida a salvar Hermano da loucura e construir uma vida feliz ao lado dele, a jovem descobre os planos do marido de suicidar-se durante um baile ao qual eles compareceriam. Ao notar que o marido saiu da festa sem ela, Amália vai até sua casa e percebe que Hermano a incendiou. Com muita coragem e determinação, ela consegue salvá-lo não apenas do incêndio, mas também, da obsessão por Julieta. O desfecho do romance é tipicamente romântico: cinco anos depois do fatídico acontecimento, Amália e Hermano voltam com a pequena filha até o local e percebem que ele está totalmente curado e entregue ao amor da segunda esposa. O título do romance “Encarnação” deixa muitos leitores à espera de uma estória baseada no espiritualismo e no sobrenatural, mas José de Alencar descarta de inicia a possibilidade da reencarnação, já que quando Julieta morre, Amália já é nascida. O autor prefere fixar o romance em torno da questão sentimental e psicológica, por isso utiliza a promessa de fidelidade além da vida de Hermano para com a esposa, a sua necessidade de manter a imagem da falecida na casa, com a construção das estátuas e costumes estranhos, como manter um prato à mesa destinado a ela. A encarnação é na verdade uma procura de Hermano em encontrar o amor perfeito e idealizado, primeiramente em Julieta e depois em Amália que para ele poderia ser uma nova face do sentimento que ele tanto procurava.