domingo, 27 de fevereiro de 2011

Moacyr Scliar - O adeus ao escritor gaúcho



















A Literatura está de luto neste dia 27 de fevereiro de 2011.Morreu na cidade de Porto Alegre,
Moacyr Jaime Scliar, ou apenas Moacyr Scliar, como é conhecido pelo grande público. Foi Também na capital gaúcha que o escritor nasceu, no dia 23 de março de 1937. Moacyr Scliar tinha 73 anos e seu nome ficará marcado eternamente na Literatura de Língua Portuguesa. O blog "Devaneios Literários" sente muito a perda deste grande escritor.




Bibliografia:


Conto

O carnaval dos animais. Porto Alegre, Movimento, 1968.

A balada do falso Messias. São Paulo, Ática, 1976.

Histórias da terra trêmula. São Paulo, Escrita, 1976.

O anão no televisor. Porto Alegre, Globo, 1979.

Os melhores contos de Moacyr Scliar. São Paulo, Global, 1984.

Dez contos escolhidos. Brasília, Horizonte, 1984.

O olho enigmático. Rio, Guanabara, 1986.

Contos reunidos. São Paulo, Companhia das Letras, 1995.

O amante da Madonna. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1997.

Os contistas. Rio, Ediouro, 1997.

Histórias para (quase) todos os gostos. Porto Alegre, L&PM, 1998.

Pai e filho, filho e pai. Porto Alegre, L&PM, 2002.


Romance

A guerra no Bom Fim. Rio, Expressão e Cultura, 1972. Porto Alegre, L&PM.

O exército de um homem só. Rio, Expressão e Cultura, 1973. Porto Alegre, L&PM.

Os deuses de Raquel. Rio, Expressão e Cultura, 1975. Porto Alegre, L&PM.

O ciclo das águas. Porto Alegre, Globo, 1975; Porto Alegre, L&PM, 1996.

Mês de cães danados. Porto Alegre, L&PM, 1977.

Doutor Miragem. Porto Alegre, L&PM, 1979.

Os voluntários. Porto Alegre, L&PM, 1979.

O centauro no jardim. Rio, Nova Fronteira, 1980. Porto Alegre, L&PM.

Max e os felinos. Porto Alegre, L&PM, 1981.

A estranha nação de Rafael Mendes. Porto Alegre, L&PM, 1983.

Cenas da vida minúscula. Porto Alegre, L&PM, 1991.

Sonhos tropicais. São Paulo, Companhia das Letras, 1992.

A majestade do Xingu. São Paulo, Companhia das Letras, 1997.

A mulher que escreveu a Bíblia. São Paulo, Companhia das Letras, 1999.

Os leopardos de Kafka. São Paulo, Companhia das Letras, 2000.

Na Noite do Ventre, o Diamante. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2005.


Ficção infanto-juvenil

Cavalos e obeliscos. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1981; São Paulo, Ática, 2001.

A festa no castelo. Porto Alegre, L&PM, 1982.

Memórias de um aprendiz de escritor. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1984.*

No caminho dos sonhos. São Paulo, FTD, 1988.

O tio que flutuava. São Paulo, Ática, 1988.

Os cavalos da República. São Paulo, FTD, 1989.

Pra você eu conto. São Paulo, Atual, 1991.

Uma história só pra mim. São Paulo, Atual, 1994.

Um sonho no caroço do abacate. São Paulo, Global, 1995.

O Rio Grande farroupilha. São Paulo, Ática, 1995.

Câmera na mão, o Guarani no coração. São Paulo, Ática, 1998.

A colina dos suspiros. São Paulo, Moderna, 1999.

Livro da medicina. São Paulo, Companhia das Letrinhas, 2000.

O mistério da Casa Verde. São Paulo, Ática, 2000.

O ataque do comando P.Q. São Paulo, Ática, 2001.

O sertão vai virar mar, São Paulo, Ática, 2002.

Aquele estranho colega, o meu pai. São Paulo, Atual, 2002.

Éden-Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 2002.

O irmão que veio de longe. Idem, idem.

Nem uma coisa, nem outra. Rio, Rocco, 2003.

Navio das cores. São Paulo, Berlendis & Vertecchia, 2003.


Crônica

A massagista japonesa. Porto Alegre, L&PM, 1984.

Um país chamado infância. Porto Alegre, Sulina, 1989.

Dicionário do viajante insólito. Porto Alegre, L&PM, 1995.

Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar. Porto Alegre, L&PM, 1996. Artes e Ofícios, 2001.

O imaginário cotidiano. São Paulo, Global, 2001.

A língua de três pontas: crônicas e citações sobre a arte de falar mal. Porto Alegre.


Ensaio

A condição judaica. Porto Alegre, L&PM, 1987.

Do mágico ao social: a trajetória da saúde pública. Porto Alegre, L&PM, 1987; SP, Senac, 2002.

Cenas médicas. Porto Alegre, Editora da Ufrgs, 1988. Artes&Ofícios, 2002.

Se eu fosse Rotschild. Porto Alegre, L&PM, 1993.

Judaísmo: dispersão e unidade. São Paulo, Ática, 1994.

Oswaldo Cruz. Rio, Relume-Dumará, 1996.

A paixão transformada: história da medicina na literatura. São Paulo, Companhia das Letras, 1996.

Meu filho, o doutor: medicina e judaísmo na história, na literatura e no humor. Porto Alegre, Artes Médicas, 2000.

Porto de histórias: mistérios e crepúsculos de Porto Alegre. Rio de Janeiro, Record, 2000.

A face oculta: inusitadas e reveladoras histórias da medicina. Porto Alegre, Artes e Ofícios, 2000.

A linguagem médica. São Paulo, Publifolha, 2002.

Oswaldo Cruz & Carlos Chagas: o nascimento da ciência no Brasil. São Paulo, Odysseus, 2002.

Saturno nos trópicos: a melancolia européia chega ao Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 2003.

Judaísmo. São Paulo, Abril, 2003.

Um olhar sobre a saúde pública. São Paulo, Scipione, 2003.


O escritor gaúcho teve sua obra traduzida para diversos idiomas, entre eles inglês, alemão, francês, italiano, espanhol, russo e hebraico.


A noite em que os hotéis estavam cheios

Moacyr Scliar


O casal chegou à cidade tarde da noite. Estavam cansados da viagem; ela, grávida, não se sentia bem. Foram procurar um lugar onde passar a noite. Hotel, hospedaria, qualquer coisa serviria, desde que não fosse muito caro.
Não seria fácil, como eles logo descobriram. No primeiro hotel o gerente, homem de maus modos, foi logo dizendo que não havia lugar. No segundo, o encarregado da portaria olhou com desconfiança o casal e resolveu pedir documentos. O homem disse que não tinha, na pressa da viagem esquecera os documentos.
— E como pretende o senhor conseguir um lugar num hotel, se não tem documentos? — disse o encarregado. — Eu nem sei se o senhor vai pagar a conta ou não!
O viajante não disse nada. Tomou a esposa pelo braço e seguiu adiante. No terceiro hotel também não havia vaga. No quarto — que era mais uma modesta hospedaria — havia, mas o dono desconfiou do casal e resolveu dizer que o estabelecimento estava lotado. Contudo, para não ficar mal, resolveu dar uma desculpa:
— O senhor vê, se o governo nos desse incentivos, como dão para os grandes hotéis, eu já teria feito uma reforma aqui. Poderia até receber delegações estrangeiras. Mas até hoje não consegui nada. Se eu conhecesse alguém influente... O senhor não conhece ninguém nas altas esferas?
O viajante hesitou, depois disse que sim, que talvez conhecesse alguém nas altas esferas.
— Pois então — disse o dono da hospedaria — fale para esse seu conhecido da minha hospedaria. Assim, da próxima vez que o senhor vier, talvez já possa lhe dar um quarto de primeira classe, com banho e tudo.
O viajante agradeceu, lamentando apenas que seu problema fosse mais urgente: precisava de um quarto para aquela noite. Foi adiante.
No hotel seguinte, quase tiveram êxito. O gerente estava esperando um casal de conhecidos artistas, que viajavam incógnitos. Quando os viajantes apareceram, pensou que fossem os hóspedes que aguardava e disse que sim, que o quarto já estava pronto. Ainda fez um elogio.
— O disfarce está muito bom. Que disfarce? Perguntou o viajante. Essas roupas velhas que vocês estão usando, disse o gerente. Isso não é disfarce, disse o homem, são as roupas que nós temos. O gerente aí percebeu o engano:
— Sinto muito — desculpou-se. — Eu pensei que tinha um quarto vago, mas parece que já foi ocupado.
O casal foi adiante. No hotel seguinte, também não havia vaga, e o gerente era metido a engraçado. Ali perto havia uma manjedoura, disse, por que não se hospedavam lá? Não seria muito confortável, mas em compensação não pagariam diária. Para surpresa dele, o viajante achou a idéia boa, e até agradeceu. Saíram.
Não demorou muito, apareceram os três Reis Magos, perguntando por um casal de forasteiros. E foi aí que o gerente começou a achar que talvez tivesse perdido os hóspedes mais importantes já chegados a Belém de Nazaré.

Fonte: www.releituras.com/mscliar




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