sábado, 31 de outubro de 2009

O primeiro beijo - Clarice Lispector


Ao ler o título deste conto, o leitor tem reações adversas...o nome parece adolescente, mas é um conto de Clarice Lispector! A escritora intensa, apaixonante, "adulta". Clarice Lispector deixou bem claro neste conto, que os jovens têm direito a leitura de boa qualidade mesmo com temas simples ou da sua fase de vida.
O jovem casal de namorados está vivendo um momento único: o primeiro beijo. Como em muitos relacionamentos, surge um sentimento de posse e a namorada quer saber se foi também a primeira boca beijada pelo amado; muitas vezes, as pessoas exigem do parceiro aquilo que ela está entregando.
Para recordar a sua primeira experiência o namorado recorre a um recurso literário muito interessante, o Flashback, a volta ao passado. Numa tarde de viagem com a turma da escola, a janela aberta do ônibus permitia que uma brisa leve tocasse seu rosto, penetrasse em seus cabelos como se fossem dedos de uma mãe. Aquele "carinho" do vento aos poucos seca a boca do rapaz, que sente a vida se esvaindo junto com a água que perde. Nada mais sensual do que usar o vento como representação do sexo e a água como símbolo da vida.
Já quase morto de sede, uma sede subjetiva, não apenas física, o jovem encontra a salvação quando durante uma parada do ônibus, vê no meio de uma praça um chafariz que jorra água pela boca.
Correndo mais do que qualquer outro, ele cola sua boca à boca da estátua feminina e recupera aos poucos a "vida" que lhe fora tirada pelo vento que secou sua boca. A partir deste momento, várias interpretações são permitidas, inclusive a perda da inocência, justificada pelas definições do rapaz da sua vergonha e das mudanças ocorridas no seu corpo naquele momento intenso.
Ao constatar que "se tornara homem" o adolescente descobre que o amor transforma um menino em um homem de verdade.
Mais do que uma narrativa sobre um beijo primeiro, Clarice Lispector brinda o leitor com um conto que define o conceito de boa literatura para qualquer idade e para qualquer geração, já que o que ultrapassa as barreiras do tempo se torna clássico e, portanto, imortal.

Um comentário:

  1. Este trabalho me ajudou muito em meu portifólio de produções, com gêneros textuais..


    Jaqueline Melo
    Serra Talhada-PE.

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