domingo, 20 de junho de 2010

O Missionário - Inglês de Sousa

A sensualidade já estava dentro do futuro Padre Antônio de Moraes desde pequeno. Quando corria pelos campos da fazenda paterna comendo goiabas verdes e saciando-se dos prazeres que a natureza proporciona, ele seguia seus instintos e se aproximava do comportamento selvagem e livre. O romance "O Missionário" de Inglês de Sousa, publicado no ano de 1891, é um exemplar da tese determinista, que durante o Naturalismo, defendeu a ideia de que o homem é condicionado pela hereditariedade e pelo seu ambiente físico e social.
Sendo Antônio de Moraes filho de um fazendeiro depravado e estando cercado por todos os tipos de vícios, o padrinho busca salvá-lo daquela sina e o leva para o seminário, onde seus instintos naturais foram podados na sua forma visívil, enquanto permaneciam vivos na personalidade do seminarista, que passava noites inteiras lutando para controlar suas paixões.
Ao se deparar com uma paróquia mediocre na qual a população estava acostumada com um velho padre devasso recém falecido, Padre Antônio de Moraes procura mudar a filosofia local, instituindo uma forma séria e casta de dirigir a Igreja. Sempre com pensamentos de grandeza social, se aventura na "Missão" à Mundurucânia, para dedicar-se à catequese dos canibais selvagens mundurucus. Junto de si, leva o sacristão Macário, figura muitas vezes risível, que, com seu "macavelismo" acredita ter grande influência sobre o novo padre.
Ao ser resgatado por um velho índio catequizado, padre Antônio de Moraes se depara com a neta Clarinha, mameluca filha ilegítima do Padre João da Mata, outro exemplar de vigário devasso da região.
Ao deparar-se com o local propício e tendo a tentação perto de si, Padre Antônio não resiste e libera seus instintos carnais vivendo um intenso caso com Clarinha. A decadência moral de Padre Antônio de Moraes se dá de forma lenta, mas explode de forma incontrolável.
O vigário moço percebe então, que não adianta ir contra os instintos e o sangue paterno que lhe corria nas veias. Ele usa esta convicção para tornar menor seu pecado, colocando a responsabilidade na genética e no meio social que possibilitou a exposição de um homem que resitira até aquele momento, a uma situação impossível de resistência.
O título do romance é irônico, já que a tal "missão" nunca acontecera e padre Antônio vivera os três meses do sítio do velho índio, vivendo paixões desenfreadas pela jovem Clarinha a sombra dos cacaueiros.
Exemplar legítimo do Naturalismo, o romance "O Missionário" colocou o nome de Inglês de Sousa definitivamente no mundo literário e, embora seja considerado por muitos um romance menor, ele tem suas grandezas e seus méritos.

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