quarta-feira, 8 de julho de 2009

A moça tecelã - Marina Colasanti




O pequeno conto de Marina Colasanti condensa o que há de melhor na literatura moderna.Com um realismo fantástico, Colasanti inicia a estória da romântica moça tecelã, que através da arte de tecer, tem o direito de construir e escolher seu futuro e as pessoas que participam da sua vida.Como toda mocinha romântica, o que ela tem não é suficiente, ela deseja casar-se com um homem que a ame e a faça feliz. Num certo dia, ela resolve tecer este marido, e ele chega até ela de chapéu em punho, como nos seus sonhos. Ao deitar-se em seu peito e entregar-se a este desconhecido que é sua criação, ela espera viver o matrimônio perfeito, ter filhos, viver um para o outro, não se importando com outras coisas, mas aos poucos, seu marido vai revelando-se um homem ganancioso e começa a pedir-lhe coisas...primeiro são objetos simples, mas que nunca o satisfazem, e, quando a jovem tecelã percebe, o sonho de ter filhos, construir família, está muito longe da cabeça do seu marido, ele está mais preocupado em pedir que ela teça castelos e cavalos para mostrar sua grandeza. Assim como ele chegou, partiu da vida da moça tecelã e por escolha da própria. Percebendo que não estava entre os interesses principais do marido “tecido”, ela começa a desenrolar o novelo, e destruir sua criação e tudo que veio junto com ela, os cavalos, carros, castelos... Acima de tudo, este conto deixa claras as diferenças de interesses entre homens e mulheres, comuns a qualquer sociedade em menor ou maior grau. A mulher deseja a família, deseja pouco “materialmente” para viver, se satisfaz tendo os que ama por perto, enquanto o homem, tem a ganância que o faz deixar de lado os interesses subjetivos. Seria um erro classificar a raça humana desta forma, há exceções me toda regra, porém, a sociedade trata de construir para os homens uma verdade absoluta que eles são, inúmeras vezes, obrigados a seguir nesta selva que é a vida em grupo. Diferenças de tempo, de nacionalidade, religião, escolaridade, entre outras, criam diferenças e tornam este conceito de que o homem deve ser mais objetivo e a mulher mais subjetiva mais intenso ou não. No século XXI, em certos países da África, acontecem ainda rituais nos quais meninas na faixa etária dos dez anos têm seu clitóris mutilado, já que não podem sentir prazer, pois este é restrito ao homem. Muitas sociedades acreditam que a mulher é inferior e sempre tem que ter alguém como dono: primeiro o pai, depois um marido... há também situações inversas, nas quais muitas mulheres visam uma liberdade sem restrições e acabam se ferindo, já que o sexo sem compromisso é mais natural e não produz remorsos em pessoas objetivas. Na década de 80 muitas mulheres acreditavam que para “vencer” precisavam se tornar “homens” e abandonar idéias relacionadas ao casamento e a maternidade. São extremos abandonados por uns e as vezes mantidos por outros no decorrer no tempo. Várias são as teorias, o importante é notar que um conto leve o leitor a reflexões não apenas literárias, mas também, a análises sociológicas que podem construir a essência de um ser humano. Marina Colasanti visa em seu conto o livre arbítrio, já que a moça tecelã faz as escolhas que mudam sua vida e quando nota o sofrimento que elas trazem, apenas destrói com suas próprias mãos aquilo que criou. A vida, porém, não é um ensaio, quantas não têm o direito de fazer esta escolha?

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