Clássico da Literatura norte-americana, escrito em 1881. Este livro coloca Henry James no patamar de "Pai" da literatura feminista.
O romance “A Herdeira” faz parte da primeira fase da obra de Henry James e foi escolhido para análise porque condensa na sua narrativa algumas importantes características da forma de escrever tão peculiar do autor. Nele é imortalizado o local de nascimento do autor “Washington Square” nome original do romance. Na Nova York da última metade do século XIX a sociedade ainda era muito provinciana e fechada. Pertencia a esta sociedade um médico muito próspero na vida profissional, mas, com uma vida pessoal cheia de perdas. Era o Doutor Austin Sloper que se casou por amor aos vinte e sete anos com a rica Senhorita Catherine Harrington. Quando nasceu o primeiro filho do casal, um menino, Sloper acreditou que a criança prometia muito, mas, o primogênito acabou morrendo aos três anos de idade, embora lhe fossem dedicados todos os cuidados maternos possíveis e também todos os cuidados médicos. A segunda criança nasceu algum tempo depois e para grande decepção daqueles que esperavam um outro menino em substituição da criança morta, nasceu uma menina. Para maior sofrimento do Senhor Sloper, uma semana após o nascimento da filha, Catherine ficou muito doente e faleceu. Deram à menina o mesmo nome da mãe e o jovem pai convidou sua irmã viúva, a Senhora Penniman, para ajudar na educação da menina. Ele possuía outra irmã de sobrenome Almond que era casada com um próspero comerciante e que era a preferida do irmão. O Doutor Sloper embora tivesse sido muito apaixonado pela esposa e fosse considerado um médico para senhoras, nunca se iludira quando as características do sexo feminino e não olhava as mulheres com entusiasmo. Conforme os anos passaram ele percebeu que Catherine não herdara a beleza da mãe nem outros encantos que esta possuía. A menina que quando pequena prometia ser alta parou de crescer aos dezesseis, logo não era alvo de elogios masculinos quanto a beleza nem mesmo quanto ao seu comportamento. Por ser muito tímida e calada ela era considerada uma moça fria e os que não conseguiam enxergar a beleza que havia dentro dela, não notavam também que ela era a moça mais sensível daquela sociedade. Catherine não era nem mesmo considerada inteligente e isto era o que mais decepcionava o pai. Quando Catherine contava com vinte anos, a sua prima Marian Almond casou-se com Arthur Townsend, um jovem rico e de família tradicional. Durante a festa, Marian apresentou à Catherine um jovem primo de seu noivo que desejava conhecê-la: Morris Townsend. Ao contrário do primo, Morris não era visto com bons olhos na sociedade nova-iorquina, já que depois da morte dos pais havia gastado a pequena fortuna deixada por eles em viagens para a Europa. Na conversa com Catherine, Morris se mostra muito gentil e educado, explicando porque andava há muito tempo longe de Nova York e elogiando a jovem Catherine que apesar da timidez e da discrição, se mostrou encantada pelo jovem sedutor. A Senhora Penniman fazia muito gosto do namoro de Catherine e Morris, e depois de alguns encontros, ele pediu a jovem em noivado e ela aceitou mesmo sem comunicar o pai. O Doutor Sloper não estava contente com aquele noivado, pois, sabia da reputação de Morris e acreditava que ele só estava interessado na herança de Catherine. O que aumentava seu medo era o fato de acreditar que a filha não possuía nenhum atrativo para que um homem pudesse se apaixonar por ela sem interesses financeiros. Ele via com muita certeza que Morris não amava Catherine verdadeiramente. Depois de algum tempo de noivado, vendo que Catherine estava muito encantada com o noivo, o Doutor Sloper investiga a vida do futuro genro e descobre coisas ruins a seu respeito. Decidido a impedir a união dos jovens ele diz que se Catherine se casar sem o seu consentimento, não herdará um centavo da sua fortuna. Depois de muita pressão, Morris comunica a sua protetora Senhora Penniman que vai desistir de Catherine, pois, não quer privá-la de nada e um casamento daqueles podia tirar todo o conforto que ela desfrutava ao lado do pai. A despedida dos jovens é comovente já que Morris não afirma em momento algum que é uma separação. Ele diz que vai até Nova Orleãs comprar algodão e não pode levar Catherine com ele, pois, é uma viagem de negócios. Catherine sabe que era a despedida e a cena que fez durante a partida do noivo foi o último lapso de paixão encontrado nela. Muitos anos se passaram e Catherine recebeu outras propostas de casamento, geralmente de viúvos de meia-idade. Não aceitou nenhuma proposta e tornou-se uma solteirona. O Doutor Sloper mais de vinte anos após o corrido, faz Catherine jurar que não se envolverá com Morris enquanto ele estiver vivo. A esta altura, Morris já estava viúvo e não tinha filhos. Quando o pai morre, Catherine encerra-se mais ainda na sua vida solitária, até que certo dia, enquanto bordava na sala, ela tem uma grande surpresa. Com a ajuda da Tia Penniman, Morris vai visitá-la e propõe que os dois sejam amigos. Ela diz que isto não é possível, pois, apesar de tê-lo perdoado, a mágoa ainda era imensa. Para Morris, eles só estavam esperando e aquele era o momento certo para ficarem juntos, mas, contrariando as expectativas, o casal termina o romance separado e Catherine volta ao seu bordado, agora para sempre. O romance é narrado em terceira pessoa, com narrador onisciente que sabe tudo o que se passa no coração e na mente dos personagens. O tempo no qual se passa a história é cronológico. Catherine é uma personagem complexa, como muitos dos personagens criados por Henry James, já que a vida não é simples e as pessoas reais são difíceis de compreender, o autor acreditava que na ficção deveria haver também a complexidade. É também interessante notar que a protagonista se interessa por um homem ganancioso e como outras mulheres dos romances de Henry James, têm um péssimo gosto para escolher seus amores. Estes dilemas femininos transformam Henry James num dos primeiros escritores feministas da Literatura moderna. Catherine no seu silêncio e discrição fala muito mais do que qualquer outro personagem do romance. Através dela, o leitor percebe a sensibilidade do coração humano e a incompreensão que leva homens e mulheres ao isolamento e ao sofrimento. Ela por si, é uma crítica a sociedade superficialista. Escrevendo numa época de Realismo e Naturalismo, Henry James também trouxe ao romance “A Herdeira” uma realidade não idealizada, a começar pela descrição da protagonista que não era bonita, mas era rica. Vem então, a questão muito corrente no século XIX, “o caça-dotes”. Naquela época, as mulheres que se casavam levavam consigo dinheiro, ofertado pela própria família, para começar a nova vida, e para completar, Catherine ainda era a herdeira universal de seu pai. O galante Morris Townsend é um personagem ambíguo que causa as mais diversas reações nos leitores. Sedutor, ele conquista não só Catherine como também os leitores no início do romance, quando consegue tirar a jovem do seu “casulo” de solidão e desamor. É difícil para este leitor seduzido acreditar nas opiniões do Doutor Sloper sobre o futuro genro, além do mais, o médico não inspira muita simpatia pela sua opinião acerca do sexo feminino e sobre a própria filha. Através do Doutor Sloper conhecemos alguns conceitos da sociedade norte-americana na segunda metade do século XIX. O machismo disfarçado de amor paterno faz com que ele não veja atrativos nenhum na filha que permitam que ela conquiste alguém verdadeiramente. A mulher é vista como uma casca de beleza, inteligência ( até o ponto permitido) e elegância. Ele também enxerga a filha de uma forma superficial, não compreendendo que ela é uma moça sensível e por isto não quer se entregar a qualquer amor ou a qualquer casamento sem amor. Temos presente no romance mulheres que aceitaram seu papel superficial na sociedade, como a Senhora Penniman, que depois da viuvez passou a viver na casa do irmão, tomando como vida a vida de outras pessoas. Sabemos por dados biográficos que Henry James viveu por anos na Europa e terminou a sua vida como cidadão inglês. Conhecedor dos “dois mundos” ele podia compará-los e criticá-los. No romance”A Herdeira” a sociedade norte-americana aparece como uma cópia da sociedade inglesa no período vitoriano, cheia de preconceitos e hipocrisia. Trazendo os costumes europeus para as terras norte-americanas, os estadunidenses se tornam “ingleses sem as barbatanas”, e cometem os mesmos erros que muitas vezes eles criticaram. Henry James conseguiu escrever literatura feminina sem se tornar piegas e com personagens e histórias humanas, usou luvas de pelica para esbofetear a hipocrisia da sociedade na qual vivia.
Ótima resenha. Linda análise
ResponderExcluirFantástica resenha...parabéns!
ResponderExcluirExcelente resenha do livro Washington Square!Muito bom!!!
ResponderExcluirParabéns pela resenha!!!
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