Dia 01 de novembro é o dia de todos os santos, comemorado pela Igreja Católica. Pensando nisso, resolvi aliar este tema com Literatura e pensei no Inglês Tomás Morus. Sim, ele é um santo da Igreja Católica, mas também é um grande escritor da língua inglesa, sendo responsável por uma das obras mais apreciadas pela crítica: "Utopia".
Thomas Morus, forma alatinada por que é literariamente conhecido Thomas Moore, Grande Chanceler da Inglaterra, nasceu em Londres em 1478 e foi aí decapitado em 1535. Filho de um dos juízes do banco dos reis, foi aos quinze anos colocado como pagem do Cardeal Morton, Arcebispo de Cantuária. Em 1497 foi terminar seus estudos em Oxford, onde conheceu Erasmo. Fez durante três anos o curso de Legislação, ao mesmo tempo que se preparava para exercer a advocacia.
Pouco depois da ascensão de Henrique VII, foi referendário e membro do Conselho Privado (1514). Acompanhou o rei da Inglaterra ao campo de Drap d’or em 1520. Após a queda do cardeal Wolsey foi nomeado Grande Chanceler (1529).
Quando Henrique VIII abjurou o catolicismo, Morus, então ligado à Igreja Romana, pediu demissão do cargo (1532), descontentando com esse gesto o Rei. No ano seguinte ofendeu mortalmente Ana Bolena, recusando-se a assistir à sua coroação e a prestar fidelidade a seus descendentes. Foi condenado à prisão perpétua e ao confisco de todos os seus bens. Pouco tempo depois foi condenado à morte por crime de alta traição e decapitado em Londres em 1535.
A “Utopia”, sua obra mais divulgada, e que lhe deu renome universal, foi editada em Basileia (Suíça) por Erasmo a quem Morus estava ligado por fortes laços de amizade e a quem revelava, em sua correspondência particular, a repugnância que sentia pela vida parasitária e faustosa da corte: “Não podes avaliar”, escrevia-lhe, “com que aversão me encontro envolvido nesses negócios de príncipes; não há nada mais odioso que esta embaixada”... Referia-se à embaixada diplomática enviada pelo Rei da Inglaterra a Flandres afim de resolver um dissídio surgido entre este pais e o príncipe Carlos de Castela.
A “Utopia” representa a primeira crítica fundamentada do regime burguês e encerra uma análise profunda das particularidades inerentes ao feudalismo em decadência. A forma é muito simples; é uma conversação íntima durante a qual Morus aborda ex-abrupto as questões mais novas e mais difíceis. Sua palavra, às vezes satírica e jovial, outras, de uma sensibilidade comovedora, é sempre cheia de força.
A primeira parte é o espelho fiel das injustiças e misérias da sociedade feudal; é, em particular, o martirológio do povo inglês sob o reinado de Henrique VII. Entretanto, o povo inglês não era vítima unicamente da avareza do rei; outras causas de opressão e sofrimento o atormentavam. A nobreza e o clero possuíam a maior parte do solo e das riquezas públicas; estes bens permaneciam estéreis para a grande massa de trabalhadores. Além disso, nessa época, os grandes senhores mantinham uma multidão de vassalos, seja por amor ao fausto, seja para assegurar a impunidade de seus crimes ou ainda para utilizá-los como instrumentos de violência contra os vilões. Esta vassalagem era o terror do camponês e do trabalhador.
De outro lado, o comércio e a indústria da Inglaterra não tinham muita expansão antes das descobertas de Vasco da Gama e Colombo. E assim, as gerações se sucediam sem finalidade, sem trabalho e sem pão. A agricultura estava em ruínas desde que a nascente indústria da lã, prometendo lucros espantosos, fez com que terras imensas fossem transformadas em pastagens para carneiros. Em conseqüência disto uma multidão de camponeses viu-se reduzida à miséria, trazendo uma multiplicação de mendicidade, vagabundagem, roubos e assassínios. Por sua vez a lei inglesa era de uma severidade inaudita, punindo com a morte, indistintamente, o ladrão, o vagabundo e o assassino.
Com semelhante panorama social diante dos olhos, compreende-se a dureza e amargura das críticas de Morus contra uma sociedade tão profundamente desorganizada e injusta.
Thomas Morus, depois de ter na “Utopia” feito uma sátira a todas as instituições da época, edifica uma sociedade imaginária, ideal, sem propriedade privada, com absoluta comunidade de bens e do solo, sem antagonismos entre a cidade e o campo, sem trabalho assalariado, sem gastos supérfluos e luxos excessivos, com o Estado como órgão administrador da produção, etc.
Embora o caráter essencialmente imaginário e quimérico da “Utopia”, a obra de Morus fica na história do socialismo como a primeira tentativa teórica da edificação de uma sociedade baseada na comunidade dos bens. E o seu nome ficou para sempre incorporado ao vocabulário universal como o significado do todo sonho generoso de renovação social...
Quatro séculos depois da sua morte, em 1935, Tomás Morus foi canonizado pela Igreja católica.
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