As mulheres já foram vistas na Literatura como intocáveis anjos de beleza inatingível, puras como os querubins no céu. Tocá-las seria um erro que colocaria abaixo o mundo de ilusões do apaixonado cavalheiro. As mulheres românticas eram assim. As Carolinas, Cecílias, Amálias de José de Alencar são perfeitas física e espirutualmente. Mas, este mesmo José de Alencar criou uma certa Aurélia que para vingar-se do homem que a desprezou, comprou um marido e o humilhou perante a sociedade. Ele também criou Lúcia, que antes era Maria da Glória, mas mudou o nome para fingir-se de morta e viver no mundo da prostituição. Teve ainda uma Emília que era uma mulher a frente do seu tempo e das colegas casadoras do século XIX.
Eram as protagonistas que compunham os perfis da mulher, que José de Alencar traçara em romances de transição, que apresentavam situações levemente realistas, mas não se desprendiam dos desfechos românticos. Estas três mulheres eram sempre vencidas ao final pelo amor.
Já no Realismo, as mulheres eram bem mais "espevitadas" do que as românticas. Como exemplo, temos as mulheres dos romances de Machado de Assis, começando pela mais famosa, Capitu. Uma mulher forte e decidida, que seduzia todos que não simpatizavam com seu jeito e que fez uma sociedade machista preferí-la ao marido possivelmente traído. Virgília também é sedutora, prefere ter um romance com Brás Cubas quando tudo é proibido: ela está casada e tem um filho. Sofia, por sua vez, sabe bem o que quer e mesmo não traindo o marido com Rubião, deixa o apaixonado "cozinhando" até o momento em que consegue atingir seu objetivo, que é tirar do novo rico grande parte da sua fortuna.
Temos ainda tantos exemplos possíveis, como a fútil e adúltera Emma Bovary, a também adúltera Luiza que não resiste ao charme cafajeste do primo Basílio...
O perfil das mulheres, assim como o perfil da Literatura em geral, muda conforme os interesses e as transformações sofridas pela sociedade. As românticas e angelicais moças do Romantismo eram o estereótipo do que a burguesia pretendia ser mas, nem sempre conseguia.
Durante o Realismo os tempos eram outros. A sociedade burguesa já estava estabelecida e surgiam críticos dela. Os realistas retratavam em sua personagens uma coletividade e não situações e características individuais. Por isso, Gustave Flaubert, ao ser questionado em seu julgamento por imoralidade, sobre quem era Madame Bovary, deu a seguinte resposta: "Madame Bovary sou eu".
Emma Bovary era um retrato da sociedade francesa da época. A futilidade e os sentimentos efêmeros da jovem senhora eram características da toda a França que se distanciava cada vez mais dos preceitos de "Igualdade, Liberdade e Fraternidade" que formaram o eixo de sustentação da Revolução Francesa.
Assim caminha a Literatura até os dias atuais, fazendo uso das nossas características femininas para criticar, convencer, atrair e seduzir a sociedade.
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