quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Anne Brontë - a caçula da extraordinária família inglesa

Anne Brontë é a mais nova das três irmãs Brontë, todas escritoras famosas, Ela, Emily e Charlotte morreram relativamente cedo e adotaram pseudônimos em suas carreiras literárias. Charlotte, a mais velha, assinava suas obras com o nome de Currer. Emily, autora de "O Morro dos Ventos Uivantes", usava Ellis e Anne, Acton. O sobrenome usado pelas três era Bell. A obra das Irmãs Brontë não se filia a nenhuma escola literária, de forma muito clara, mas retrata inequivocadamente o início da Era Vitoriana, a primeira metade do século XIX.
Certa vez, lendo uma crítica sobre a obra das três, fiquei muito curiosa por conhecer os romances de Anne, já que ela era citada como a mais "fraca" entre as três. Quando conheci dois romances dela, pude compreender que esta colocação não passa de uma grande equívoco. Primeiramente, não podemos comparar a obra das irmãs e dizer que uma é mais "fraca" do que a outra. Todas têm seus méritos, suas semelhanças e diferenças.
O primeiro romance de Anne que eu conheci foi "Agnes Grey" editado no Brasil com o título "A Preceptora". O mundo das irmãs Brontë era mesmo propício ao conhecimento de um lado da sociedade não descrito ainda por mulheres em seus romances. O título deste romance já diz tudo: uma jovem obrigada pelas condições familiares a dedicar sua juventude ao ensino dos filhos das famílias ricas. Em contato com pessoas com quem não tem nenhum parentesco ou amizade, ela vive todas as espécies de desenganos que costumam acompanhar o trabalho de uma professora naquelas circunstâncias. Era a mulher que precisava ir em busca do sustento, que produzia seu próprio dinheiro.
Apesar da leveza e aparente ingenuidade do enredo, "A Preceptora" é uma obra de sutil denúncia dos abusos e privilégios de seu tempo.
Fiquei mais encantada ainda quando li "A Moradora de Wildfell Hall", romance que tem como protagonista uma mulher que não concorda com o comportamento desvirtuado do marido e foge com seu filho em busca de uma vida mais digna. Imagino qual deve ter sido o choque dos homens da época sabendo que suas esposas leram um livro que poderia inspirá-las a não ser passivas quanto ao sofrimento imposto por eles. Helen, a protagonista em questão, se apega a religião e luta até o último momento para mudar o comportamento do marido que escolheu...aí está outro ponto importante; ela escolheu aquele homem contra a vontade dos tios, portanto, deveria pagar o preço por sua escolha. Quando percebe a influência daquele homem sobre seu filho, Helen toma as rédeas da própria vida e foge de casa indo residir no campo, bem longe da propriedade do marido. Na nova vida, a jovem mãe, que se diz "viúva", precisa buscar seu sustento através da pintura, que durante seus tempos de solteira era apenas uma diversão. Outra vez temos a mulher ativa na sociedade, como um ser que não serve apenas de enfeite numa festa ou reunião social.
Depois de conhecer dois romances de Anne Brontë, percebi que deveria fazer este post defendendo sua obra e mostrando que, assim como Charlotte e Emily, ela merece seu destaque em qualquer conversa sobre Literatura de boa qualidade, pois é uma grande escritora, a frente do seu tempo e com ideias muito interessantes sobre o lugar da mulher na sociedade inglesa do período no qual viveu.

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