quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

E para finalizar este ano...Receita de Ano Novo



Receita de Ano Novo
Para você ganhar belíssimo Ano Novo

cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,

Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido

(mal vivido ou talvez sem sentido)

para você ganhar um ano

não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,

mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,

novo

até no coração das coisas menos percebidas

(a começar pelo seu interior)

novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,

mas com ele se come, se passeia,

se ama, se compreende, se trabalha,

você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,

não precisa expedir nem receber mensagens

(planta recebe mensagens?

passa telegramas?).

Não precisa fazer lista de boas intenções

para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar de arrependido

pelas besteiras consumadas

nem parvamente acreditar

que por decreto da esperança

a partir de janeiro as coisas mudem

e seja tudo claridade, recompensa,

justiça entre os homens e as nações,

liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,

direitos respeitados, começando

pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um ano-novo

que mereça este nome,

você, meu caro, tem de merecê-lo,

tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,

mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo

cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade

Poema de "Dezembro" - Carlos Drummond de Andrade



Quem me acode à cabeça e

ao coração

neste fim de ano, entre

alegria e dor?

Que sonho, que mistério,

que oração?

Amor.
(Dezembro de 1985)


Só o amor constrói um ano feliz, uma vida feliz...

Poema de "Dezembro" - Carlos Drummond de Andrade



Procuro uma alegria

uma mala vazia

do final de ano

e eis que tenho na mão

- flor do cotidiano -

é vôo de um pássaro

é uma canção.
(Dezembro de 1968)



Agradeço a todos que visitaram meu blog e o utilizaram da melhor forma possível, ajudando a popularizar a Literatura pelo Brasil...que 2010 venha e traga muitas alegrias!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Missa do Galo - Machado de Assis


No conto de Machado de Assis, um homem relembra um episódio confuso e misterioso do seu passado.Contando dezassete anos, eloe ficou hospedado na noite de Natal na casa no escrivão Meneses, casado pela primeira vez com uma falecida prima do jovem hóspede.
Meneses contraiu segundas núpcias com Conceição, que contava trinta anos quando hospedou o jovem. Conceição era chamada de "Santa" e seu comportamento era mesmo de um ser superior, pois, suportava os esquecimentos e traições do marido resignadamente.
Naquela noite de Natal, Sr. Nogueira (era este o nome do protagonista) resolveu ir à missa do galo da Corte e como a família toda deitasse cedo (menos o escrivão Meneses que havia ido ao tetaro, um eufemismo para seus encontros com sua recente amante), resolveu ler um pouco, o romance escolhido foi "Os Três Mosqueteiros" de Alexandre Dumas.
Conceição surge na sala onde Nogueira esperava, de chinelos e roupão branco...ela sentou-se ao lado do jovem e começaram a conversar sobre romance e outros temas...durante esta conversa, Machado de Assis utiliza toda a sutileza possível para descrever os sentimentos do jovem de dezessete anos que não conseguia decifrar ao certo se as atitudes da senhora respeitável para com ele eram de sedução ou pura imaginação sua.
Cada olhar, cada gesto, cada mudança de posição fazia com que o coração do jovem adolescente ficasse dividido, pensando se era ou não um jogo de sedução proposto por Conceição. Durante a missa, a imagem da bela senhora esteve em vários momentos entre Nogueira e o Padre e na manhã seguinte, os gestos de Conceição eram os mais naturais possíveis, não lembrando em nada, a mulher misteriosa da noite de Natal.
Um acontecimento como este marcou a vida daquele jovem, mesmo que não houvesse acontecido nada de concreto...nenhum beijo, nenhum toque. A espera do rapaz para assistir a Missa do Galo, divide o conto entre o profano e o sagrado...a espera do sagrado, o jovem conhece pela primeira vez os sentimentos profanos, esta é uma característica realista da obra. Machado de Assis utiliza a sensualidade de forma sutil, subjetiva. Ele foi um severo crítico da forma como o português Eça de Queirós utilizava a sensualidade de forma clara e objetiva nos seus romances.
Com certeza, este conto é mais uma obra-prima da obra do mestre Machado de Assis.




Soneto de Natal - Machado de Assis


Soneto de Natal


Um homem, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço no Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,


Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.


Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.


E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"



O espírito natalino que muda com o passar do tempo e com a revoluções da sociedade já foi tema de conto de Charles Dickens e não escapou da inspiração do mestre Machado de Assis. Neste soneto extraído do livro "Poesias Completas - Ocidentais", 1901, pág. s/nº, o Velho Bruxo apresenta um homem perplexo com a falta de inspiração ao tentar compôr alguns versos natalinos...surge a questão: "Mudaria o Natal ou mudei eu?"...afinal de contas, nós transformamos o Natal em uma data comercial e materialista e perdemos o sentido cristão antigo.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Separados por um Muro

Este é um trabalho de dois alunos do terceiro ano da turma B do período noturno do Colégio Estadual Adelaide Glaser Ross, situado na cidade de Nova Fátima. Eu leciono Língua Portuguesa neste colégio e por ocasião das comemorações de 20 anos da queda do muro de Berlim, apresentei uma proposta de narrativa: um texto no qual os personagens seriam amantes e estariam separados pelo muro.
Este texto merece destaque e por isso resolvi postá-lo. Os autores são Luiz Carlos e Marcos Vinicios.
Separados por um muro.
Os policiais corriam atrás de nós, no começo achávamos graça, coisa de adolescente.
Eu sei que era eu que deveria estar no lugar dela.
Estávamos SEPA
RADOS
por longos c i n c o anos.
As lembranças e a esperança de nos reencontrarmos alimentava essa nossa amizade. Amizade?
As noites em que passávamos juntos em meu apartamento, as conversas, os filmes, adorávamos Alfred Hitchcock.
Meus pensamentos voavam do outro lado do muro, queriam saber se ela estava bem, se sentia saudade de mim, de nós.
Seria o destino, ou o destino é apenas uma desculpa tola para não fazer absolutamente nada como o nosso futuro?
Quando anunciaram os noticiários:
QUEDA DO MURO DE BERLIM.
Eu estava decidido à ir atrás dela. Eu poderia não tê-la perdido?
Começava a minha procura pelos confins desse mundo ex-dividido por uma ideologia política.
Luiz Carlos
Marcos Vinicios

sábado, 5 de dezembro de 2009

Os teus olhos - Ferreira Gullar

Os teus olhos

O céu azul, não era
Dessa cor, antigamente;
Era branco como um lírio,
Ou como estrela cadente.

Um dia, fez Deus uns olhos
Tão azuis como esses teus,
Que olharam admirados
A taça branca dos céus.

Quando sentiu esse olhar:
“Que doçura, que primor!”
Disse o céu, e ciumento,
Tornou-se da mesma cor!


Pode parecer simples, mas este poema é uma Ode ao amor imaculado, que vê a beleza presente nos olhos do amante, que acredita que o céu, gigante infinito celeste, tem esta bela cor porque invejou o azul dos olhos amantes.Um poema contemporâneo que remete a um romantismo lírico.

A carta que não foi mandada - Vinícius de Moraes


A carta que não foi mandada


Paris, outono de 73

Estou no nosso bar mais uma vez

E escrevo pra dizer

Que é a mesma taça e a mesma luz

Brilhando no champanhe em vários tons azuis

No espelho em frente eu sou mais um freguês

Um homem que já foi feliz, talvez

E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor

Saudades, certamente, de algum grande amor



Mas ao vê-lo assim tão triste e só

Sou eu que estou chorando

Lágrimas iguais

E, a vida é assim, o tempo passa

E fica relembrando

Canções do amor demais

Sim, será mais um, mais um qualquer

Que vem de vez em quando

E olha para trás

É, existe sempre uma mulher

Pra se ficar pensando

Nem sei... nem lembro mais



Há poemas que são muito visuais. Quem lê este poema do Poetinha, com tema sentimental, não pode livrar-se da imagem do homem sentado num bar em Paris pensando na amada...o leitor começa então, a imaginar detalhes daquela estória de amor mal sucedida. Porque eles estão separados? Seria um fator político, histórico ou social? Uma guerra por exemplo. A guerra que separa amantes e destrói sonhos de amor construídos durante seu decorrer...ou a separação seria por culpa de uma fraqueza de um dos lados? Um adultério numa noite qualquer, uma palavra mal dita, um ciúme antigo...seria um desgaste natural da relação? Disso Vinícius de Moraes entendia muito bem, já que é sabido por todos os inúmeros casamentos e as inúmeras mulheres que passaram pela vida do poeta.
A imaginação do leitor viaja por uma imagem criada neste poema que parece simples, mas apresenta uma estória de amor escondida naquela cena...precisamente no outono de 73. O outono é a estação na qual as folhas caem, a beleza trazida pelas flores da primavera se foi e isso é uma simbologia aos dias felizes que precederam aquela situação pela qual o amante está passando: sozinho num bar, recordando o passado, pensando numa mulher que não está presente. Um homem que não reconhece mais a sua imagem em frente ao espelho.
O poetinha cria a imagem do apaixonado desiludido, bebendo e tentando esquecer a decepção amorosa.


A dimensão política da Literatura Comparada Latino-Americana em sua relação com as literaturas dos “centros” culturais.

Os primeiros teóricos da Literatura Comparada acreditavam que existia uma fonte de onde todas as outras Literaturas tiravam a sua inspiração. Sendo assim, a fonte seria a Europa, com sua cultura antiga e sua Literatura já consagrada. A Literatura Latino-Americana, na sua condição colonial, seria uma imitação do que já foi feito nos países europeus.
Com o passar do tempo, outras teorias apareceram, entre elas a de que as obras do presente poderiam ser a fonte de obras do passado, já que as comparando percebemos características nas obras antigas que não havíamos percebido antes, sem as novas leituras.
Pegando como exemplo a Literatura brasileira, percebemos que em alguns momentos, Romantismo, por exemplo, houve uma tentativa de nacionalização da Literatura, devido a fatos históricos criou-se um horror ao que era proveniente de Portugal. Sendo assim, procurou-se fazer uma Literatura que exaltava as belezas brasileiras, mas para isto, usavam-se os modelos europeus.
Com o Modernismo, a idéia do Antropofagismo veio à tona e propôs-se que nós usurpássemos aquilo de bom que existia na Literatura européia, acabando desta forma, com a idéia de que a Literatura Brasileira por ser atual, era mera cópia da Portuguesa e das outras grandes Literaturas européias.