sábado, 20 de novembro de 2010

Pai contra Mãe - Machado de Assis


Um pai e uma mãe. Dois dramas eminentes e uma única saída: ter compaixão ou cumprir um objetivo para seu próprio benefício. Cândido Neves, caçador de escrados fugitivos, precisa encontrar uma forma de permanecer com o filho, pois não tem dinheiro para manter o menino. Desesperado, sai com ele nos braços rumo a roda dos enjeitados. No caminho para o fatal destino, uma esperança começa a brilhar: uma escrava fugitiva poderia lhe trazer dinheiro suficiente para salvar o filho do abandono.
Ao deparar-se com a pobre escrava grávida implorando-lhe a compaixão, pois não quer ser cativa novamente e ver o filho ter o mesmo destino que a atormenta, Cândido Neves tem em sua frente um dilema muito íntimo, pois ele também é pai e, assim como aquela escrava, luta pelo filho. Na luta do pai branco contra a mãe negra o primeiro acaba vencendo e, quando a mãe aborta o bebê devido aos maltratos que recebera na captura e nos castigos, Cândido encontra uma forma típicamente machadiana de aliviar a consciência: "Nem todas as crianças vingam". Ora, o pequeno escravo poderia nascer morto de qualquer forma, ou morrer ainda bebê por consequência da situação precária na qual seria inserido.
Cândido precisa acreditar nesta "verdade" que encontrou, ele precisa voltar para a casa e viver em paz com o filho e a esposa. Nada mais conveniente.
Machado de Assis apresenta neste conto aspectos da miséria existente no Rio de Janeiro do período imperial, que contrapõe-se a riqueza e ostentação dos senhores de escravos. Logo no início, descreve formas de torturas utilizadas pelos escravocratas para manter os cativos submissos. Na descrição, nenhuma crítica clara, apenas a apresentação de objetos e situações que, por si próprios, chocam o leitor dos nossos tempos e o deixa consternado. E o leitor daquela época? Seria o filho do escravocrata leitor do conto "Pai contra Mãe"? E se fosse, sentiria vergonha pelos métodos crueis utilizados por seus pais? Saberiam que cada grão do café cultivado em suas terras foi regado com o sangue dos homens que vieram da África para alimentar o sistema monárquico brasileiro?
Não sendo Machado de Assis um homem de manifestações públicas e gritantes, teve ele a pena como forma de expressar sua indignação diante de uma situação opressora e desumana como a escravidão.
Poderíamos comparar sua luta com a do poeta Castro Alves? Não sei, cada um tem seus próprios méritos, Machado com sua ironia fina e sarcástica e Castro Alves com o ardor do abolicionismo em cada verso de cada poesia voltada à libertação dos escravos.
Neste dia 20 de novembro, no qual lembramos a luta de muitos homens e mulheres pela igualdade entre raças em solo brasileiro, temos que aprender com os escritores que usaram da palavra a maior arma para construir um país justo e humano, por isso deixaram grandes obras que vivem eternamente e podem servir para qualquer tempo, seja na explícita segregação do século XIX ou na velada forma de excluir dos nossos tempos.
Desta forma, damos continuidade a luta do líder Zumbi dos Palmares e de tantos outros que deram a vida pela causa da liberdade e da construção de uma sociedade que valoriza o ser humano pelo seu caráter e pelas sua boas ações, não pela cor da sua pele.

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