O conto "Aqueles Dois" é subjetivo do início ao fim. Sem levantar bandeiras, Caio Fernando Abreu conta uma estória que sintetiza o verdadeiro significado da palavra Preconceito, um conceito que as pessoas adquirem antes de conhecer alguém ou alguma coisa, antes de entenderem uma situação.
Os nomes dos personagens são semelhantes: Raul e Saul. Um Loiro o outro moreno. Um com Trinta e um anos o outro com vinte e nove. Um do Sul o outro do Norte. Os dois passaram no mesmo concurso, mas não se encontraram durante as provas.
Ao chegar na repartição pública, um prédio desprovido de vida, que mais parecia um hospital, com pessoas nada interessantes, que na maioria das vezes, trabalha sem nenhum objetivo maior do que receber seu salário no fim do mês. Entre estes "fantasmas" encontram-se dois homens com experiências parecidas: um acaba de sair de um casamento fracassado, três anos e nenhum filho. O outro, acaba de sair de um noivado eterno, tão eterno que um dia acabou.
Logo, mesmo entre a timidez do desconhecido, Raul e Saul começam uma amizade terna e subjetiva. Aos poucos, eles se tornam necessários um para o outro, mesmo que tentem esconder isso de si próprios, andando de um lado para o outro enquanto esperam uma notícia do amigo.
As músicas que ouvem, os presentes que trocam, a falta que um sente do outro, a companhia que se torna uma necessidade...tudo isso prococa risos desfarçados das moças da repartição pública.
Quando num dia os dois se atrasam para o serviço e chegam com os cabelos molhados, a situação se transforma. Agora não eram só indícios. Para os demais funcionários era uma prova.
Ao demitir Raul e Saul para manter a "moral" daquele prédio sem vida, o chefe colabora para que o ar fantasmagórico predomine no local, pois, quando aqueles dois saem juntos e vão embora no mesmo táxi, os demais funcionários entendem que seriam infelizes para sempre, deixando para o leitor a missão de interpretar se Raul e Saul teriam o mesmo destino deles ou não.
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