sábado, 11 de julho de 2009

Olhai os lírios do campo – Érico Veríssimo


Este seja, talvez, o romance mais popular de Érico Veríssimo, pelo menos foi aquele que o popularizou como grande romancista nos anos 30, colocando-o no patamar de Jorge Amado naquela época. Érico Veríssimo não simpatizava muito com seu protagonista Eugênio, achava que ele não acrescentava nada demais ao seu romance, mas, apesar disso, o trouxe de volta no romance “Saga” que finalizaria o chamado “Ciclo de Clarissa”, iniciado pelo autor com o romance “Clarissa”.O romance é cercado por flash backs, já na primeira página o médico Eug~enio está angustiado num carro dirigindo-se ao hospital, já que Olívia, a mãe de sua filha, está a beira da morte. Durante o trajeto, ele relembra a infância difícil, as humilhações de ser um pobre tentando adentrar no meio dos ricos, sempre em escolas particulares que seu pai sofria para pagar e depois no curso de medicina. Alguns episódios da vida de Eugênio fazem com que o leitor se decepcione e dão a ele ares de anti-herói. Um exemplo é o dia em que Eugênio andava pelas ruas de Porto Alegre com seus amigos ricos e encontrou seu pai no caminho. O velho, orgulhoso do filho estudante de medicina, tira o chapéu e o cumprimenta, mas o jovem envergonhado, finge que não o conhece. A angústia de Eugênio era maior pelo fato do pai não se importar com as humilhações e trata-lo bem, fazendo o possível para que ele se sentisse confortável. Ao entrar para a faculdade, Eugênio conhece Olívia, jovem que assim como ele, sofre por estar num lugar ao qual não pertence, já que era a única mulher em meio a uma turma inteira de homens que se formariam médicos. Olívia exemplifica muito bem as mulheres da obra de Érico Veríssimo, todas fortes, que levam os seus homens, geralmente abalados por dúvidas e medos. Olívia faz discursos a Eugênio em defesa do mundo e da humanidade, suas cartas trazem para o romance um cunho religioso, talvez por isso ele seja tão popular. Com Olívia, Eugênio conhece a amizade e os primeiros prazeres da vida, embora não se entregue a nenhum compromisso. Formado em medicina, o jovem não sabe o que fazer e se entristece ao constatar que seu futuro seria continuar entre os pobres, sendo médico deles. Esta situação muda quando ele conhece a jovem rica Eunice. Ela propõe casamento a ele e um emprego na empresa de seu pai e Eugênio não vê outra alternativa senão deixar Olívia e casar-se com Eunice. Desde o início, Eugênio sabia que não significava muito para Eunice. Para ele, o casamento dos dois foi apenas um gesto de “caridade” da moça rica, como se ela adotasse uma criança pobre e a expusesse a fotos e a sociedade. Durante o romance, a idéia de dinheiro se contrapondo com felicidade é bem clara e ganha intensidade com o personagem Felipe, um arquiteto famoso e bem sucedido que nunca está satisfeito com o que tem e pretende construir o maior megatério da cidade de Porto Alegre. Quanto mais ele se dedica à construção do megatério, mas ele abandona a família e principalmente a filha Dora. Ainda casado com Eunice, Eugênio reencontra Olívia doente e com uma filha sua, a pequena Anamaria. Com a morte de Olívia surge o maior dilema da sua vida: ficar com Eunice e abandonar a filha, ou assumir a pequena e voltar a ser o médico dos pobres? Depois de muita reflexão, ele decide separar-se da esposa e cuidar da filha. É a fase mais calma da vida do protagonista, na qual ele reflete sobre as palavras de Olívia e sente-se mais próximo do Deus que ele abandonara a tempos devido sua condição de pobreza e humilhações. O desfecho do romance é emblemático, Eugênio passeia no parque de mãos dadas com a filha, fazendo planos para o futuro e acreditando numa vida mais tranquila. Um romance simples que através dos seus personagens intensos, encanta gerações que não resistem ao amargurado Eugênio e a obstinada e encantadora Olívia. O título do romance é parte da Bíblia Sagrada, as palavras de Jesus são "Olhai os lírios do campo, eles não tecem, nem fiam, mas nem Salomão em toda a sua glória, se vestiu como um deles". Este é o clima que permeia o romance, de que não devemos preocupar-se muito com as coisas materiais, pois, elas não são o mais importante na vida.

2 comentários:

  1. Eu li quando era menina, minha professora Iraídes Valente nos passou esse livro. Uma grande lição de vida.

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