terça-feira, 28 de setembro de 2010

Nada de novo no front - Erich Maria Remarque


"Nada de novo no front". Esta sentença põe fim a uma guerra, a Primeira Grande Guerra, que anunciava os contornos desatrosos que os conflitos mundiais trariam para a humanidade.
Para Erich Maria Remarque, homem que esteve na guerra ainda jovem e viu suas idealizações bélicas tornarem-se pó em meio ao caos sangrento, esta sentença é a sentença de um novo rumo na vida, vida esta que começava em meio a morte. Paul, protagonista do romance, chega mesmo a dizer que outros haviam partido para as trincheiras deixando para trás um passado, seria então, mais fácil voltar, mas, ele e seus amigos que acabavam de sair da adolescência, não tinham nada no passado, começariam suas vidas naquela guerra, em meio a destruição física e moral de muitos homens.
Muitos críticos tratam "Nada de novo no front", publicado em formato de livro no ano de 1929, como o maior romance pacifista do século XX. As colocações que o jovem desiludido Paul faz sobre a vida no front de batalhas, leva mesmo a esta conclusão. Cada sofrimento, cada agonia, cada ameaça de morte a ele ou a um dos companheiros, faz com que o leitor considere a guerra uma grande ferida inútil na História da humanidade.
No front de batalhas Paul reflete sobre a efemeridade da vida naquelas condições:
Nossos pensamentos são como o barro,modelados pela mudança dos dias:
são bons, quando temos dencanso, e fúnebres, quando estamos sob o fogo.
Fora e dentro de nós, há campos cheios de crateras.
(p.206)

A vida sob o fogo cruzado não permite o nascimento de planos futuros, tudo caminha de acordo com o êxito da batalha. As crateras não se formam apenas nos campos nos quais as granadas são lançadas ou no peito do soldado morto; elas se formam na consciência do soldado que sobrevive fisicamente, mas sente-se morrer ao perceberem que lutam por uma causa que não é sua, que nem ao menos conhecem direito. Os mesmo princípios que os levam a matar estão presentes na cabeça do inimigo, então, quem estaria com a razão? Alemãos, franceses, ingleses, russos...todos foram convencidos a aceitar a guerra como verdade absoluta.
As situações extremas levam os soldados a tomarem atitudes incompreensíveis para homens que deveriam estar longe da sensibilidade com a dor alheia. Os "relâmpagos" da sanidade tornam os soldados frágeis. Um exemplo disso é o o personagem Berger que, para salvar um cão, ou pelo menos dar-lhe o tiro de redenção, arrisca e perde sua vida.

Na verdade, deve ter ficado completamente louco, pois terá de atravessar uma barreira de fogo; mas é o relâmpago, sempre à espreita do nosso íntimo,que o atingiu e o transformou num possesso. Alguns deliram,outros fogem...e houve quem tentava sem parar enterrar-se, com as mãos, os pés e a boca.
(p.211)
A morte é uma constante. Torna-se parte do dia-a-dia e, mais do que nunca, a máxima de que ela é a única certeza que o homem tem torna-se presente.

Muller está morto. à queima-roupa, deram-lhe um tiro no estômago, com very Light. Ainda viveu meia hora, perfeitamente lúcido, sofrendo dores atrozes. Antes de morrer, entregou-me sua carteria e me deixou suas botas...as mesmas que herdara de Kemmerich.
(p.211).

E logo outros partiriam, já haviam partido. Deixariam suas botas de herança para os companheiros que, na distância de casa, tornavam-se a família construída no lar de destruição e desespero. Qual será o desepero de um homem em frente a morte ou sob ameaça constante? É a questão que o leitor reflete ao solidarizar-se com o alemão Paul. O tempo passa, vidas se vão, a morte fica.

Passam-se os meses. este verão de 1918 é o mais sangrento e o mais terrível de todos. Os dias são como anjos vestidos de dourado e azul, impassíveis sobre o campo da morte. Aqui, todos sabem que estamos perdendo a guerra. Não se fala muito nisto: recuamos, não vamos mais poder atacar depois desta grande ofensiva, não temos mais homens, nem munição.
Entretanto, a luta continua...a morte continua...
(p.215)

As razões que levaram os livros de Erich Maria Remarque a serem queimados durante a Segunda Guerra Mundial são muito claras no romance. Num período de ostensivo nacionalismo e dominação psicológica, não era muito comôdo ao regime nazista que o povo conhecesse a fundo a inferioridade do exército alemão no fim do primeiro conflito mundial.

Nossa artilharia está no fim...tem pouca minição...e os canos estão tão gastos que os tiros não são certeiros e atingem nossos próprios soldados. Temos poucos cavalos, nossas tropas compõe-se de rapazes anêmicos, que precisam de cuidados, que não conseguem nem carregar mochilas, mas que sabem simplesmente morrer aos milhares. Nada conhecem de guerra, apenas avançam e deixam-se derrubar . Um único aviador divertiu-se exterminando duas companhias de recrutas como estes, quando acabavam de sair do trem, antes mesmo de terem ouvido falar em abrigo!
- A Alemanha deve ficar vazia em breve - diz Kat.
(p.212).

Depois de tudo que passou, chega a conclusão de quem não tem mais nada onde se firmar, pois não teve tempo de construir uma história antes da guerra, agora só restava tentar se reconstruir, assim como o mundo teria de fazer.

E as pessoas não nos compreenderão, pois, antes da nossa, cresceu uma geração que, sem dúvida, passou esses anos junto a nós, mas que já tinha um lar e uma profissão, e que agora voltará para suas antigas colocações e esquecerá a guerra...e, depois de nós, crescerá uma geração, semelhante à que fomos em outros tempos, que nos será estranha e nos deixará de lado. Seremos inúteis até para nós mesmos. Envelheceremos, alguns se adaptarão, outros simplesmente resignar-se-ão e, por fim, pereceremos todos.
(p.222)

É, os homens nunca compreenderão. Quando Erich Maria Remarque e tantos outros largaram a escola e, a conselho dos pais, professores, eles foram lutar por uma guerra que descobriram não ser deles. Seus nomes não estarão estampados individualmente me livros de História, serão parte de um sistema bélico pronto para destrui-lhes os sonhos, as ilusões da juventude. Coube ao protagonista Paul, que dá vida as emoções de Remarque, expressar a sua perplexidade numa narrativa destituída de patriotismo, crua e realista.
"Nada de novo no front" firmou uma posição radicalmente pacifista em um mundo que ainda via a guerra como uma alternativa política e determinou o perfil antibelicista que habita a literatura ocidental até hoje.






2 comentários:

  1. Eu era jovem quando li este livro (n que eu seja tão velha!!!kkk), e , sendo por natureza pacifista, me senti mais ainda... Ponderei porque os jovens morrem por guerras que n são deles e que nem sabem porque? E os inocentes então? Na minha idéia toda guerra é burra, nada que n se resolva conversando. O que esttá em jogo são motivos políticos e puramente comerciais. Queria que todos lessem e sentissem e agissem com mais sensatez.
    Bela ressenha amiga. Vc é poderosa. Um grande beijo. E viva a paz o belo e a poesia, enquanto estamos vivas.Ciao!

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  2. Gostei da sua resenha, da uma olhada na minha. vlw

    http://vestigiodelivros.blogspot.com.br/2016/03/resenha-nada-de-novo-no-front-erich.html

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