sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Para os saudosistas


No fim de ano muitas pessoas refletem sobre o passado, tudo que aconteceu durante este ano que termina, tudo que pode mudar no próximo...muitos pensam com tristeza nas mudanças que ocorreram na vida; as festas que não são mais as mesmas, nas pessoas que se foram e deixaram saudade.
Muitos pensam na infância, tempo que, para muitos, é digno de saudades.


Meus oito anos

Oh ! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh ! dias da minha infância!
Oh ! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

(...)

Oh ! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!


O belo, doce e meigo poeta romântico Casimiro de Abreu, expressa este sentimento saudosista neste que é um dos poemas mais populares da Literatura Brasileira. Dentro dos moldes românticos, temos a idealização desta fase da vida que pode ser muito boa ou muito traumática para nossa história. A simbologia da AURORA como começo, alvorecer de tudo, tempo de viver levemente, sem preocupações, torna o poema uma ODE a este tempo chamado INFÂNCIA. Idealização é o que não falta, Casimiro usa e abuso desta característica típica do Romantismo...temos uma natureza perfieta que proporciona muitos prazeres, laranjais, bananeiras...é neste meio puro que o menino vive os melhores momentos da sua vida. Quando a alma ainda conserva a inocência primitiva do ser humano a vida tem mais magia e a imaginação é um ponto a favor da concretização da felicidade, pois o mar não é bravio, é um lago sereno; o mundo não tem problemas, diferenças e tristezas, ele é um sonho dourado; a vida é um hino d'amor, é a perfeição. Não há preonceito ou malícia, convenções sociais...podemos andar com os pés descalços, os braços nus. A presença familiar também é muito importante, os beijos e carícias da ma~e e da irmã são primordiais para uma criança feliz. A liberdade, outro trunfo dos românticos, faz com que o menino de oito anos viva em comunhão com a natureza, sendo um livre filho das montanhas, correndo atrás das borboletas. A criança não é uma inimiga, é uma aliada dos animais e colabora para que a fauna e a flora vivam em harmonia. Outra característica romântica que não esca a de Casimiro de Abreu é a religiosidade e o compromisso da criança com seus deveres. Embora passe os dias brincando e fazendo pequenas travessuras ( colhendo frutos das árvores), ele não se esquece de rezar a AVE-MARIA e cumprir seus deveres cristãos, pois assim ele pode adormecer sorrindo e e despertar cantando. O desfecho do poema não deixa de mostrar certo tom pessimista, pois o poeta deixa claro que estes bons tempos vividos são parte do passado e não voltam mais, já que pertencem a infância e não podem existir na idade adulta, quando a realidade da vida invade a mente humana e faz com que ela relembre com saudade dos tempos idos. Mas seria mesmo a infância o melhor tempo da vida? É interessante viver lembrando as belezas do passado? Questões como estas estão presentes em muitos leitores do nosso tempo.; mas elas não tinham importância para Casimiro, que colocou em "Meus oito anos" a sua definição de felicidade.




sábado, 25 de dezembro de 2010

Quando se perde um grande amor...

A morte da mulher amada já foi tema de muitos romances, contos, músicas...na poesia não poderia ser diferente. Os anos dourados do Classicismo português tiveram como grande representante o grande poeta Luís Vaz de Camões, exímio no uso da língua portuguesa e também na arte de contruir versos marcantes. Num dos seus sonetos mais famosos ele cria a imagem do apaixonado que sente a perda da mulher amada para a morte:



Alma minha gentil, que te partiste
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

O inconformismo do amante e da amada com a separação são muito claros, pois ela partiu cedo e descontente, vivendo eternamente no céu e deixando um homem triste aqui na Terra, também por toda a eternidade. Camões conversa com a amada sobre a vida após a morte, grande mistério para quem fica. Ele pede que, se for permitido a ela lembrar-se do grande amor que deixou aqui, e se a dor desta mágoa puder ter fim sendo o amado merecedor desta dádiva, que rogue a Deus para que o leve cedo também, para que possa vê-la, já que ela lhe fora tirado tão cedo. Uma visão espiritual e inconformista do tema.

Já nos anos em que o Parnasianismo fez morada em terras brasileiras (saudoso do Classicismo), Olavo Bilac, o Príncipe dos Poetas, utilizou versos da "Divina Comédia" como título de um belo soneto:



Nel Mezzo Del Cammin

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

O eu-lírico, primeiramente, conta a estória do encontro...eles chegaram um para o outro já tristes, fadigados pela longa caminhada, mas com sonhos na alma. Nesta estrada da vida, eles pararam subitamente e uniram suas vidas, prenderam uma a outra. A partir da terceira estrofe ele fala da nova partida, desta vez apenas ela partirá, seguindo de novo sem lágrimas, sem se comover com a dor da despedida. Frieza? Não. ela partiu na extrema curva, no caminho extremo, partiu para a morte, enquanto ele ficaria solitário, vendo seu vulto desaparecer. Diferente do poema de Camões, aqui não existe uma vontade clara de partir também, mas sim um olhar extático do amante em ver sua amada partindo agora para um caminho sem volta, deixando-o eternamente só.

Quando Carolina Xavier, esposa e companheira de Machado de Assis partiu desta vida, o marido lhe dedicou um belo poema que resumia a vida do casal e o sentimento de perda irreparável do que invadia o coração do escritor.


A CAROLINA

QUERIDA, AO PÉ DO LEITO DERRADEIRO
EM QUE DESCANSAS DESSA LONGA VIDA.
AQUI VENHO E VIREI, POBRE QUERIDA,
TRAZER-TE O CORAÇÃO DO COMPANHEIRO.

PULSA-LHE AQUELE AFETO VERDADEIRO
QUE A DESPEITO DE TODA A HUMANA LIDA,
FEZ A NOSSA EXISTÊNCIA APETECIDA
E NUM RECANTO PÔS UM MUNDO INTEIRO.

TRAGO-LHE FLORES, RECANTOS ARRANCADOS
DA TERRA QUE NOS VIU PASSAR UNIDOS
E ORA MORTOS NOS DEIXA SEPARADOS.

QUE EU, SE TENHO NOS OLHOS MAL FERIDOS
PENSAMENTOS DE VIDA FORMULADOS,
SÃO PENSAMENTOS IDOS E VIVIDOS.

O soneto machadiano não tem em si o mesmo inconformismo, ou o olhar extático dos anteriores, é uma constatação de que, depois da partida da grande companheira, não resta mais nada a ele, já que seus pensamentos são idos, são vividos. Talvez isso se deva ao fato de Machado compreender que sua vida logo vai encerrar-se e que Carolina havia cumprido sua missão de esposa, amiga, grande apoio da sua vida.

Perder uma pessoa amada não é fácil para nenhum ser humano, pois espiritualizados ou não, é difícil aceitar que não temos mais a presença física do amor ao nosso lado. Em qualquer período literário e histórico, homens e mulheres choraram através da Literatura a impotência do homem perante a morte que, cedo ou tarde, separa amantes fisicamente, deixando vivo o sentimento que é eterno.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Romantismo - em busca da sociedade perfeita


Se a Revolução francesa deu novos rumos para a organização social do mundo, não poderia deixar de influenciar o pensamento ocidental. Uma nova classe conquistava o poder, os nobres perdiam suas cabeças e seus tronos e os burgueses eram os novos dominantes. Se antes a Arte era produzida apenas para um público restrito, agora precisaria ganhar ares mais comerciais e populares, precisaria alcançar pessoas a quem a educação fora negada por muito tempo. As grandes epopéias perdiam lugar e surgia o ROMANCE, forma de escrita mais acessível e coerente com os novos tempos. Publicado em folhetins, o romance deixava o leitor na expectativa de um novo capítulo, com novas aventuras ou tramas amorosas. Os jornais tinham uma grande tiragem e isso produzia lucro, era o pensamento capitalista que invadia a Literatura.
"Liberdade, Igualdade e Fraternidade" era os lema da Revolução e guiava os heróis do "novo mundo" que surgia.
A Burguesia precisava se firmar e, por isso, surgiu um estilo de arte que servia a esta classe: o Romantismo. Na literatura, muitos críticos afirmam que o Romantismo é o movimento feito PELA Burguesia PARA a Burguesia. Era preciso mostrar que a sociedade agora estava perfeita, os pilares dela estavam bem assentados e nunca se romperiam. A família, a religião cristã, o amor...eram idealizados em enredos feitos sob medida para serem lidos nos saraus pelas moças apaixonadas e pelos cavalheiros de boa índole. As poesias privilegiavam uma linguagem extremamente sentimental, sem preocupar-se com a Forma, visando a liberdade neste sentido.
O sentimentalismo exagerado, a idealização, o subjetivismo, individualismo, muitas vezes a ingenuidade, eram marcas do novo estilo que surgia.
Muitos romances eram escritos seguindo uma fórmula: dividir o mundo entre BEM e MAL. Se havia o mal, precisava haver um heroi. Como nasceu no continente europeu, o heroi do Romantismo no velho mundo era o cavalheiro medieval, que servia a religião e ao amor acima de tudo, lutando pela pátria e pela mulher amada sem medo, coberto por uma coragem inumana.
Como no Brasil não tivemos a Idade Média e os cavalheiros de armadura, o escolhido para heroi foi o índio, que de tão idealizado, diversas vezes parecia mais um europeu preso ao corpo de um selvagem das Américas. Peri e I-Juca Pirama não me deixam mentir.
Depois vieram os pessimistas, o pensamento deprimido que levava jovens a verem na morte a única saída para a impotência que temos diante do mundo e seus males. Lord Byron foi um grande nome e influenciou poetas do mundo inteiro, entre eles, nossos brasileiros Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu.
A mulher era um anjo intocável, uma dozela pura de corpo e alma e perfeita nos dois extremos. O amor bastava por si próprio e muitos amantes poderiam viver e se alimentar apenas de uma imagem, de uma lembrança, sem necessidade da presença física. Claro que a distância causava sofrimento e este sentimento era cantado de uma forma muito intensa na obra do sofredor.
Depois vieram os tempos mais amenos, nos quais os amores já não precisavam estar distantes e o amor carnal já era cantado pelos cavalheiros sem que eles perdessem a honra. Foi numa época em que o Romantismo voltou-se verdadeiramente para o conceito de liberdade e os românticos não fechavam mais os olhos para a relidade a sua volta. Seriam anúncios de uma nova estética que surgiria no final do século XIX? O certo é que o francês Victor Hugo foi um dos principais escritores a difundir a ideia da liberdade que era representada pelo CONDOR, pássaro que voa livre pela Cordilheira dos Andes e representa como ninguém o que é ser livre. No Brasil, temos figuras ilustres desta época, como o baiano Castro Alves, que na poesia uma forma de gritar a revolta contra o sistema escravocrata em nosso país. As condições de transporte dos africanos através do navio negreiro, a saudade da terra natal, o choro da Mãe Africa pelos seus filhos levados, foram alguns dos temas utilizados pelo poeta e dramaturgo na sua obra abolicionista.
Embora tenha sido (e ainda seja) muito criticado pelas estéticas literárias posteriores, o Romantismo tem grande valor por marcar o início de uma nova Era na Literatura, que acompanhava o pensamento e a filosofia dos novos sistemas finaceiros e sociais que surgiam. Grandes obras se tornaram clássicos e, por isso, tornaram-se atemporais, sendo contempladas com admiradores até nossos dias, pois não podemos afirmar um fim cronológico para o movimento, já que ele continua vivo e vai se perpetuar na História, embora a sociedade se volte cada vez mais para o materialismo e o objetivismo.



domingo, 28 de novembro de 2010

Contos de amor rasgados - Marina Colasanti


Neste livro Marina Colasanti faz uma interessante incurssão pelo tema AMOR, aliando a inteligência se seus ensaios à criatividade ficicional que possui.
O livro possui uma feminilidade que extravasa as meras aparências do senso comum, apresentando minicontos, pequenas fábulas, ou mesmo poemas em prosa com os quais o leitor se identifica desde o início da leitura, seja ele homem ou mulher.
Percebemos as pequenas alegrias e tragédias que movem esta aventura incrível que é a vida e isso se dá através de enredos que vão além daquilo que podemos compreender.
O livro guarda em comum com as demais obras da escritora a comunicação direta e a linguagem emotiva, que faz com que o leitor encontre a poesia nas diversas situações narradas em cada linha escrita por Marina Colasanti.



Deixo aqui um dos meus minicontos preferidos:



Amor de longo alcance
Durante anos, separados pelo destino, amaram-se a distância. Sem que um soubesse o paradeiro do outro, procuravam-se através dos continentes, cruzavam pontes e oceanos, vasculhavam vielas, indagavam. Bússola da longa busca, levavam a lembrança de um rosto sempre mutante, em que o desejo, incessantemente, redesenhava.
Já quase nada havia em comum entre aqueles rostos e a realidade, quando enfim, numa praça se encontraram. Juntos, podiam agora viver a vida com que sempre haviam sonhado.
Porém cedo descobriram que a força do seu passado amor era insuperável. Depois de tantos anos de afastamento, não podiam viver senão separados, apaixonadamente desejando-se. E, entre risos e lágrimas, despediram-se, indo morar em cidades distantes.



É muito bela esta visão de que o amor basta por si próprio e não precisa estar perto da pessoa amada para continuar vivo. Mas então qual seria a razão da longa busca? Pode ser a emoção de viver a procura da emoção passada, das coisas boas vividas juntos, de um rosto sempre mutante que se redesenhava quando o tempo queria apagá-lo da memória. Como se fosse uma felicidade clandestina, os dois se procuram levando apenas as lembranças, nada de concreto. Quando se descobrem, percebem que a força do passado era insuperável e nada faria com que os belos tempos voltassem da forma como eram. Seria melhor então ir viver em cidades distantes. Desfecho triste? Depende da visão que o leitor tiver, pois os dois escolheram partir, já que não precisavam estar pertos, pois o amor era de longo alcance. Não é fácil entender esta escolha, parece improvável para uma sociedade objetiva como a nossa que alguém consiga viver sem uma presença física, sem ter a "coisa" amada por perto. Não foi fácil assim para os dois amantes, eles se despediram entre risos e lágrimas, mas perceberam que, no grande livro da vida, poderiam ler as melhores páginas unidos pelo sentimento, apenas isso bastaria.





sábado, 20 de novembro de 2010

Pai contra Mãe - Machado de Assis


Um pai e uma mãe. Dois dramas eminentes e uma única saída: ter compaixão ou cumprir um objetivo para seu próprio benefício. Cândido Neves, caçador de escrados fugitivos, precisa encontrar uma forma de permanecer com o filho, pois não tem dinheiro para manter o menino. Desesperado, sai com ele nos braços rumo a roda dos enjeitados. No caminho para o fatal destino, uma esperança começa a brilhar: uma escrava fugitiva poderia lhe trazer dinheiro suficiente para salvar o filho do abandono.
Ao deparar-se com a pobre escrava grávida implorando-lhe a compaixão, pois não quer ser cativa novamente e ver o filho ter o mesmo destino que a atormenta, Cândido Neves tem em sua frente um dilema muito íntimo, pois ele também é pai e, assim como aquela escrava, luta pelo filho. Na luta do pai branco contra a mãe negra o primeiro acaba vencendo e, quando a mãe aborta o bebê devido aos maltratos que recebera na captura e nos castigos, Cândido encontra uma forma típicamente machadiana de aliviar a consciência: "Nem todas as crianças vingam". Ora, o pequeno escravo poderia nascer morto de qualquer forma, ou morrer ainda bebê por consequência da situação precária na qual seria inserido.
Cândido precisa acreditar nesta "verdade" que encontrou, ele precisa voltar para a casa e viver em paz com o filho e a esposa. Nada mais conveniente.
Machado de Assis apresenta neste conto aspectos da miséria existente no Rio de Janeiro do período imperial, que contrapõe-se a riqueza e ostentação dos senhores de escravos. Logo no início, descreve formas de torturas utilizadas pelos escravocratas para manter os cativos submissos. Na descrição, nenhuma crítica clara, apenas a apresentação de objetos e situações que, por si próprios, chocam o leitor dos nossos tempos e o deixa consternado. E o leitor daquela época? Seria o filho do escravocrata leitor do conto "Pai contra Mãe"? E se fosse, sentiria vergonha pelos métodos crueis utilizados por seus pais? Saberiam que cada grão do café cultivado em suas terras foi regado com o sangue dos homens que vieram da África para alimentar o sistema monárquico brasileiro?
Não sendo Machado de Assis um homem de manifestações públicas e gritantes, teve ele a pena como forma de expressar sua indignação diante de uma situação opressora e desumana como a escravidão.
Poderíamos comparar sua luta com a do poeta Castro Alves? Não sei, cada um tem seus próprios méritos, Machado com sua ironia fina e sarcástica e Castro Alves com o ardor do abolicionismo em cada verso de cada poesia voltada à libertação dos escravos.
Neste dia 20 de novembro, no qual lembramos a luta de muitos homens e mulheres pela igualdade entre raças em solo brasileiro, temos que aprender com os escritores que usaram da palavra a maior arma para construir um país justo e humano, por isso deixaram grandes obras que vivem eternamente e podem servir para qualquer tempo, seja na explícita segregação do século XIX ou na velada forma de excluir dos nossos tempos.
Desta forma, damos continuidade a luta do líder Zumbi dos Palmares e de tantos outros que deram a vida pela causa da liberdade e da construção de uma sociedade que valoriza o ser humano pelo seu caráter e pelas sua boas ações, não pela cor da sua pele.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Manuel Bandeira



Nascido no Recife em 19 de abril de 1886, Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho tinha como pais o engenheiro civil Manuel Carneiro de Souza e Francelina Ribeiro de Souza Bandeira. Quando Manuel tinha apenas quatro anos a família se mudou para o Rio de Janeiro, depois para São Paulo, para enfim, retornar ao Rio. No ano de 1892 a família Bandeira voltou para o Recife, onde o futuro poeta fez seus estudos primários.
Continuando os estudos, Manuel Bandeira bacharelou-se em Letras e, em 1903, matriculou-se na Escola Politécnica de São Paulo para fazer o curso de engenheiro-arquiteto. Nas férias do primeiro para o segundo ano ele adoeceu e teve que abandonar definitivamente os estudos. Durante seu tratamento de saúdo fez estações de cura em vários lugares do Brasil, como Minas Gerais, no Estado do Rio de Janeiro, Ceará, e por fim, viajou para a Suíça, onde permaneceu entre os anos de 1913 e 1914, tendo como companheiro de sanatório o poeta Paul Éluard. Regressando ao Rio de Janeiro, lançou em 1917 seu primeiro livro de poemas "A Cinza das Horas" . Em 1918 conhece Ribeiro Couto e, por meio deste, os escritores paulistas que em 1922 lançam o movimento modernista. A partir de 1925 começa a escrever para a imprensa, colaborando em várias revistas e jornais.
Trabalhou também em cargos ligados a educação e cultura do país, em 1935 foi nomeado inspetor de ensino secundário; em 1938, professor de Literatura Universal no Externato do Colégio Pedro II, em 1942, professor de Literaturas hispano-americanas na Faculdade Nacional de Filosofia, sendo aposentado por lei especial do Congresso em 1956. Desde o ano de 1938, Manuel Bandeira era membro do Conselho Consultivo do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Em 1940 é eleito membro da Academia Brasileira de Letras, e em 1942 membro da Sociedade Felipe d'Oliveira.
Manuel Bandeira recebeu vários prêmios por sua obra, entre eles o prêmio da Sociedade Felipe d'Oliveira em 1937 pelo conjunto da obra e o prêmio de poesia do Instituto Brasileiro de Educação e Cultura em 1940, também pelo conjunto da obra.
Sua posição na poesia brasileira é das mais importantes, sendo um dos pioneiros do Modernismo e o principal introdutor do movimento. Mário de Andrade o definiu como "o São João Batista do Modernismo".
O escritor faleceu no dia 13 de outubro de 1968 na cidade do Rio de Janeiro.
Algumas obras do autor:


Poesia:- A Cinza das Horas - Jornal do Comércio - Rio de Janeiro, 1917 (Edição do Autor)
- Carnaval - Rio de janeiro,1919 (Edição do Autor)
- Poesias (acrescida de O Ritmo Dissoluto) - Rio de Janeiro, 1924
- Libertinagem - Rio de Janeiro, 1930 (Edição do Autor)
- Estrela da Manhã - Rio de Janeiro, 1936 (Edição do Autor)
- Poesias Escolhidas - Rio de Janeiro, 1937
- Poesias Completas acrescida de Lira dos cinqüent'anos) - Rio de Janeiro, 1940 (Edição do Autor)
- Poemas Traduzidos - Rio de Janeiro, 1945
- Mafuá do Malungo - Barcelona, 1948 (Editor João Cabral de Melo Neto)
- Poesias Completas (com Belo Belo) - Rio de Janeiro, 1948
- Opus 10 - Niterói - 1952
- 50 Poemas Escolhidos pelo Autor - Rio de Janeiro, 1955
- Poesias completas (acrescidas de Opus 10) - Rio de Janeiro, 1955
- Poesia e prosa completa (acrescida de Estrela da Tarde), Rio de Janeiro, 1958
- Alumbramentos - Rio de Janeiro, 1960
- Estrela da Tarde - Rio de Janeiro, 1960
- Estrela a vida inteira, Rio de Janeiro, 1966 (edição em homenagem aos 80 anos do poeta).
- Manuel Bandeira - 50 poemas escolhidos pelo autor - Rio de Janeiro, 2006.

Prosa:- Crônicas da Província do Brasil - Rio de Janeiro, 1936
- Guia de Ouro Preto, Rio de Janeiro, 1938
- Noções de História das Literaturas - Rio de Janeiro, 1940
- Autoria das Cartas Chilenas - Rio de Janeiro, 1940
- Apresentação da Poesia Brasileira - Rio de Janeiro, 1946
- Literatura Hispano-Americana - Rio de Janeiro, 1949
- Gonçalves Dias, Biografia - Rio de Janeiro, 1952
- Itinerário de Pasárgada - Jornal de Letras, Rio de Janeiro, 1954
- De Poetas e de Poesia - Rio de Janeiro, 1954
- A Flauta de Papel - Rio de Janeiro, 1957
- Itinerário de Pasárgada - Livraria São José - Rio de Janeiro, 1957
- Prosa - Rio de Janeiro, 1958
- Andorinha, Andorinha - José Olympio - Rio de Janeiro, 1966
- Itinerário de Pasárgada - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1966
- Colóquio Unilateralmente Sentimental - Editora Record - RJ, 1968
- Seleta de Prosa - Nova Fronteira - RJ
- Berimbau e Outros Poemas - Nova Fronteira - RJ


Além de diversas antologias que incluem poesia e prosa.

domingo, 7 de novembro de 2010

Eugenia Grandet - Honoré de Balzac


Honoré de Balzac é muito popular pelo romance "A mulher de trinta anos", obra da qual surgiu o termo "balzaquiana" usado para designar as mulheres na faixa dos trinta anos. Porém, o próprio escritor entendia que este é seu romance mais fraco em termos de qualidade literária.
O "Escritor Fábrica" teve muitos méritos que não deixaram que um romance fraco lhe diminuísse o valor. Entre estes méritos, está o romance "Eugenia Grandet" .
O romance é datado de 1833 e apresenta a pequena cidade francesa de Saumur na qual os princípios da ascensão da burguesia eram vistos claramente na figura do Pai Grandet (ou Tio Grandet), velho tanoeiro abastado que, aproveitando-se da Revolução Francesa, uniu seus dinheiro ao dote da mulher para construir uma grande fortuna, que lhe trouxe o prestígio de ser o homem mais rico daquela região, um vitorioso na visão do novo mundo que surgira depois da Queda da Bastilha.
O Pai Grandet era um homem sovina, extremamente materialista e individualista, não se preocupava com luxos e ostentações, portanto, a pequena cidade era seu porto seguro, já que não propiciava tais gastos.
Tendo uma filha única, Eugenia, o Pai Grandet tinha grandes planos para a herdeira, que era disputada por dois representantes de famílias tradicionais do local, a família Cruchot e a família Des Grassins, que lutavam ávidamente pela mão da jovem Grandet.
Mas o Tio Grandet tinha um irmão que não seguia sua cartilha de contenção de gastos, era o Senhor Grandet de Paris, que tinha um filho único chamado Carlos. Depois de gastar seus bens e encontrar-se em dívidas, o Grandet que não se adaptava aos princípios capitalistas do trabalho e da manutenção das fortunas através dele, mandou o filho passar um tempo com o irmão de Saumur. Eugenia já não pensava mais em nuenhum pretendente de Saumur, pois foi tomada por uma paixão intensa pelo primo da capital, tão fino nos tratos e tão sensível nas palavras.
Quando Carlos tem que ir embora para as Índias Orientais para tentar salvar o nome do pai que acabara de se suicidar devido a falência, Eugenia resolve entregar-lhe todas as economias que o pai lhe entragara por ocasião de seus aniversários passados. Para agradecer Eugenia, o primo a beija no corredor da casa, pouco antes de partir e vai embora com a promessa de espera por parte da prima, que fica em situação difícil quando o pai avarento descobre o destino que ela deu para suas economias.
Muito romântico o enredo até este ponto não é? Mas o Romantismo dá lugar a uma visão muito realista e irônica dos fatos, quando Carlos volta das Índias casado com uma mulher que não ama, penas por interesse no dote, e manda uma carta para a prima do interior pedindo de volta o anel que lhe havia dado anos antes, como símbolo do sentimento que nascera entre os dois durante sua estadia na casa do tio.
Eugenia continua fiel ao seu amor pelo primo e, depois da morte do pai, casa-se com um dos antigos pretedentes para conformar a sociedade local. O casamento de Eugenia é outro ponto que diverge dos princípios românticos, pois se trata de uma união por conveniência e a noiva exige que o futuro marido não mantenha esperanças de consumar a relação.
O romance "Eugenia Grandet" faz com que o leitor se depare com personagens que expressam o pensamento de uma época, como o Pai Grandet, que guarda em si os princípios do materialsmo e do capitalismo trazidos pela Revolução Francesa, é ganancioso,o irmão do velho tanoeiro, o Senhor Grandet de Paris, homem que representa a falência do antigo sistema finaceiro baseado na aristocracia e na nobreza como fontes de sobrevivência; seu destino é a morte, pois no novo mundo quem não se adapta é eliminado da "livre concorrência" proposta.
Eugenia concentra em si as características da mulher na soceidade burguesa: jovem submissa ao pai, entrega-se aos encantos de um homem que tem características semelhantes a de um cavalheiro romântico e depois de uma decepção, arranja um casamento falso para contentar a socieade local. Seu primo Carlos, ao contrário do pai, consegue se adaptar ao pensamento pós-revolucionário, pois consegue recuperar a fortuna da família utilizando-se de um pouco de trabalho e de um grande dote de uma mulher sem qualquer atrativo sentimental.
Outra figura interessante do livro é a serviçal Nanon, que acompanha a família por toda a sua vida e é extremamente submissa aos princípios avarentos do patrão Grandet.
Não é a toa que Balzac é conhecido por seu enorme talento em criar personagens marcantes.



terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dia de Finados

A morte é um tema interessante para a Literatura. Durante o auge do Romantismo, muitos poetas viviam na Terra esperando a morte que viria como fuga para a impotência sentida diante de um mundo tão cruel para pessoas sensíveis e sentimentalistas. Em tempos mais modernos, José Saramago humaniza a morte no romance "As intermitências da morte". É...todos ficam pasmos e não sabem o que fazer quando esta "indesejada das gentes" deixa de ceifar vidas. E depois, quando ela resolve avisar sua vinda através de uma temida carta? São situações que nos fazem refletir sobre o tema. Mas discutir sobre a morte é coisa que o ser humano faz desde que nasce. Seja de forma religiosa, social, física...a todos este assunto interessa, embora muitos não gostem nem de pronunciar esta palavra.
Manuel Bandeira escreveu um poema que descreve bem o feriado de 02 de novembro.
Poema de Finados
Amanhã que é dia dos mortos
Vai ao cemitério. Vai
E procura entre as sepulturas
A sepultura de meu pai.
Leva três rosas bem bonitas.
Ajoelha e reza uma oração.
Não pelo pai, mas pelo filho:
O filho tem mais precisão.
O que resta de mim na vida
É a amargura do que sofri.
Pois nada quero, nada espero.
E em verdade estou morto ali.
Os que estão já na última morada passaram pela morte física, seus corpos estarão lá eternamente, mas quantos continuam andando por esta Terra e estão mais mortos do que eles? O poema apresenta um pessimismo que pede que as orações de voltem para os vivos, pois eles têm mais necessidade, já que a amargura da vida os tornaram mais mortos do que as pessoas amadas sepultadas no cemitério. A perda de pessoas queridas causa esta amargura, e tantas outras razões para nos amargurarmos podem ser citadas!
Emily Dickinson escreveu um poema que também é bem pertinente ao dia de finados.
Cemitério
Este pó foram damas, cavalheiros,
rapazes e meninos;
Foi riso, foi espírito e suspiro,
Vestidos, tranças finas.
Este lugar foram jardins que abelhas
E flores alegraram.
Findo o verão, findava o seu destino...
E como estes, passaram.
Todas as pessoas que repousam nesta terra tiveram suas estórias, algumas mais longas, outras mais curtas, todas viveram e sofreram seus dramas, seus probelmas. Todas riram alguma vez na vida, quem sabe amaram e deixaram amantes chorando ao partirem. Mas todos um dia partem, isso é inevitável, por mais doloroso que seja para a nossa humanidade aceitar ser privada da presença física daqueles que amamos. Resta a cada um apegar-se a formas de viver estas perdas de um maneira menos traumática, pois as pessoas passam, mas as lembranças permanecem.

domingo, 31 de outubro de 2010

Literatura de terror - gótica


Castelo do Conde Drácula, na Romênia
A literatura de terror, ou literatura gótica está em alta na mídia. Obras do cinema e da Literatura voltada para o público adolescente popularizaram figuras lendárias como o vampiro, o lobisomem, os mortos-vivos e figuras aterrorizantes. Sem entrar nos méritos qualitativos, não podemos esquecer de que este gênero já existe há muito tempo e produziu grandes clássicos em tempos distantes nos quais o cinema, a TV, as redes sociais da internet não existiam.
Tudo começou com Horace Walpole e o romance “O castelo de Otranto”, obra do ano de 1764. Nestes primeiros períodos, a Literatura gótica utilizava-se do físico para causar horror e provocar sentimentos intensos de medo no leitor. Os lugares aterrorizantes eram os castelos medievais, as florestas escuras com árvores altas, casas solitárias e abandonadas. Grande representante deste período, temos a inglesa Ann Radcliff. Em seus romances, figuras humanas são colocadas em lugares que propiciam a mente humana a vagar pelos caminhos do medo do desconhecido, de outros mundos, daqueles que já partiram desta vida. Surgiram também criaturas horripilantes, monstros sanguinários e de aparência extremamente assustadora. Um grande representante destas figuras é o “Frankenstein” , da inglesa Mary Shelley. Construído com pedaços de cadáveres humanos, o monstro tornou-se uma figura mítica e no mundo moderno ganhou muita popularidade através das inúmeras representações no cinema.
No ano de 1809, nascia em Boston, nos Estados Unidos, um escritor que mudaria para sempre os rumos da Literatura de terror. Seu nome é Edgar Allan Poe, que teve um morte misteriosa e uma vida cercada de tragédias, vícios e fracassos. Grande contribuidor para o desenvolvimento do conto como gênero literário, Poe colaborou para a criação da Literatura policial e modificou a forma de escrever sobre o mundo assustador.
Diferente dos seus antecessores, Poe não se utilizava de artimanhas físicas, como espaços e figuras sobrenaturais para causar medo e espanto. Ele criou inúmeras personagens psicologicamente aterrorizadas, figuras humanas aparentemente normais, em espaços normais; que guardavam em suas mentes obsessões e perversidades que as levavam a situações aterrorizantes, crimes, perdições, maldades. Para Poe, um gato preto acendia no coração de um homem tido como puro, os desejos mais cruéis, a consciência mais doentia. Um olho com catarata causava horror em um homem e levava-o a transformar-se num assassino frio e calculista, enquanto tenta convencer o leitor de que não é louco, pois um louco não teria agilidade suficiente para planejar e premeditar um crime perfeito. Os dentes brancos feito marfim da prima adoentada podem tornar-se objeto de desejo de um jovem, fazendo com que ele vá até as últimas consequências para tê-los para si.
Os poemas de Poe também merecem destaque. Em “O corvo” a ave agourenta bate a janela de um homem solitário a meia-noite e o recorda a amada perdida para a morte. Em “Annabel Lee”, os anjos sentem ciúmes do amor perfeito de dois jovens que tem suas almas unidas desde a infância; os ciúmes se devem ao fato das figuras angelicais não aceitarem uma amor tão puro, perfeito e intenso em dois seres humanos, pois este sentimento não é possível nem entre os mensageiros celestes.
Edgar Allan Poe foi um divisor de águas para a Literatura gótica.
Na Irlanda, especificamente no ano de 1897, um romancista chamado Bram Stoker, criou a lenda do vampiro, hoje tão difundida e modificada por escritores populares.
Bram Stoker baseia-se numa figura histórica, o Conde Vlad Dracul (dragão ou demônio),que nasceu no ano de 1431 na Transilvânia, (onde fica localizado o famoso castelo do Drácula). O Conde Vlad foi guerreiro e herói romeno da guerra contra os turcos, que ficou conhecido como “O Empalador” devido a crueldade usada para com seus prisioneiros de Guerra. O “Drácula” de Bram Stoker é o primeiro vampiro da Literatura, a figura inicial da lenda dos mortos-vivos que se alimentam de sangue e vivem eternamente. Depois dele vieram os belos e atraentes vampiros de Anne Rice, e mias recentemente, as figuras controversas dos romance de Stephanie Meyer. Os personagens da saga “crepúsculo” conquistaram o amor de milhares de adolescentes no mundo inteiro, mas ganharam também o ódio de muitos críticos que os consideram deturpados, indignos de sucederem o clássico de Bram Stoker, ou até mesmo os de Anne Rice.
Fica para o leitor a dica: conheçam os clássicos do gênero. É uma viagem excepcional ao mundo do terror, das grandes lendas, dos grandes personagens e lugares pelos quais nossa mente divaga nos mistérios do medo.

sábado, 16 de outubro de 2010

Amor à primeira vista - Falling in love


Quando dois dos maiores astros de Hollywood se encontram unem força a um enredo que foge aos estereótipos propostos pelo tema, temos um grande filme. Um grande exemplar desta mágica é o filme "Amor à primeira vista" (falling in love), do diretor Ulu Grosbard, com roteiro de Michael Cristofer.
O filme é do ano de 1984 e tem como protagonistas os dois grandes e brilhantes astros Robert De Niro e Meryl Streep, além de contar com Dianne Wiest, David Clennon e Jane Kaczmarek no elenco.
Frank Raftis é um engenheiro, casado e pai de dois meninos pequenos; Molly Gilmore uma decoradora autônoma, casado com um médico. Duas pessoas comuns que veem suas vidas aproximarem-se primeiro por acaso: na véspera de Natal, comprando os presentes para os esposos, acabam trocando os livros comprados na livraria repleta de clientes. Três meses mais tarde, encontram-se por acaso no trem, já que Frank deixou o carro na oficina para consertos e Molly tem que visitar o pai que está doente num hospital. Sem que esperassem, os dois começam a desejar que aqueles encontros se tornem frequentes e, quando percebem, já não se encontram por acaso e sim, por escolha. Só uma coisa perturba o recém-descoberto amor: os dois são casados e têm suas vidas ligadas as de outras pessoas.
É um genuíno dilema moderno que poderia ser contaminado pelos clichês que vemos todos os dias povoarem as novelas de TV que tratam deste tema. O enredo do filme, porém, não está contaminado com o maniqueísmo comum nas estórias da TV. Não há maridos carrascos nem esposas fúteis e extremamente ciumentas. O público não é levado a sentir raiva dos cônjuges, nem a torcer deliberadamente para que estes sejam abandonados sem piedade. São apenas pessoas normais, que levam uma vida pacata, cercada pela rotina da cidade grande. Óbviamente o público sentirá uma simpatia pelo casal que vive o romance proibido pela sociedade, mas esta simpatia não é horror as relações familiares particulares deles; esta simpatia vem do fato da relação não ser baseado apenas no contato físico, mas sim, no sentimento que surge sem ser programado, sem ser esperado. A resistência que Frank e Molly têm em se entregar ao amor à primeira vista, é a prova de que a possível traição iria ferir tanto a eles quanto aos respectivos companheiros.
Os conflitos psicológicos apresentados no enredo estão longe de propôr questões morais, esta não é a intenção do filme, pois a arte verdadeira não procura ser manual de bons costumes. O público, ao assistir "Amor à primeira vista" sente-se atraído pelo casal Frank e Molly, mas é provocado instintivamente a reflexões sobre as consequências daquele relacionamento na vida das duas famílias. Esta reflexão, porém, surge naturalmente, não é proposta pelo filme como uma obrigatoriedade para a preservação de nenhum conceito social ou moral.



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Erich Maria Remarque


Erich Maria Remarque nasceu no dia 22 de junho de 1898, na cidade alemã de Osnabrück. Ao nescer, recebeu o nome de Erich Maria Kramer. Realizou os estudos básicos na cidade natal e frequentou a Universidade de Münster. Aos dezoito anos, abandonou os estudos e juntou-se ao exército alemão na Primeira Guerra Mundial. Foi ferido três vezes nas trincheiras, uma delas gravemente. Após o conflito, teve que lutar para sobreviver em um país corroído pela guerra, exercendo várias funções, como a de pedreiro, por exemplo. Esta instabilidade profissional acabou quando conseguiu trabalhar como jornalista em alguns jornais de Hannove r e Berlim, nas funções de crítico teatral e repórter esportivo, entre outras.
Mesmo com uma vida estabilizada, não esqueceu o pesadelo da Guerra e suas noites de insônia eram preenchidas por infindáveis anotações em cadernos. Estas anotações traziam os horrores vividos no campo de batalhas. Daquelas folhas manuscritas, logo surgiu o núcleo de um livro, um romance sobre o absurdo da guerra. A editora Ullstein insistiu no lançamento da narrativa, mas o máximo que conseguiu foi sua publicação em folhetins no jornal Wossiche Zeitung, no ano de 1928.
O sucesso de "Nada de novo no front" (Im Western Nichts Neues) garantiu a edição do texto em formato de livro no ano seguinte. A obra tornou-se um êxito sem precedentes na literatura alemã modernae deixou o público e as autoridades alemãs perplexos. O romance logo foi alvo de críticas e polêmicas, ao mostrar a um público que ainda via a guerra como uma fatalidade histórica cercada de certo romantismo, a verdadeira face dos soldados que nela se envolveram.
Outras obras haviam sido publicadas sobre o primeiro grande conflito mundial, mas nenhuma parecera aos soldados tão realista e reveladora.
No ano de 1930, "Nada de novo no front" (também traduzido no cinema por "Sem novidades no front") foi levado à tela por Lewis Milestone. O filme alcançou êxito mundial e status de filme cult.
O filme e o livro causaram a ira dos nacionalistas alemães e, com o recrudescimento dos sentimentos nazistas a perseguição a Erich Maria Remarque se tornou ainda maior pelo pacifismo manifesto em suas obras. Em 1931, publicou também "O caminho de volta" que retratava as frustrações dos que regressavam dos campos de batalha. No ano de 1933, com a ascensão de Hitler ao poder, o filme baseado na sua obra-prima foi proibido na Alemanha. O escritor exilou-se primeiramente na Suíça e, a partir de 1939, nos Estados Unidos. No dia 10 de maio de 1933, seus livros foram quimados na fogueira na Praça da Ópera, em Berlim.
Em 1938, as autoridades alemãs retiraram sua cidadania alemã, por ter "arrastado na lama" os soldados da grande guerra e apresentado uma visão "antigermânica" dos acontecimentos da guerra.
O escritor só ficou sabendo das hostilidades que sua imagem sofria na Alemanha, quando estava seguro, no exílio nos Estados Unidos. Sua irmã, Elfriede, porém, não teve a mesma dádiva. Ela ainda vivia no país natal e era uma simples costureira, mas acabou confidenciando a uma cliente que poderia muito bem dar um tiro na cabeça de Hitler. Foi denunciada, condenada e decapitada no ano de 1943.
Em 1947 Erich Maria Remarque naturalizou-se norte-americano. Nos seus anos em Hollywood, recheou as crônicas jornalísticas com seus casos amorosos com as atrizes Marlene Dietrich e Greta Garbo. Em 1948, partiu para a Suíça, na companhia da também atriz Paulette Godard, ex-mulher de Charles Chaplin.
Erich Maria Remarque, que é junto a Goethe o escritor alemão mais lido no mundo, faleceu em Locarno, na Suíça, aos 72 anos, no dia 25 de setembro de 1970. Não perdoou a Alemanha do pós-guerra pelo tratamento brando com as autoridades nazistas.
Sem dúvida, "Nada de novo no front" é seu romance mais popular e foi traduzido para 58 idiomas, vendendo mais de 10 milhões de cópias em todo mundo.
Deixou também outros romances sobre o absurdo da guerra:

"Três camaradas" - 1937.

"Náufragos" - 1941.

"Arco do triunfo" - 1946.

"O obelisco preto" - 1956.

E o romance póstumo "Sombras do paraíso" - 1971.

domingo, 10 de outubro de 2010

Personagens de Machado de Assis

Que Machado de Assis é hábil em criar personagens instigantes ninguém pode negar. O leitor certamente coloca alguns dos seus personagens entre os mais celébres da Literatura nacional e até mesmo mundial.
Pensando em casais célebres, Capitu e Bentinho sempre têm um lugar de destaque. Ora, Capitu é uma mulher única e especial na Literatura, parece até que ganha vida própria e provoca no leitor reações adversas. Desde cedo sabia bem o que queria: Bentinho. O próprio Bentinho, ao escrever suas memórias, diz que ela era o lado forte da relação, aquela que sempre confiou que para os dois ficarem juntos era só uma questão de tempo e de alguns ajustes. Sim, havia a promessa, mas promessas podem ser modificadas. Havia José Dias contra a pobre vizinha, mas ele poderia ser convencido a apoiá-los. Havia o ciúme e, bem, este na verdade, não pode ser controlado. Bentinho, por sua vez, é um burguês típico, com sua mãe viúva, inúmeros escravos e agregados para mimá-lo, uma paixão e muito medo de lutar por ela. Capitu acaba "roubando" do marido o papel de protagonista do romance, e ela consegue isso numa sociedade patriarcalista, na qual a figura masculina era o centro de tudo. Os olhos de Capitu, a presença de Capitu, a forma como Capitu conquista os inimigos e os torna aliados...tudo isso torna a amada de Bentinho uma personagem marcante.
E o que dizer de Brás Cubas? O homem que, depois de morto, resolve contar a suas desventuras enquanto caminhava entre os vivos. A escolha da ocasião se deve a libertade que a morte garante, as palavras e fatos que poderiam ser narrados sem sofrer problemas com o julgo da sociedade que caminha neste mundo. Brás Cubas, como homem, é um produto do seu tempo; vive a burguesia e usufrui dela, tornando-se um homem com apenas um saldo positivo: não ter transmitido para ninguém, o legado da sua miséria.
Uma das figuras mais interessantes que povoam a obra de Machado de Assis é, sem dúvida, Quincas Borba. Mendigo, filósofo, louco, quem era Quincas Borba? Ele criou uma filosofia, aparecia de desaparecia da vida do amigo de infância Brás Cubas, deixou sua herança ao professor Rubião, (herança esta que incluía o cachorro que levava seu nome)...o professor Rubião é um dos poucos personagens de Machado de Assis que não vive de renda, mas, ao receber a fortuna de Quincas Borba, abandona tudo e vai para a Côrte, viver as alegrias da vida burguesa, alegrias estas que não poderia desfrutar na condição de trabalhador.
Sofia, a mulher cobiçada por Rubião, vive de acordo com os princípios da sociedade que Machado de Assis tanto critica. Ao notar o interesse do novo rico, Sofia e seu marido Cristiano visualizam uma bela forma de participar do desfrute daquele dinheiro vindo de forma tão inesperada. Sofia não se entrega para Rubião em nenhum momento, mas o mantêm preso na sua teia de sedução, até que não reste a ele mais nada, nem mesmo a sanidade. Quando o ex-professor está perdido nas ruas, transformando-se em motivo de riso para a mesma sociedade que antes o recebera de braços abertos, ele não serve mais para nada, deveria ser descartado, e assim aconteceu.
Temos também os gêmeos Pedro e Paulo, que brigavam ainda no ventre da sua mãe (assim como os personagens bíblicos Esaú e Jacó, que dão título ao romance), sendo opostos em tudo, menos no amor pela jovem Flora. Clichê? Não na obra de Machado de Assis, que construiu os personagens sem estereótipos de vilania ou heroísmo, sem a oposição do bem e do mal.
E o comandante Aires? Seria ele o próprio Machado de Assis transpondo-se para as páginas de um livro? Muitos afirmam que sim, pois o "Bruxo dos Cosme Velho", assim como Aires, observava o mundo, a sociedade e apresentava suas impressões e fazia isso com maestria.
Mas não são apenas nos romances que Machado de Assis foi mestre em criar personagens. Ele, como exímio contista, criou personagens interessantes e marcantes, como Simão Bacamarte, o médico alienista que descobria a loucura numa cidade inteira, percebendo depois que a loucura era toda sua.
Fortunato, personagem do conto "A causa secreta", procurava de todas as formas saciar seu desejo de ver e degustar o sofrimento alheio. As noites na cabeceira dos feridos e da prória esposa, a ajuda aos doentes, tudo era apenas um pretexto para saciar o seu sadismo, aliado ao masoquismo que o faz sentir um prazer imenso em ver o amigo beijando a sua esposa morta.
Temos também o Pestana, compositor de polcas populares que buscava a imortalidade dos grandes músicos clássicos. O pobre Pestana morreu vendo suas músicas serem cantadas por populares e esquecidas num breve espaço de tempo.
Na tradição de mulheres misteriosas de Machado de Assis, temos a Dona Conceição, de "Missa do galo". Estaria ela se insinuando para o jovem amigo da família ou era tudo produto da imaginação e da malícia daquele rapaz?
Voltando aos romances, temos a obra romântica de Machado de Assis, da qual saltam alguns personagens muito interessantes, que anunciavam a "era" realista que estava por vir na produção do escritor.
Félix, de "Ressurreição" é um deles. Com um coração sepultado há muito tempo, Félix acredita poder ressucitá-lo amando a viúva Lívia. Instável emocionalmente e preso ao ciúme (anunciava ou não um outro personagem de Machado de Assis que viria em "Dom Casmurro"?), Félix fracassa na tentativa de "Ressurreição" e acaba deixando-o sepultado mesmo.
Uma mulher muito interessante entre as "românticas" do escritor, é Helena, personaegem que dá título a um dos romances desta fase.
Mesmo sabendo-se não merecedora da forturna do suposto pai, o Conselheiro Vale, ela vai viver na casa do filho do Conselheiro e permite que todos acreditem nos seus laços sanguíneos com a Família Vale. Apaixonada pelo "irmão", Helena entrega-se à morte, já que se sente indigna do amor de Estácio por ter falhado com a verdade. Como muitas mulheres, Helena faz um julgamento feroz das suas atitudes e condena a si própria por elas.
Estes são apenas alguns dos personagens marcantes da obra do grande Machado de Assis. Pretender fazer uma análise monuciosa de todos os personagems criados com maestria por Machado de Assis seria uma audácia minha.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

29 de setembro de 2010 - 102 anos sem Machado de Assis


Há 102 anos morria o escritor brasileiro Joaquim Maria Machado de Assis. Debilitado, recluso (sobretudo depois da morte da esposa), o "Bruxo do Cosme Velho" veio a falecer na casa em que viveu tantos anos ao lado da amada Carolina.
102 anos se passaram, mas a sua obra o tornou imortal. Seus persongens estão entre os mais celébres da Literatura brasileira e mundial. O leitor, em nossos dias, ainda sente-se seduzido por Capitu, sente-se viajando no delírio de Brás Cubas, tenta entender a filosofia louca de Quincas Borba e a psicologia do médico alienista Simão Bacamarte. E tantos foram os personagens, tantas as críticas, tantas histórias...que fizeram de Machado de Assis um escritor praticamente unânime entre os amantes da Literatura de qualidade.
E o seu nome nunca será apagado, está gravado para sempre entre os maiores da Literatura mundial.





"Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado."


Machado de Assis.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Nada de novo no front - Erich Maria Remarque


"Nada de novo no front". Esta sentença põe fim a uma guerra, a Primeira Grande Guerra, que anunciava os contornos desatrosos que os conflitos mundiais trariam para a humanidade.
Para Erich Maria Remarque, homem que esteve na guerra ainda jovem e viu suas idealizações bélicas tornarem-se pó em meio ao caos sangrento, esta sentença é a sentença de um novo rumo na vida, vida esta que começava em meio a morte. Paul, protagonista do romance, chega mesmo a dizer que outros haviam partido para as trincheiras deixando para trás um passado, seria então, mais fácil voltar, mas, ele e seus amigos que acabavam de sair da adolescência, não tinham nada no passado, começariam suas vidas naquela guerra, em meio a destruição física e moral de muitos homens.
Muitos críticos tratam "Nada de novo no front", publicado em formato de livro no ano de 1929, como o maior romance pacifista do século XX. As colocações que o jovem desiludido Paul faz sobre a vida no front de batalhas, leva mesmo a esta conclusão. Cada sofrimento, cada agonia, cada ameaça de morte a ele ou a um dos companheiros, faz com que o leitor considere a guerra uma grande ferida inútil na História da humanidade.
No front de batalhas Paul reflete sobre a efemeridade da vida naquelas condições:
Nossos pensamentos são como o barro,modelados pela mudança dos dias:
são bons, quando temos dencanso, e fúnebres, quando estamos sob o fogo.
Fora e dentro de nós, há campos cheios de crateras.
(p.206)

A vida sob o fogo cruzado não permite o nascimento de planos futuros, tudo caminha de acordo com o êxito da batalha. As crateras não se formam apenas nos campos nos quais as granadas são lançadas ou no peito do soldado morto; elas se formam na consciência do soldado que sobrevive fisicamente, mas sente-se morrer ao perceberem que lutam por uma causa que não é sua, que nem ao menos conhecem direito. Os mesmo princípios que os levam a matar estão presentes na cabeça do inimigo, então, quem estaria com a razão? Alemãos, franceses, ingleses, russos...todos foram convencidos a aceitar a guerra como verdade absoluta.
As situações extremas levam os soldados a tomarem atitudes incompreensíveis para homens que deveriam estar longe da sensibilidade com a dor alheia. Os "relâmpagos" da sanidade tornam os soldados frágeis. Um exemplo disso é o o personagem Berger que, para salvar um cão, ou pelo menos dar-lhe o tiro de redenção, arrisca e perde sua vida.

Na verdade, deve ter ficado completamente louco, pois terá de atravessar uma barreira de fogo; mas é o relâmpago, sempre à espreita do nosso íntimo,que o atingiu e o transformou num possesso. Alguns deliram,outros fogem...e houve quem tentava sem parar enterrar-se, com as mãos, os pés e a boca.
(p.211)
A morte é uma constante. Torna-se parte do dia-a-dia e, mais do que nunca, a máxima de que ela é a única certeza que o homem tem torna-se presente.

Muller está morto. à queima-roupa, deram-lhe um tiro no estômago, com very Light. Ainda viveu meia hora, perfeitamente lúcido, sofrendo dores atrozes. Antes de morrer, entregou-me sua carteria e me deixou suas botas...as mesmas que herdara de Kemmerich.
(p.211).

E logo outros partiriam, já haviam partido. Deixariam suas botas de herança para os companheiros que, na distância de casa, tornavam-se a família construída no lar de destruição e desespero. Qual será o desepero de um homem em frente a morte ou sob ameaça constante? É a questão que o leitor reflete ao solidarizar-se com o alemão Paul. O tempo passa, vidas se vão, a morte fica.

Passam-se os meses. este verão de 1918 é o mais sangrento e o mais terrível de todos. Os dias são como anjos vestidos de dourado e azul, impassíveis sobre o campo da morte. Aqui, todos sabem que estamos perdendo a guerra. Não se fala muito nisto: recuamos, não vamos mais poder atacar depois desta grande ofensiva, não temos mais homens, nem munição.
Entretanto, a luta continua...a morte continua...
(p.215)

As razões que levaram os livros de Erich Maria Remarque a serem queimados durante a Segunda Guerra Mundial são muito claras no romance. Num período de ostensivo nacionalismo e dominação psicológica, não era muito comôdo ao regime nazista que o povo conhecesse a fundo a inferioridade do exército alemão no fim do primeiro conflito mundial.

Nossa artilharia está no fim...tem pouca minição...e os canos estão tão gastos que os tiros não são certeiros e atingem nossos próprios soldados. Temos poucos cavalos, nossas tropas compõe-se de rapazes anêmicos, que precisam de cuidados, que não conseguem nem carregar mochilas, mas que sabem simplesmente morrer aos milhares. Nada conhecem de guerra, apenas avançam e deixam-se derrubar . Um único aviador divertiu-se exterminando duas companhias de recrutas como estes, quando acabavam de sair do trem, antes mesmo de terem ouvido falar em abrigo!
- A Alemanha deve ficar vazia em breve - diz Kat.
(p.212).

Depois de tudo que passou, chega a conclusão de quem não tem mais nada onde se firmar, pois não teve tempo de construir uma história antes da guerra, agora só restava tentar se reconstruir, assim como o mundo teria de fazer.

E as pessoas não nos compreenderão, pois, antes da nossa, cresceu uma geração que, sem dúvida, passou esses anos junto a nós, mas que já tinha um lar e uma profissão, e que agora voltará para suas antigas colocações e esquecerá a guerra...e, depois de nós, crescerá uma geração, semelhante à que fomos em outros tempos, que nos será estranha e nos deixará de lado. Seremos inúteis até para nós mesmos. Envelheceremos, alguns se adaptarão, outros simplesmente resignar-se-ão e, por fim, pereceremos todos.
(p.222)

É, os homens nunca compreenderão. Quando Erich Maria Remarque e tantos outros largaram a escola e, a conselho dos pais, professores, eles foram lutar por uma guerra que descobriram não ser deles. Seus nomes não estarão estampados individualmente me livros de História, serão parte de um sistema bélico pronto para destrui-lhes os sonhos, as ilusões da juventude. Coube ao protagonista Paul, que dá vida as emoções de Remarque, expressar a sua perplexidade numa narrativa destituída de patriotismo, crua e realista.
"Nada de novo no front" firmou uma posição radicalmente pacifista em um mundo que ainda via a guerra como uma alternativa política e determinou o perfil antibelicista que habita a literatura ocidental até hoje.






quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A obra de Henry James - esboço

O escritor começou a sua carreira literária em 1865 escrevendo artigos para jornais. Nunca mais abandonou a Literatura e se consagrou como um grande escritor da Literatura Norte-Americana e Inglesa em geral.
Explorou com profundidade a psicologia dos personagens e introduziu a técnica da narrativa indireta, apresentando os mesmos acontecimentos relatando ponto de vista de cada participante, recorrendo ao flashback. Sua obra compreende contos, peças, ensaios, autobiografia e vinte romances.
Podemos dividir a obra em três etapas:
- Da década de 1870 destacam-se romances como “Os Americanos”em 1877 e “Daisy Miller”em 1879. Sua produção desta época culmina com “O Retrato de Uma Senhora” de 1881, cujo tema é o confronto entre o novo mundo e os valores do velho continente. É do mesmo ano um romance muito importante “A Herdeira”, no qual James apresenta uma personagem que se opõe ao perfil feminino da época.
- Na segunda fase, Henry James experimentou vários temas e formas. Entre os anos de 1885 e 1900 três novelas conteúdo social e político foram publicadas: “Os Bostonianos” de 1886, deste ano também é “Princess Camassina”e de 1889 “The Tragic Muse”. São histórias de revolucionários e trazem uma forte influência da corrente naturalista.
Os anos de 1890 até 1895 ficaram conhecidos como “os anos dramáticos” e Henry James escreveu sete peças de teatro sendo que duas foram encenadas sem êxito. Ele voltou a narrativa e merecem destaque “The Next Time”de 1895 e um dos seus melhores romances no ano de 1898 “A Volta do parafuso”.
- A última fase da obra de Henry James é considerada por muitos críticos como a mais importante, na qual o autor explora a consciência humana e sua prosa torna-se mais densa e complexa. São deste período as obras-primas “As Asas da Pomba”de 1902, “Os Embaixadores” do ano de 1903 e “A Taça de Ouro” publicado em 1904.
Estes são apenas alguns dos muitos romances escritos por este brilhante escritor.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Não as matem - Lima Barreto

Não as matem

Esse rapaz que, em Deodoro, quis matar a ex-noiva e suicidou-se em seguida, é um sintoma da revivescência de um sentimento que parecia ter morrido no coração dos homens: o domínio, quand même, sobre a mulher.O caso não é único. Não há muito tempo, em dias de carnaval, um rapaz atirou sobre a ex-noiva, lá pelas bandas do Estácio, matando-se em seguida. A moça com a bala na espinha veio a morrer, dias após, entre sofrimentos atrozes.Um outro, também, pelo carnaval, ali pelas bandas do ex-futuro Hotel Monumental, que substituiu com montões de pedras o vetusto Convento da Ajuda, alvejou a sua ex-noiva e matou-a.Todos esses senhores parece que não sabem o que é a vontade dos outros.Eles se julgam com o direito de impor o seu amor ou o seu desejo a quem não os quer Não sei se se julgam muito diferentes dos ladrões à mão armada; mas o certo é que estes não nos arrebatam senão o dinheiro, enquanto esses tais noivos assassinos querem tudo que é de mais sagrado em outro ente, de pistola na mão. O ladrão ainda nos deixa com vida, se lhe passamos o dinheiro; os tais passionais, porém, nem estabelecem a alternativa: a bolsa ou a vida. Eles, não; matam logo.Nós já tínhamos os maridos que matavam as esposas adúlteras; agora temos os noivos que matam as ex-noivas. De resto, semelhantes cidadãos são idiotas. É de supor que, quem quer casar, deseje que a sua futura mulher venha para o tálamo conjugal com a máxima liberdade, com a melhor boa vontade, sem coação de espécie alguma, com ardor até, com ânsia e grandes desejos; como e então que se castigam as moças que confessam não sentir mais pelos namorados amor ou coisa equivalente?Todas as considerações que se possam fazer, tendentes a convencer os homens de que eles não têm sobre as mulheres domínio outro que não aquele que venha da afeição, não devem ser desprezadas.Esse obsoleto domínio à valentona, do homem sobre a mulher, é coisa tão horrorosa, que enche de indignação. O esquecimento de que elas são, como todos nós, sujeitas, a influências várias que fazem flutuar as suas inclinações, as suas amizades, os seus gostos, os seus amores, é coisa tão estúpida, que, só entre selvagens deve ter existido Todos os experimentadores e observadores dos fatos morais têm mostrado a inanidade de generalizar a eternidade do amor Pode existir, existe, mas, excepcionalmente; e exigi-la nas leis ou a cano de revólver, é um absurdo tão grande como querer impedir que o sol varie a hora do seu nascimento.Deixem as mulheres amar à vontade.Não as matem, pelo amor de Deus!

27/01/1915


O que define um homem a frente do seu tempo? Para mim, podemos definir Lima Barreto como um homem a frente do seu tempo, não apenas pela estética literária que procurava aproximar a Literatura da linguagem popular; mas por ele ter escrito uma crônica na qual defende o direito de escolha da mulher...ele, sendo homem e filho de uma época de desigualdades de todo tipo, pedia para que as mulheres não fossem mortas por suas escolhas.
Podemos considerar este texto, escrito no ano de 1915, atual? Claro que sim! Vivemos num mundo que, de justo, só tem algumas saias. A nossa sociedade acredita que homens podem julgar mulheres e condená-las à morte porque elas transgridem as leis impostas pela maioria masculina. As regras que eles podem e devem transgridir, devem ser respeitadas por todas as mulheres, e elas só mercem respeito se forem mães, esposas e namoradas dedicadas. É a nossa forma de "apedrejamento" que nós tanto criticamos do Antigo Testamento.
Somos iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros. E, dessa forma, a sociedade continua governada pelo pensamento masculino que, muitas vezes, é cultivado até mesmo pelas mulheres. Quando nós mulheres criticamos "A outra" e apoiamos nossos maridos com a justificativa de que eles têm que seguir seus instintos, estamos servindo como mais uma peça na engrenagem da alienação.
Os homens são sempre os juízes, estão acima de tudo. Eles podem decidir se somos "para casar" ou não, se merecemos a vida ou a morte. Eles podem usar qualquer justificativa ligada aos seus instintos, pois, eles são animais incontroláveis...isso separa a criação entre homens irracionais e mulheres racionais?
Aos homens tudo se perdoa, mas, e a mulher? Assim como nos grandes romances do século XIX, a mulheres deste século tão "evoluído" não têm o direito ao perdão da sociedade quando transgridem suas leis e, desta forma, nós somos Madame Bovary e Ana Karênina deste tempo, e homens como o goleiro Bruno são nossos juízes e usam isso nos tribunais para defender-se. Até que ponto nossa soceidade pode ser considerada racional por agira desta forma? Temos que aprender muito com os animais irracionais então.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Homenagem feita por Pablo Neruda ao poeta brasileiro Castro Alves

Castro Alves do Brasil


Castro Alves do Brasil, para quem cantaste?
Para a flor cantaste? Para a água
cuja formosura diz palavras às pedras?
Cantaste para os olhos para o perfil recortado
da que então amaste? Para a primavera?

Sim, mas aquelas pétalas não tinham orvalho,
aquelas águas negras não tinham palavras,
aqueles olhos eram os que viram a morte,
ardiam ainda os martírios por detrás do amor,
a primavera estava salpicada de sangue.

- Cantei para os escravos, eles sobre os navios
como um cacho escuro da árvore da ira,
viajaram, e no porto se dessangrou o navio
deixando-nos o peso de um sangue roubado.

- Cantei naqueles dias contra o inferno,
contra as afiadas línguas da cobiça,
contra o ouro empapado do tormento,
contra a mão que empunhava o chicote,
contra os dirigentes de trevas.

- Cada rosa tinha um morto nas raízes.
A luz, a noite, o céu cobriam-se de pranto,
os olhos apartavam-se das mãos feridas
e era a minha voz a única que enchia o silêncio.

- Eu quis que do homem nos salvássemos,
eu cria que a rota passasse pelo homem,
e que daí tinha de sair o destino.
Cantei para aqueles que não tinham voz.
Minha voz bateu em portas até então fechadas
para que, combatendo, a liberdade entrasse.

Castro Alves do Brasil, hoje que o teu livro puro
torna a nascer para a terra livre,
deixam-me a mim, poeta da nossa América,
coroar a tua cabeça com os louros do povo.
Tua voz uniu-se à eterna e alta voz dos homens.
Cantaste bem. Cantaste como se deve cantar.

Pablo Neruda

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Castro Alves - as várias faces de um romântico


Na escola aprendemos que o Romantismo no Brasil é divido em três fases: A primeira fase é a nacionalista, a segunda é a da Geração do Mal do século (byroniana) e a terceira é a do condoreirismo. Tudo parece muito simples quando aparece dividido nos livros didáticos e nós temos a visão de que há escritores que escrevem exclusivamente de uma forma.
Sendo assim Castro Alves, maior expoente da poesia libertária, só escreveria poemas que mostrassem a sua revolta contra o regime escravocrata. Grande engano fazemos se deixamos de lado a complexidade de sua obra.
Obviamente ele se torna ainda mais popular por ser o "Poeta dos Escravos", título que ganhou ao escrever poemas de forte caráter social, imbuídos do sentimentalismo latente no jovem estudante de Direito que via um mundo de glórias em sua frente.
E fazemos bem em louvá-lo por sua obra libertária, que trouxe às terras brasileiras a essência do condoreirismo pregado por Victor Hugo.
Poemas como "Navio Negreiro" e "Vozes d'África", tornaram-se clássicos, provando que Castro Alves tinha mesmo o espírito abolicionista. Diferente de outros românticos, não fechou os olhos para uma das mais crueis mazelas que assolavam a sociedade brasileira, cantava as belezas, mas não esquecia do navio negreiro que, ostentava a bandeira brasileira por entre os mares, envergonhando a pátria amada e deixando o coração de homens lá na África, enquanto seus corpos eram transportados em condições miseráveis. Ele também cantava as dores da senzala, da escrava que sofre por medo de ser separada do filho no meio da noite, das cruzes na estrada que indicavam a morte de bravos guerreiros negros...e o choro da Mãe África ao ver tamanha crueldade com seus filhos.
Castro Alves era também um homem apaixonado. Nos vinte quatro anos em que andou por este mundo, ele amou muitas mulheres. Mulheres mais jovens, mais velhas, judias, cristãs, de olhos negros, olhos azuis, angelicais, sensuais...muitas mereceram poemas seus. Tadavia, nenhuma foi tão amada e lhe trouxe tanto sofrimento quanto a atriz portuguesa Eugênia Câmara.
Entre alguns poemas tipicamente românticos, Castro Alves canta a saudade do amor que se foi, do amor inacessível...em outros poemas, ele diferencia-se pela sensualidade com que trata a figura feminina, tornando-a acessível aos prazeres carnais que o amor proporcionam.
No poema "Mocidade e Morte", Castro Alves deixa transparecer uma melancolia pela morte próxima, enquanto o poeta ainda vislumbrava uma vida de glórias na carreira e no amor. Ele ainda destinou poemas ao sertão, a poetas e figuras históricas admiráveis...em suma, Castro Alves não se limitou a uma classificação cronológica, ele foi versátil, começou um processo de transição do Romantismo exageradamente sentimentalista para uma poesia mais consciente não apenas do lado social, mas do papel da mulher na sociedade.
É difícil definir Castro Alves...para mim ele foi um grande poeta e grande homem, que deixou um legado essencial para a Literatura Brasileira e mundial.







sábado, 14 de agosto de 2010

José Lins do Rêgo


No dia 03 de julho de 1901, nascia no Engenho Corredor, município de Pilar, na Paraíba, José Lins do Rêgo, filho de João do Rêgo Cavalcanti e de Amélia do Rêgo Cavalcanti.
Os colégios internos, famosos nos romances de José Lins do Rêgo, estiveram verdadeiramente presentes na sua vida. Aos oito anos ele foi matriculado no internato Nossa Senhora do Carmo e, três anos depois, transfere-se para o Colégio Diocesano Pio X, em João Pessoa.
Em 1918 mudou-se para Recife, onde teve contato com a obra "Dom Casmurro" de Machado de Assis e escreveu um artigo sobre Rui Barbosa na imprensa.
No ano seguinte, matriculou-se no curso de Direito em Recife, sendo um aluno desinteressado e turbulento.
Nos anos seguintes, o futuro escritor travou amizade com Olívio Montenegro, que lhe sugeriu boas leituras.
O ano de 1922 foi de efervecência literária para José Lins do Rêgo. Ele fundou, juntamente com Osório Borba, o periódico "Dom Casmurro" e substituiu Barbosa Lima Sobrinho nas crônicas literárias no Jornal do Recife.
Mesmo não sendo um aluno brilhante, o futuro escritor concluiu o curso em 1923, ano em que conheceu Gilberto Freyre, que acabava de chegar dos Estados Unidose da Europa. Gilberto exerce influência sobre ele, fazendo com que se interesse sobre escritores da língua inglesa.
José Lins do Rêgo casou-se com Dona Filomena Marsa, o casal teve três filhas: Maria Elizabeth, Maria da Glória e Maria Cristina.
Em 1925 tornou-se promotor público em Manhuaçu, Minas Gerais. No ano seguinte, porém, abandonou o cargoe, nomeado fiscal de bancos, transferiu-se com a mulher para Maceió. No Jornal de Alagoas, escreveu crônicas literárias. Nos anos seguintes, finalmente iniciou sua carreira de romancista iniciando o que ficou conhecido como o Ciclo da cana-de-açúcar; "Menino de Engenho" (1932), "Doidinho" (1933) e "Bangue" (1934) são os três primeiros.
O escritor mudou-se para o Rio de Janeiro em 1935, onde passou a exercer as funções de Fiscal do Imposto de Consumo. Publicou "Moleque Ricardo" e em 1936 publicou "Usina". Ainda na década de trinta temos "Pureza" (1937), "Pedra Bonita" (1938), "Riacho Doce" (1939). No ano de 1941, publicou o romance "Água-Mãe", que lhe valeu o prêmio Felipe d'Oliveira.
Fechou o Ciclo da cana-de-açúcar com "Fogo Morto" publicado em 1943.
Em 1947 ganhou o prêmio Fabio Prado com o livro "Eurídice".
No ano de 1952 publicou "Bota de sete léguas" e "Homens, seres e coisas". Publicou "Cangaceiros" em 1953. Em 1956 publicou "Meus Verdes Anos", livro de memórias.
Faleceu em 12 de setembro de 1957, no Rio de Janeiro.


domingo, 8 de agosto de 2010

Oscar Wilde


Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde, ou simplesmente Oscar Wilde, nasceu no dia 16 de outubro de 1854 em Dublim, na Irlanda. Seu pai era o célebre cirurgião irlandês Sir William Wilde e sua mãe era escritora e se chamava Jane Francesca Elgee.
Quando tinha vinte anos, Oscar Wilde passou a frequentar a Universidade de Oxford, depois de ter estudado no Trinity College, de Dublim. Passou então a assumir um papel de chefia num movimento estético com influências de Maththew Arnold, Ruskin e Pater. Em 1881 publicou um livro "Poemas" e, em 1882, fez uma viagem para a América, onde proferiu inúmeras conferências e expôs a sua "Filosofia estética". Foi encenada em Nova Iorque a sua primeira peça "Vera".
No ano de 1884 se casou com Constance Lloyde, e a partir de de 1888 iniciou uma fase de intensa produção literária com "O Príncipe Feliz". Seguiram-se "O Crime de Lord Arthur Saville e Outras Histórias" em 1891, e seu único romance "O Retrato de Dorian Gray" que, publicado também em 1891, tornou-se uma das obras mais marcantes da carreira literária de Oscar Wilde.
Sua primeira comédia, "O Leque de Lady Windermere", foi publicada no ano de 1892. No ano seguinte, estreava em Paris "Salomé" escrita em francês. As comédias Im"Uma Mulher sem Importância" e "Um Marido Ideal" de 1895, retratam brilhantemente, num misto de superficialidade e sentimentalismo , as convenções da "Boa Sociedade". É também de 1895 "Quanto Importa Ser Leal" , apurada crítica da sociedade britânica do seu tempo. Estas comédias de salão, escritas com ironia e notáveis paradoxos, servidos por um diálogo muito vivo, fizeram com que Oscar Wilde renovasse a dramaturgia vitoriana.
Porém, pouco depois de alcançar a glória como escritor, Oscar Wilde foi acusado de manter um relacionamento amoroso com um jovem. Ele foi condenado a dois anos de trabalhos forçados. Cumprida a pena, Oscar Wilde estava aruinado materialmente. Sendo abandonado pela família ele foi viver em Paris. Ainda publicou "Balada do Cárcere de Reading" em 1898.
No dia 30 de Novembro de 1900, o mundo perdeu o grande escritor Oscar Wilde, um defensor da liberdade da arte perante a vida, que definia-se perfeitamente ao afirmar que "O objetivo da arte é revelar a arte e esconder o artista". "De profundis" foi uma obra póstuma publicada no ano de 1905.

domingo, 25 de julho de 2010

25 de Julho - Dia Nacional do Escritor


Hoje o Brasil comemora o Dia do Escritor...o que eu poderia dizer sobre estes homens e mulheres que fazem a minha vida e a de tantas outras pessoas melhor? Poderia usar significados do dicionário para designar a arte de escrever...poderia usar teorias literárias sobre o modo de produção, o processo de criação de uma obra...não! Vou fazer um post intimista.
Nos momentos mais importantes da minha vida, sejam felizes ou tristes, eu estive acompanhada de um livro.
O que seria de mim naquele dia triste em que chorei no meu quarto o dia todo, se Machado de Assis não tivesse escrito "Dom Casmurro"? Eu passaria noites difíceis, tenho toda a certeza...ao ficar refletindo horas e horas na minha cama sobre a magia do livro que li, eu esqueci daqueles problemas, portanto, embora a Literatura não tenha o dever de ajudar nem de servir como ombro amigo, naqueles tempos em que precisei, eu tive Machado de Assis comigo.
E o que seria de mim naquele segundo ano da faculdade, no qual eu estava confusa, se eu não tivesse comigo "O Morro dos Ventos Uivantes" para fazer com que eu me apaixonasse novamente pelo mundo da ficção literária? Emily Brontë fez cair por terra alguns preconceitos que eu tinha e me fez apaixonar-se por um certo personagem que provoca sentimentos paradoxais em muitos leitores...nem precisa dizer quem é não é mesmo?
E o que dizer do dia em que terminei de ler "Olhai os lírios do campo"? Quando Érico Verissimo faz com que Eugênio e sua filhinha passeiem sob o dia alegre em Porto Alegre, eu imaginava que a vida poderia ser melhor...que sempre haverão tardes ensolaradas para se andar pela cidade e se aproveitar da beleza que existe nas coisas simples da vida. E muito mais ele me inspirou...me inspirou a ver a vida cotidiana com maior poeticidade, a ver também que há muito sofrimento nesta vida, mas que devemos continuar procurando nosso lugar ao sol...
E quando nós nos identificamos com um personagem? Enquanto lia "Rebecca" de Daphne du Maurier eu me identificava com aquela mulher sem nome, que sofria por ser sempre a segunda, mesmo sendo a atual.
E muitos outros me inspiraram, com muitos outros eu me identifiquei. Não estou afirmando que a Literatura tem alguma função, como a de instruir ou servir como manual de sobrevivência...não! De forma alguma!
Mas a Literatura provoca em nós a catarse, que faz com que o leitor conheça o ser humano por outros olhos e se identifique ou não com aquilo que lhe é descrito. Os bons escritores não nos entregam obras fechadas, pelo contrário! Eles nos entregam obras que proporcionam o envolvimento do leitor e mil leituras diferentes...nós, que somos os leitores, temos a honra de participar da construção dos significados que uma obra apresenta. Desta forma, continuamos lendo até hoje obras escritas há séculos, milênios, décadas...ou dias e meses. Desta forma, o homem nutre seu desejo por aventura, por amor, por poesia, toda a diversidade de sentimentos e sentidos (bons ou ruins) que permeiam a Literatura.
O que podemos dizer para estes homens e mulheres que nos proporcionam tudo isso através de suas obras?
Não há palavras para descrever...só podemos agradecer e desejar que a inspiração nunca falte, assim como o desejo de tornar este mundo mais interessante.