
quinta-feira, 30 de julho de 2009
"...E o vento levou" - Margaret Mitchell Marsh

quarta-feira, 22 de julho de 2009
Poesia Barroca: Cultismo e Conceptismo
Ao braço do Menino Jesus de Nossa Senhora das maravilhas, A quem infiéis despedaçaram.
O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo.
Em todo o sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço que lhe acharam, sendo parte,
Nos diz as partes todas deste todo.
Exemplo de poesia conceptista:
Pequei Senhor...
1)Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
2)Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja* um só gemido:
Que a mesma culpa que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
3)Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,
4)Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
Este poema é de cunho religioso, mas, apresenta a sátira também. O poeta, através de um jogo de idéias, argumenta com Deus, fazendo com que Deus acredite que o seu pecado e resgate trarão mais glória ao criador, pois, Deus sem o pecador não é glorificado. É interessante notar uma prova do dualismo medieval, já que o poeta sabe que pecou e precisa do perdão para ganhar o céu, mas, ele não se arrepende e sabe também que vai continuar pecando e vai ter que pedir perdão outras muitas vezes e desta forma, continuará “glorificando” a Deus. A argumentação do pecador faz com que ele procure provas concretas da infinita misericórdia de Deus. Ele vai buscar nas próprias escrituras, as palavras do Cristo (Evangelho de São Lucas 15, 1-10). Desta forma, ele já fez a sua parte, só resta a Deus perdoá-lo.
Barroco

terça-feira, 21 de julho de 2009
Em algum lugar do passado ( Somewhere in time )

segunda-feira, 20 de julho de 2009
Rachel de Queiroz

- Romances:
- O quinze (1930)- João Miguel (1932)- Caminho de pedras (1937)- As três Marias (1939)- Dôra, Doralina (1975)- O galo de ouro (1985) - folhetim na revista " O Cruzeiro", (1950)- Obra reunida (1989)- Memorial de Maria Moura (1992).
- Literatura Infanto-Juvenil:
- O menino mágico (1969)- Cafute & Pena-de-Prata (1986)- Andira (1992)- Cenas brasileiras - Para gostar de ler 17.
- Teatro:
- Lampião (1953)- A beata Maria do Egito (1958)- Teatro (1995)- O padrezinho santo (inédita)- A sereia voadora (inédita)
- Crônica:
- A donzela e a moura torta (1948);- 100 Crônicas escolhidas (1958)- O brasileiro perplexo (1964)- O caçador de tatu (1967)- As menininhas e outras crônicas (1976)- O jogador de sinuca e mais historinhas (1980)- Mapinguari (1964)- As terras ásperas (1993)- O homem e o tempo (74 crônicas escolhidas}- A longa vida que já vivemos- Um alpendre, uma rede, um açude: 100 crônicas escolhidas- Cenas brasileiras- Xerimbabo (ilustrações de Graça Lima)- Falso mar, falso mundo - 89 crônicas escolhidas (2002)
- Antologias:
- Três romances (1948)- Quatro romances (1960) (O Quinze, João Miguel, Caminho de Pedras, As três Marias)- Seleta (1973) - organização de Paulo Rónai.
- Livros em parceria:
- Brandão entre o mar e o amor (romance - 1942) - com José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Aníbal Machado e Jorge Amado.
- O mistério dos MMM (romance policial - 1962) - Com Viriato Corrêa, Dinah Silveira de Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, Jorge Amado, José Condé, Guimarães Rosa, Antônio Callado e Orígines Lessa.
- Luís e Maria (cartilha de alfabetização de adultos - 1971) - Com Marion Vilas Boas Sá Rego.
- Meu livro de Brasil (Educação Moral e Cívica - 1º. Grau, Volumes 3, 4 e 5 - 1971) - Com Nilda Bethlem.
- O nosso Ceará (com sua irmã, Maria Luiza de Queiroz Salek), relato, 1994.
- Tantos anos (com sua irmã, Maria Luiza de Queiroz Salek), auto-biografia, 1998.
- O Não Me Deixes – Suas Histórias e Sua Cozinha (com sua irmã, Maria Luiza de Queiroz Salek), 2000.
sábado, 11 de julho de 2009
Olhai os lírios do campo – Érico Veríssimo

quarta-feira, 8 de julho de 2009
A moça tecelã - Marina Colasanti

Perfil dos personagens do romance "O Morro dos Ventos Uivantes" de Emily Brontë

- Catherine Earnshaw, Catherine Linton, Catherine Heathcliff.
A personagem criada por Emily Bronte em sua única obra, “O Morro dos Ventos Uivantes”, nos é apresentada logo no início do romance pelo narrador personagem, Sr. Lockwood, quando numa visita ao locatário(Heathcliff) da fazenda a qual passaria algum tempo, se viu foi forçado a passa a noite no Morro dos Ventos Uivantes devido a intempestividade daquela região. Contra a vontade de Heathcliff, Lockwood é levado para um quarto onde passaria a noite. No quarto ele encontra alguns livros que também serviram como diário para Catherine, e neles ele encontrou escrito os seguintes nomes: Catherine Earnshaw, Catherine Linton, Catherine Heathcliff. A partir desde ponto já podemos começar a conhecer as diferentes facetas da mesma personagem. E podemos analisar cada uma de suas facetas de acordo com cada nome. Começaremos com Catherine Earnshaw, que é o nome de família de Catherine. O nome que continha toda a tradição de sua família, e ela teria que zelar para que não fosse manchado por nenhum escândalo ou atitude equivocada que ela pudesse tomar e que a sociedade da época não viria com bons olhos. É ela que cresce junto com Heathcliff e que presenciava todo o sofrimento dele diante das maldades de seu irmão Hindley. Até o momento em que o Sr. Earnshaw volta de Liverpool com o pequeno Heathcliff, Cathy é descrita como uma pessoa normal. A partir do momento em que os olhares de Catherine e Heathcliff se cruzam ela se encanta com o menino, não se importando com sua aparência suja e escurecida. “Sra. Cathy e ele estavam agora muito íntimos. Mas Hindley odiava-o”.(Bronte 1971, p.41) neste trecho do romance vemos Nelly Dean explicando a convivência dos “irmãos” ao Senhor Lockwood. Os dois crescem estabelecendo uma relação que começa como fraternal, mas que depois com o passar dos anos seus sentimentos afloram e um ciúme doentio acaba surgindo também. Já Catherine Linton é o lado fraco e mesquinho da personagem. Fraca pois não teve coragem de enfrentar tudo e todos para viver o seu amor, o que a torna uma anti-heroína pois qualquer mocinha romântica abriria mão de tudo para viver ao lado de seu amor, não se importando com o que a sociedade pensaria ou deixaria de pensar. E também podemos perceber o quanto ela era mesquinha, preferindo Edgard Linton à Heathcliff, pois Edgard poderia lhe proporcionar uma vida estável, segura. Ficando com Linton tudo seria mais fácil, mais cômodo, ela não precisaria enfrentar barreiras para ficar com ele. Na conversa que ela tem com a empregada da casa, Nely, antes do desaparecimento de Heathcliff que anos mais tarde voltaria rico, Catherine confessa a ela que gostaria que Heathcliff tivesse sido criado pelo irmão dignamente e mão como um empregado qualquer, assim ela poderia ter se casado com ele sem ferir a sua imagem perante a sociedade, e ter toda a comodidade que ela desejava. A maternidade é pouco valorizada por Catherine, ela não demonstra amor ou preocupação com o bebê. Essa atitude é notada claramente no momento em que Catherine e Heathcliff têm sua última conversa pouco antes da morte de Cathy. Em momento algum Catherine se preocupa com a falta que pode fazer para a filha. Neste momento a Catherine Heathcliff, que veremos a seguir, se impõe e a possessividade da relação de amor e ódio que os consome se torna mais visível e nada pode interpor-se entre os dois. Essa relação mãe e filha pode não ter sido abordada com grande ênfase pela autora devido ao fato dela nem ninguém de seu convívio social ter vivido esse tipo de experiência. Dados biográficos indicam que Emily perdeu sua mãe muito cedo e que ela nem suas irmãs tiveram filhos. Catherine Heathcliff. A Cathy que não se tornou realidade. É nesta faceta que ela se mostra egoísta, podemos perceber isso quando a beira da morte ela tem sua última conversa com Heathcliff, e assim como um criminoso não se arrepende por ter ceifado a vida da sua vítima, mas sim por ter atrapalhado sua vida. Mesmo quando pede perdão à Heathcliff ela não se arrepende por ter feito-o sofrer, mas sim por ela ter sofrido o tanto que ela sofreu. Catherine e Heathcliff eram como corpo e alma que se completavam, Heathcliff era a personificação da maldade existente dentro de Cathy.Mesmo depois da morte de Catherine quem pensa que ela some por completo da trama de Emily Bronte, está completamente enganado. Depois de sua morte ela é figura ainda mais presente na vida de Heathcliff, pois passa a atormentá-lo como um fantasma que clama por seu amor, e ele sem poder nada fazer, somente passando os seus dias, cego com seus planos de vingança.“Vem! Vem! – soluçava ele. – Vem, Catherine! Oh! vem - mais uma vez somente! Oh! querida do meu coração, escuta-me afinal, desta vez, Catherine!”(agonia de Heathcliff chamando pelo fantasma de Cathy na noite em que Lockwood acreditou tê-lo visto, Bronte 1971, p. 33)Por mais estranho que possa parecer para alguns dos leitores deste grande romance da literatura inglesa, e que alguns o consideram grosseiro e de mau gosto, ao contrário está é uma grande história de amor, um amor que não teve a oportunidade de amadurecer, de se tornar real, devido aos caprichos, ao egoísmo, a franqueza de sua protagonista, Catherine. E que a morte vem eternizar esse amor e ao que nos parece e que cabe a cada um de nós imaginarmos se mesmo depois da morte de Heathcliff e Catherine, se eles conseguiram viver se grande amor.
“Que há, meu homenzinho? – perguntei.- Heathcliff e uma mulher estão lá embaixo, sob a ponta do rochedo – respondeu ele, soluçando -, e eu não tenho coragem de passar na frente deles.” ( Nelly Dean conversa com um menino que acredita ter visto os fantasmas de Heathcliff e Catherine pelo Morro dos Ventos Uivantes. Bronte 1971, p. 312).
- Heathcliff: herói ou vilão da própria história?
Emily Brönte conseguiu no romance “O Morro dos Ventos Uivantes”, uma façanha digna apenas de grandes mestres da literatura mundial. Através de uma história de amor comum, envolvendo um triângulo amoroso, Emily Brönte criou um enredo extremamente original, com personagens e situações que falam por si próprios. Um exemplo disto é o protagonista Heathcliff. Ao colocar em Heathcliff as condições de órfão, abandonado nas ruas, acolhido por um bom homem, Emily faz com que os leitores acreditem que ele será um personagem bom, que aceita o sofrimento e a humilhação impostos e vence tudo com heroísmo. No desenrolar da infância de Heathcliff, percebe-se que sua personalidade distância-se de um herói romântico e sofredor. Ainda criança, o protagonista expressa desejos de vingança e sentimentos que não são muito nobres. Começa então o dualismo do personagem. Emily Brönte não oferece aos leitores um passado para o jovem. Não se conhece nada da sua história, antes de ser recolhido pelo Sr. Earnshaw, não se sabe se seus pais eram bons, se ele sofria maus tratos, se possuía já algum trauma familiar... portanto, ficamos imunes a qualquer sentimento de compaixão por Heathcliff, mesmo quando vemos a maldade de Hindley para com ele. Mas, em várias ocasiões, Heathcliff chega a causar pena e faz os leitores odiarem aqueles que o oprimem. Mesmo em momentos nos quais exprime seu ódio e rancor, Heathcliff deixa confusos os que já o consideravam um puro vilão. No diálogo entre ele e Cathy, pouco antes da sua morte, encontramos um Heathcliff magoado, que expressa seu obsessivo amor pela irmã de criação de uma forma selvagem, mas totalmente sincera. Ele diz que amaria o seu assassino, mas, como poderia suportar ver Cathy daquela maneira? “Eu não posso viver sem a minha vida, eu não posso viver sem a minha alma”. Estas palavras deixam claro a extrema agonia e a situação na qual Heathcliff viveria dali em diante. Ele viveria uma morte em vida, seu corpo estaria na terra, mas, sua alma, seu coração, tudo o que restava da sua humanidade, foi enterrado com Cathy. O que prende Heathcliff a este mundo, é o desejo de vingança, de tomar tudo o que pertence a Edgar Linton, o marido de Cathy. O rancoroso Heathcliff vive implorando que Cathy permaneça com ele, noite após noite espera seu fantasma, mas nem isto lhe é concedido. Heathcliff se torna então, cada vez mais só e caminha rumo ao seu fim trágico do qual ele não desviou nem um segundo, desde que entrou na propriedade dos Earnshaw, com sua aparência escura e suja. Heathcliff se torna, desta forma, um personagem capaz de causar os sentimentos mais diversos nos leitores do romance. Ele pode ser visto como o causador de muito sofrimento, que não sente piedade nem mesmo do próprio filho e que joga sujo numa vingança desenfreada. Pode também ser visto como uma vítima, com a cabeça cheia de traumas... as humilhações do irmão adotivo Hindley, o abandono de Cathy, que desistiu dele por causa da situação na qual ele estava, excluído da sociedade e carregando no rosto as marcas do preconceito, já que era um cigano. Os leitores de “O morro dos ventos uivantes” correm o risco de se confundir com Heathcliff e nele colocar suas próprias convicções, seus traumas e indignações perante a sociedade. O processo de catarse expresso pela figura do protagonista é um dos mais perfeitos de toda literatura mundial. Acima de tudo, Heathcliff caminha sob dois extremos: em certos momentos, ele é uma figura que não apresenta nenhum sentimento que o possa tornar humano, fora o seu obsessivo amor por Cathy e a sua discreta afeição pela criada Nelly e pelo jovem Hareton, que ele próprio arruinou. Em outros momentos, ele é um jovem afligido por angústias e que tem de se tornar “duro como um tronco de árvore” para sobreviver a uma sociedade que o excluí e tira dele a única pessoa que ele amava a jovem Catherine. Cabe então, aos apreciadores da Literatura Inglesa agradecer, pois, coube a uma jovem camponesa, de saúde frágil e personalidade discreta, deixar ao mundo a história de um amor cheio de força e obsessão, que venceu todas as barreiras, que a sociedade negou e que só a morte tornou possível.
terça-feira, 7 de julho de 2009
Pontos obscuros do romance "O Morro dos Ventos Uivantes" de Emily Brontë
"No entanto, obedeci-lhe involuntariamente, como se não estivesse bem certa. Com um gesto, ele afastou na mesa o que estava diante de si e inclinava-se para olhar mais à vontade.
Percebi então que não era para a perde que ele olhava, porque, observando-o, notei que seus olhos pareciam exatamente dirigidos para uma coisa que se acharia a dois metros à sua frente. Qualquer que fosse essa coisa, causava-lhe, aparentemente, ao mesmo tempo uma dor e um prazer extremos. Era pelo menos a idéia que sugeria a expressão angustiada, e, no entanto, extasiada de seu rosto. O objeto imaginário não era fixo. Seus olhos o seguiam com uma atividade infatigável e, mesmo quando ele me falava, nunca se destacavam do seu alvo.”(Bronte 1971, p. 307 e 308).
O desfecho do romance é ainda mais misterioso. Heathcliff e Catherine transformam-se em uma lenda: o amor proibido que não se concretizou em vida e só se realizou plenamente após a morte: “Que há, meu homenzinho? – perguntei. - Heathcliff e uma mulher estão lá embaixo, sob a ponta do rochedo – respondeu ele, soluçando -, e eu não tenho coragem de passar na frente deles.”( Bronte 1971 , p. 312.).
A SIMBOLOGIA DO ESPAÇO NO ROMANCE "O MORRO DOS VENTOS UIVANTES" DE EMILY BRONTË

sexta-feira, 3 de julho de 2009
Ponto de convergência entre os romances "Dom Casmurro", "Madame Bovary" e "Ana Karênina".
Os três romances têm uma semelhança primordial, o adultério feminino. Num deles, “Dom Casmurro” o adultério não é comprovado, fato que se deve a uma forma de narração em primeira pessoa, na qual um marido ciumento e cego por este sentimento acredita ter sido traído não só pela esposa, mas também pelo melhor amigo. Outra semelhança entre os três romances é o tempo do enredo: todos vivem suas histórias de amor, desconfianças e traições no século XIX, mas em países diferentes: na Rússia Czarista, na França Burguesa e pós-revolucionária e no Brasil do Império. Dois romances, “Ana Karênina” e “Madame Bovary”, são narrados em terceira pessoa, já “Dom Casmurro” é narrado pelo marido de Capitu, o que leva o leitor a desconfiar dos fatos que este apresenta, já que ele não permite que Capitu, em nenhum momento, tome a palavra e se defenda das acusações que o marido faz. As três protagonistas tiveram filhos, Ana teve um filho do marido, que ela acabou abandonando, e uma filha do amante. Emma teve uma única filha, que em meio ao seu egoísmo e ao seu tédio da vida, não conseguia fazer brotar em seu coração um amor que se espera de uma mãe. Capitu, por fim, teve um único filho, muito desejado por seu marido e que foi responsável por parte das desconfianças de Bento, já que, segundo ele, o filho era semelhante ao verdadeiro pai, o amigo Escobar. A forma como elas agiram com seus filhos deixa claro que elas não são mulheres como “pede” a sociedade, pois, tinham em primeiro lugar, sentimentos próprios em detrimento dos filhos. Elas não deixaram de ser mulher para ser mãe. Assim, Ana deixou a sociedade boquiaberta com sua atitude de deixar transparecer o amor que sentia por Vronski e abandonar o filho e o marido de tantos anos para viver com um amante que, apesar de rico, era visto como um boêmio pelo conservadorismo. Emma por sua vez, é mais discreta e até planeja uma fuga com o primeiro amante, mas esta é abortada pelo próprio. Ela choca o próprio leitor, que não se simpatiza com uma mulher como ela, que é filha da burguesia e busca no consumismo satisfazer seus desejos. Capitu, ainda menina, é a primeira a tomar posição no seu romance com Bentinho, ele chega a afirmar que é o “chorão” da história. Ao contrário dos enredos românticos, Capitu faz de tudo para seduzir aqueles que são contra seu romance e contornar situações que podem separá-la de Bentinho, a promessa de Dona Glória é uma destas situações que ela consegue desfazer, com a ajuda de José Dias, que no início era opositor a paixão dos dois. Ele acaba tornando-se seu aliado, assim como muitos leitores que são seduzidos pela presença de Capitu no romance, como uma menina que sabe o que quer e se transforma numa mulher sedutora, com seus olhos misteriosos que sempre intrigaram Bentinho e se tornaram intriga para quem lê o romance, seja qual for a sua opinião sobre a suposta traição dela. Os três autores utilizam-se de questões capciosas para intrigar o leitor. Ana Karênina é aristocrata e vive uma ótima e tranqüila vida ao lado do marido, sendo assim, não havia motivos para sentir necessidades na vida. Mas, tudo parece tranqüilo demais e ela procura nos braços do amante Vronski, a alegria e a aventura de viver um grande amor. Emma Bovary, por sua vez, deveria agradecer a Charles que lhe tirou da vida monótona do campo, mas ao tirá-lo daquele marasmo, ele não proporcionou a vida que ela esperava e, sobretudo, por sua descrição, nota-se que ele não era o marido dos sonhos de Emma. Capitu, também é tirada de uma situação adversa pelo marido: a condição de pobre, numa sociedade consumista e que visava os bens matérias, mas, a sensibilidade e a fragilidade de Bentinho não condiziam com a força e o temperamento de uma mulher tão a frente do seu tempo como Capitu. Teria ela procurado nos braços de um amante forte, o filho que Bentinho não foi capaz de lhe dar? Questões como estas causam no leitor uma catarse comum aos três romances: a dualidade quanto à questão moral. Segundo as leis vigentes naquela época, as mulheres adúlteras deviam ser odiadas e desprezadas, mas o leitor, seja do sexo feminino ou masculino, é tomado por dúvidas contrárias à moral e os bons costumes que conheceu na sua educação. É muito conhecido do público o processo contra Gustave Flaubert por imoralidade, na época da publicação de “Madame Bovary”. No julgamento, ao ser indagado “Quem era Madame Bovary?” ele apenas respondeu: “Madame Bovary sou eu”. Seu intuito era criticar a sociedade francesa representada por Emma Bovary e não a alguém em particular. Assim, cada uma destas três mulheres representa um pouco da situação vivida pela sociedade russa, francesa e brasileira em meados do século XIX, um século confuso, dividido entre o cientificismo e o cristianismo que não queria ceder lugar a este. Um século que vivia as conseqüências da Revolução Francesa na qual nobres perderam a cabeça, mas o poder acabou passando para outra classe, a burguesia, e formou uma classe que vive até hoje as injustiças daquela época, o proletariado. Seriam então, Ana, Emma e Capitu fruto de um espaço ou pessoas com uma índole já formada desde a infância? São questões que não devem ser respondidas, pois suas respostas são um conjunto de convicções do leitor, unidas ao estilo narrativo presente nos romances. O marido de Ana, Karenin, é um personagem dúbio, às vezes parece estar apenas preocupado com sua posição social e um escândalo que o adultério da esposa pode causar. Mas, quando Ana dá a luz à filha do amante, em sua casa, e fica entre a vida e a morte, sua sensibilidade e sua forma de agir com ela e a criança, traz ao leitor uma nova visão daquele homem aristocrata, uma visão diferente, mais sensível e até mesmo, de pena. Já Charles, marido de Emma é muito ingênuo e se deixa dominar pelo leitor, ele também é digno de pena e em certos momentos, chega a ser risível a sua ingenuidade e os cuidados que desvela para Emma quando ela fica doente ao ser abandonada pelo primeiro amante. Bentinho, por sua vez, causa raiva nos leitores seduzidos por Capitu e que acreditam na sua inocência. Ele se torna cada vez mais sozinho, e não pode contar nem com a solidariedade da sociedade à qual escreve. Um homem frágil, que se torna um casmurro na velhice. Neste período da sua vida, as alegrias do passado são substituídas pela solidão do presente e ele procura escrever suas memórias para unir o passado e o presente, por isso, constrói uma casa semelhante à casa de sua infância, alegando que esta já não lhe reconhece. São três homens que podem ir de vítima a algoz, mas através da pena sutil dos três autores se tornam dúbios aos olhos do leitor e causam os mais diferentes sentimentos. A sensualidade presente no enredo dos três é muito discreta e velada, isso porque a os conceitos da moralidade ainda não permitiam que o amor entre os casais protagonistas fosse explícito, afinal de contas, jovens leitoras iriam ler o romance. Ana se entrega a Vronski cheia de dúvidas e angústias, numa mistura de prazer e culpa que se estende por muito tempo, até engravidar e ter certeza que o filho é do amante, já que o marido não mantém relações íntimas com ela há mais de seis meses. Emma, no seu desejo de viver uma paixão como nos livros que leu no passado, se entrega freneticamente aos seus amantes e durante estes períodos, se torna mais doce e amável com o marido e com a filha. No romance “Dom Casmurro’’, há um capítulo que parece ter sido escrito só para servir de dúvida sobre o suposto caso de Capitu e Escobar. Certa noite, na qual Bento convida a esposa para ir ao teatro, ele se nega e diz ter dor de cabeça, mas ao chegar mais cedo em casa, ele encontra o amigo Escobar no corredor, este alega que estava à espera de Bento e eles iniciam uma conversa. É uma situação que Bentinho vê com outros olhos quando acredita na traição. Para ele, naquela noite talvez eles tivessem gerado Ezequiel, e esta é uma questão que ele se coloca a refletir depois da morte do filho. “Qual teria sido o dia da criação de Ezequiel?”. O foco narrativo leva o leitor a se identificar com as protagonistas ou não. Numa análise sociológica, o intuito de Gustave Flaubert ao escrever “Madame Bovary” é criticar a burguesia francesa ascendente no século XIX, portanto, através de sua narração, ele constrói uma personagem com uma característica pouco atraente ao leitor: A futilidade. Emma é uma mulher consumista e que passa por cima de qualquer coisa para conseguir sua felicidade, que na sua concepção, é ter um amante e viver aventuras e paixões avassaladoras como as dos folhetins. No romance, Emma casa-se tentando encontrar a felicidade, arranja amantes para encontrar a felicidade e compra muitos presentes a estes amantes e coisas para si própria para tentar manter esta felicidade. Ela tem relações vazias e baseadas no materialismo, o que representa o individualismo crescente na sociedade francesa pós-revolução industrial. Agora era cada um por si, uma livre concorrência nem sempre justa, já que os industriais com mais recursos passavam por cima de qualquer pequeno artesão ainda remanescente dos tempos passados. O “lugar ao sol” era necessário para se firmar como burguês. As aparências deviam ser mantidas para que esta classe se consolidasse como a classe dominante, perfeita e feliz. Nascia então, a hipocrisia, tão criticada por Flaubert através da figura de Emma Bovary, que é gentil e solicita ao marido enquanto está com seus amantes, que contrata uma ama de leite para criar a filha para ter mais tempo de pensar em si própria e nos seus anseios... são as relações mecânicas que nasciam com a nova era industrial, o ser humano cada vez mais mecanizado e individualista. Através da figura polêmica de uma mulher adúltera, Flaubert constrói um retrato francês da sua época, se transformando num cronista das coisas que a burguesia tentava esconder a qualquer custo. Isto é a razão das críticas e até mesmo um processo contra ele. Ninguém queria se ver retratado como o risível Charles Bovary, os cafajestes amantes de Madame Bovary e principalmente, como a própria Emma, que não consegue alcançar a felicidade que ela tanto almeja e que sem forças para enfrentar as situações que criou, se suicida, como se isto apagasse todos os erros que cometeu. Como cartada final, Flaubert coloca Emma como uma covarde. Tolstoi, através da sua narração, conseguiu empregar dignidade à Ana Karênina, mesmo tendo os preceitos morais contra ela. Ana teve apenas um amante e este foi o amor da sua vida, sua ruína, isso a torna, perante a sociedade que condena a promiscuidade, mais digna do que Emma, por exemplo, que se envolvia em paixões sem raízes. Ana aceitou, com relutância, se entregar a um homem que não era seu marido, esta era uma situação de adultério, mas o maior escândalo foi o fato do casal de amantes não ser discreto e deixar seu amor transparecer a todos. Ora, a mãe de Vronski não tinha vivido casos extraconjugais também? Ela não era vista com maus olhos por ter feito tudo às escondidas e não ter tido a coragem de abandonar seu marido e filhos para viver nenhum grande amor, talvez porque ela só tenha vivido aventuras e o grande mau, era amar de verdade e se perder por este sentimento. Tolstoi, através de sua pena, cria uma personagem com sentimentos e fraquezas bem comuns a qualquer ser humano, ela tem medo de se entregar ao amante não pela culpa, mas pelo julgamento que iria receber se isto acontecesse. Depois de estar com o amante, ela tem medo de perdê-lo, pois conhece a fama do amado e acha que pode ter sido só mais uma conquista que agora não era mais interessante para ele. Mas em seu íntimo, Ana usava este ciúme como uma forma de se culpar por ter feito algo que não era correto, por isso ela não se permite ser feliz e é cercada por lembranças que a escravizam, como a imagem do camponês morto no dia que conheceu Vronski. Desta forma, o foco narrativo leva o leitor a ter compaixão por Ana, e aquele que se identifica com ela, fica satisfeito após o desfecho triste da personagem. Ela se atira debaixo dum trem, na mesma estação onde ela e Vronski se conheceram, numa cena cercada de simbologia para ela. Lá, onde tudo começou tudo iria terminar para ela, mas para Vronski, restaria uma eternidade de culpa, por ter deixado-a de lado. É o último resquício de orgulho e humanidade para ela, um sentimento de vingança faz com que tenha coragem de tirar a própria vida. Sendo assim, nota-se que Tolstoi pretendia criticar através de Ana, a sociedade hipócrita que aceitava o adultério, mas não o divórcio. A trajetória de Ana retrata a vida da mulher naquela sociedade, que devia ser submissa como Dolly e aceitar as traições do marido, já que o adultério masculino não é visto de forma ruim. Isto faz com que o romance de Tolstoi tenha uma ligação com a obra de Flaubert, cada um ao seu modo, eles criticaram a sociedade na qual viviam através das situações e personagens que escreveram. No romance “Dom Casmurro” temos uma situação atípica dos outros dois analisados: a narração em primeira pessoa. Pela primeira vez, um marido toma a palavra e decide contar uma história de amor frustrado, uma situação incômoda e constrangedora. Ele acredita que existe uma única verdade; a de que foi traído pela esposa e melhor amiga e pelo amigo compadre Escobar, e, além disso, nem um filho não lhe restou, já que ele vê semelhanças suficientes entre o menino Ezequiel e Escobar para afirmar que eles são pai e filho. Bentinho tenta através de sua história, atar o passado e o presente. Mas se ele vivesse até nossos dias, ficaria frustrado, já que sua amada Capitu, sedutora como sempre, seduziu o leitor que fica em dúvidas sobre os argumentos daquele marido ciumento. O seu ciúme é um dos motivos para o leitor desconfiar...ele poderia estar cego por este sentimento e ter interpretado situações de uma forma diferente da realidade. A narração do livro leva o leitor a uma dualidade que não lhe permite aceitar qualquer fato como verdade absoluta. Em nenhum momento Capitu toma a palavra e se defende. Até mesmo alguns fatos que Bento apresenta não são tão confiáveis, como a semelhança entre Ezequiel e Escobar, por exemplo. A mãe falecida de Sancha, esposa de Escobar, era muito parecida com Capitu e elas não eram mãe e filha. Escobar no corredor da sua casa numa noite em que ele estava fora poderia estar mesmo apenas esperando o amigo. Machado de Assis, como retratista da realidade, descreve Capitu como uma filha de seu tempo. Uma mulher sedutora, como o próprio período do século XIX com seus avanços e sua burguesia que afloravam; mas acima de tudo, uma mulher que sabe conter-se perante a sociedade. Ela, com seus “olhos de ressaca” se tiver mesmo traído Bentinho, como ele acreditou, foi muito discreta e seu único erro, foi ter tido um filho do amante, que agora denunciava sua condição. Bento, como filho da burguesia, procura viver sua vida calma com a família, sem problemas externos para se preocupar. Mas ele escolheu uma mulher a frente do seu tempo e isto pode ter atrapalhado os seus planos, assim como tudo que foge aos padrões atrapalha os planos da burguesia. Como não comparar três romances que têm como fio condutor três mulheres subjugadas por sua época e que intrigam leitor até hoje? Como não comparar três obras escritas num mesmo século, em três países diferentes, mas que contam com julgamentos tão semelhantes? Como não comparar três obras nas quais o foco narrativo guia a opinião do leitor e descreve cada uma das protagonistas como retratos do seu tempo e da sua sociedade? Por isso que entre as suas diferenças e semelhanças, “Ana Karênina”, “Madame Bovary”, “Dom Casmurro” são mais que simples histórias de amor, são histórias da sociedade.