domingo, 11 de março de 2012

Dor de amor...

Em qualquer tempo ou escola literária se sofre por amor. São súplicas para que a pessoa amada volte, lembranças dos bons momentos, e tantas outras coisas que, colocadas num poema, conto, romance, tornam poética a triste situação.
Para começar, este soneto de Olavo Bilac:

Maldição

Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
_ Hoje, velha e cansada da amargura,
Minha alma se abrirá como um vulcão.

E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...

Maldita sejas pelo ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!

Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!..

Depois de vinte anos de silêncio, a explosão de sentimentos acontece de uma forma atormentada, eu imagino este homem dizendo tudo isso à mulher que o fez sofrer. Com certeza a situação não ficaria nada tranquila.
Outro que também gritou sua dor foi o grande poeta Castro Alves:

4a SOMBRA - FABÍOLA

Como teu riso dói... como na treva
Os lêmures respondem no infinito:
Tens o aspecto do pássaro maldito,
Que em sânie de cadáveres se ceva!

Filha da noite! A ventania leva
Um soluço de amor pungente, aflito...
Fabíola!... É teu nome!... Escuta é um grito,
Que lacerante para os céus s'eleva!...

E tu folgas, Bacante dos amores,
E a orgia que a mantilha te arregaça,
Enche a noite de horror, de mais horrores...

É sangue, que referve-te na taça!
É sangue, que borrifa-te estas flores!
E este sangue é meu sangue... é meu... Desgraça!


Ver a mulher que o fez sofrer divertir-se sem nenhuj sentimento de culpa enquanto ele ainda sofria as dores do amor perdido, foi um golpe duro demais para ele. O poeta utiliza esta mesma temática no poema "Adeus", que mereceu até mesmo uma resposta da referida amada Eugênia Câmara.
E quando a falta se faz por meio dos detalhes da vida em comum? É o caso deste texto de Dalton Trevisan:

Apelo

Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.

Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.

Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.

Sem amor a casa fica vazia e, pequenos detalhes, antes ignorados, agora fazem uma tremenda falta e parece que não pode existir vida longe disso. Definitivamente, o que seria da cultura sem o amor?