sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Romances Sertanejos no Romantismo Brasileiro



O Brasil é um país rural, isso ninguém pode mudar. As terras férteis encantaram os colonizadores e alguns estados brasileiros como Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, entre outros, são conhecidos pela sua produção agrícola de grande importância para a economia nacional.
As fazendas de café no interior de São Paulo atraíram imigrantes europeus, logo depois da abolição dos escravos em solo nacional. A vida simples, ligada à agricultura ou a pecuária é muito interessante em nosso país e já criou estilos musicais que estão entre os mais populares, como o sertanejo de raiz, das músicas que falavam dos sentimentos e dramas do homem da terra, da natureza e dos contos antigos contados de geração para geração.
Mas não foi só a música que se valeu do campo não...a Literatura também já contou e ainda conta com o mundo rural e sertanejo como inspiração.
No século XIX o Brasil se dividia entre a Côrte e o interior. Grandes fazendeiros (barões, coronéis) não eram donos apenas das propriedades, mas também da mão de obra utilizada. A escravidão ainda imperava em solo brasileiro. Alguns estados, como os do Centro-Oeste, eram cercados pelo verde e pequenos sítios eram cultivados em meio à mata fechada.
Neste contexto surgiu um romance muito interessante, um “Romeu e Julieta” sertanejo: “Inocência” Visconde de Taunay. Este romance possui descrições idealistas da natureza mescladas com um ponto de vista científico do autor, que criou personagens interessantes que exemplificavam muito bem a forma de pensar do brasileiro longe das grandes cidades que na época sofriam intensa influência dos costumes e do pensamento europeu.
Talvez o mais popular sertanista brasileiro do século XIX tenha sido Bernardo Guimarães, que escreveu “A Escrava Isaura”, uma estória clássica romântica que separava mocinhas inocentes e puras de vilões cruéis e pervertidos em meio a uma grande fazenda de café na qual os escravos lutavam de sol a sol com a terra.
Bernardo Guimarães se aventurou por temas “polêmicos” (obviamente de acordo com os preceitos românticos). No Romance “O Seminarista” um jovem destinado à Igreja por seus pais vê sua missão se tornar cada vez mais difícil quando descobre uma paixão de infância pela filha de uma pobre viúva que morava nas terras de seu pai. O autor utilizou uma simbologia muito interessante ligada ao meio rural e as tradições religiosas bíblicas...a pequena Margarida é atacada por uma cobra enquanto brincava com o futuro padre Eugênio. Embora a criança fosse salva, a mãe de Eugênio não vê com bons olhos aquela proximidade com o animal símbolo do pecado e fica muito apreensiva quanto a relação do filho com a pobre menina.
Bernardo Guimarães utilizou também o garimpo, forma de trabalho muito comum em Minas Gerais e Goiás naquela época (e até mesmo nos dias atuais). Foi no romance “O Garimpeiro” que ele explorou esta outra face do trabalho rural.
José de Alencar é sem dúvida um romancista muito versátil. Escreveu romances urbanos, históricos, indianistas, de costume e também romances sertanejos (ou regionalistas). Em “O Sertanejo” Alencar apresenta um cenário muito conhecido seu, o Nordeste Brasileiro...uma curiosidade muito interessante é que o autor utilizou no romance “O Gaúcho” um cenário que nunca havia visitado, o Rio Grande do Sul. “Til”, “O tronco do ipê”, “O sertanejo” e “O gaúcho” mostram as peculiaridades culturais da nossa sociedade rural, com acontecimentos, paisagens e muita idealização é claro, já que estamos falando de Romantismo.
Estas são apenas algumas das tentativas de muitos autores corajosos que em plena dominação cultural européia quiseram mostrar aos brasileiros um Brasil até então desconhecido e esquecido pela Côrte. Embora a natureza diversas vezes apareça idealizada (mais lembrando talvez um cenário europeu), autores sertanistas, regionais, rurais, se lembraram que havia vida além da cidade e que a cultura rural também era rica e poderia proporcionar grandes romances. Ajudados por um movimento literário que buscava o nacionalismo e a idealização das belezas naturais brasileiras, os românticos criaram um estilo que se desenvolveria muito nos séculos seguintes e daria origem a clássicos aplaudidos pela crítica como “Os Sertões” de Euclides da Cunha e “Grande Sertão Veredas” de Guimarães Rosa, este último apresentando em enredo universal que não se limitava ao meio vivido pelos personagens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário