Annabel Lee
It was many and many a year ago,
In a kingdom by the sea,
That a maiden there lived whom you may know
By the name of ANNABEL LEE;
And this maiden she lived with no other thought
Than to love and be loved by me.
I was a child and she was a child,
In this kingdom by the sea;
But we loved with a love that was more than love-
I and my Annabel Lee;
With a love that the winged seraphs of heaven
Coveted her and me.
And this was the reason that, long ago,
In this kingdom by the sea,
A wind blew out of a cloud, chilling
My beautiful Annabel Lee;
So that her highborn kinsman came
And bore her away from me,
To shut her up in a sepulchre
In this kingdom by the sea.
The angels, not half so happy in heaven,
Went envying her and me-
Yes!- that was the reason (as all men know,
In this kingdom by the sea)
That the wind came out of the cloud by night,
Chilling and killing my Annabel Lee.
But our love it was stronger by far than the love
Of those who were older than we-
Of many far wiser than we-
And neither the angels in heaven above,
Nor the demons down under the sea,
Can ever dissever my soul from the soul
Of the beautiful Annabel Lee.
For the moon never beams without bringing me dreams
Of the beautiful Annabel Lee;
And the stars never rise but I feel the bright eyes
Of the beautiful Annabel Lee;
And so, all the night-tide, I lie down by the side
Of my darling- my darling- my life and my bride,
In the sepulchre there by the sea,
In her tomb by the sounding sea.
Tradução de Fernando Pessoa
ANNABEL LEE
1ª:Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino de ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.
2ª:Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor --
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
a ambos nós invejar.
3ª:E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.
4ª:E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.
5ª:Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.
6ª:Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,
Ao pé do murmúrio do mar.
Análise:
O título do poema é uma dedicatória. O eu lírico escreve um poema contando brevemente a história de amor entre ele e Annabel Lee.
Na primeira estrofe, temos a personificação do amor perfeito entre dois jovens. O poeta age como um narrador, como se o poema fosse “prosa dentro da poesia.” Ele narra uma história que já aconteceu há muito tempo, mas que ainda está viva dentro dele. Tudo se passa num lugar anônimo....um reino ao pé do mar, na literatura entende-se que o mar representa o interior dos personagens, então, a figura do mar serve para deixar claro que eles viviam para si, para o seu interior...viviam para seu próprio amor, sem nenhuma outra preocupação. Era uma relação de posse um pelo outro e de total dependência.
Na segunda estrofe, o eu lírico afirma que os dois eram crianças...é sabido que em tempos passados, as pessoas amadureciam mais cedo e formavam uma vida em família antes mesmo dos vinte anos. A expressão “Criança” não tem significado denotativo, pois os adolescentes e adultos jovens eram também chamados de “Crianças” pela pouca experiência de vida que possuíam.O amor que um nutria pelo outro era mais que um sentimento humano...era um sentimento divino. As figuras divinas dos anjos, são mostradas no poema como formas imperfeitas, já que além de não serem capazes de amar com a mesma força que os seres humanos, eles possuem uma característica muito humana: a inveja.
Na terceira estrofe, o eu lírico afirma que a inveja dos anjos foi a razão da sua amada ficar doente, a doença não é mencionada, mas ele diz que “Um vento saiu duma nuvem, gelando e matando”, por esta descrição podemos acreditar que a amada contraiu tuberculose que era uma doença fatal na época em que este poema foi escrito (meados do século XIX).Entra em questão um situação muito corriqueira naquele tempo: O casamento arranjado. Annabel tem um parente fidalgo e este, vem a buscar para si, a tirando dos braços do amado.O “sepulcro ao pé do mar” não deve ser considerado no sentido denotativo. É uma metáfora ao novo lar de Annabel e a sua condição de casada, que se torna um sepulcro quando não existe amor e é uma mera convenção social.É a vida sem amor que se transforma em morte.
Na quarta estrofe, temos um paradoxo: os anjos mandaram um vento adoecer Annabel por inveja do seu amor, mas se sentiam tristes, já que a morte dela não aumenta a capacidade deles de amar e não diminuía o amor do casal. Eles sentem tristeza, mas a inveja ainda é mais forte.
Na quinta estrofe, o amante afirma que o amor dele e de Annabel é mais forte do que a morte, é maior do que a vida, já que esta é passageira e o sentimento é para toda a eternidade, portanto, não respeita a separação carnal imposta pela morte.O amor era maior que qualquer amor já descrito na antiguidade e nem mesmo os anjos do céu mandando a morte, nem nada que exista abaixo do céu e acima do mar poderia separa duas almas que se amaram tanto.
Na última estrofe, temos o desfecho esperado, tudo leva o amante até sua amada, os luares tristes, as estrelas, e ele nem precisa de uma presença física para lembrar-se de Annabel, mas mesmo assim, vai todo dia até sua sepultura ao pé do mar. Ele a chama de anjo devido a sua pureza, é o amor que não se manifesta carnalmente, um amor espiritual no qual o amor vale por si mesmo e não pelo prazer que produz.Ele a chama de sonho, sonho não realizado, que a vida negou.Ele a chama de fado, que é uma tristeza que tem de se carregar na vida. O amor do casal foi cercado de tristezas, mas permaneceu firme e não enfraqueceu apesar de qualquer tipo de separação física.Fisicamente a ele, só resta ficar deitado toda a noite ao lado de Annabel no seu sepulcro ao pé do murmúrio do mar que foi testemunha de toda sua história.
Comparando histórias
A triste história de amor descrita no poema “Annabel Lee” não é a primeira com este tema e com certeza, não será a última. O amor proibido, a morte que não é o bastante para separar duas almas que se amam, a fidelidade além da vida, a eternidade do sentimento, são temas que sempre nutriram a literatura e por conseqüência, a cultura Pop. Filmes como “ Amor além da vida”, “Ghost – do outro lado da vida”, “Love Story”, são alguns exemplos de como o cinema já se valeu destes temas que geralmente geram lágrimas de comoção nos corações sensíveis. Romances também se valeram destas questões...como exemplo maior podemos citar “O Morro dos Ventos Uivantes”, uma bela obra contemporânea ao poema analisado, que conta a história de um amor fatalmente destinado ao fracasso já que contrariava as leis da sociedade. Um amor que só a morte conseguiu realizar já que em vida era impossível.Annabel Lee foi escrito por Edgar Allan Poe, um poeta norte-americano que bebia as fontes da literatura gótica inglesa do século XIX e que tinha na sua própria história muita inspiração para escrever textos sombrios e cercados de mistérios. Poe teve uma vida trágica e amou uma prima que morreu tuberculosa muito jovem. Sua morte até hoje provoca mistério. Ele foi encontrado morto num bar com apenas 40 anos de idade e deixou uma obra permeada de contos e poemas que mexem com o leitor e fazem pensar nas tragédias que acontecem todos os dias entre pessoas que se amam e que sofrem.Sendo assim, é de se esperar que poemas como “Annabel Lee” tragam histórias que ultrapassem as barreiras da Vida e morte, amores que tem a vida como uma prisão e a morte como uma liberdade...mas Poe vai além, ele deixa o narrador do poema vivo...maior tristeza para ele que não tem nem a morte como aproximação da amada. É paradoxal que a vida se torne indesejada, roubando esta característica da morte que sempre foi a “indesejada das gentes”.O poema é triste e tem um final infeliz não pelo fato de Annabel ter morrido, mas sim pelo fato de seu amado continuar vivo sofrendo uma separação física da sua amada. É a vida que torna este poema sombrio e não a morte.Poe também detém o título de ser o “pai da Literatura policial” através do detetive Dupin, criado por ele e presente em alguns contos como “Os crimes da Rua Morgue”. Muitos críticos afirmam que este personagem serviu de inspiração para Arthur Conan Doyle criar o famoso e popular “Sherloke Holmes”.
Poema musicado que serve para comparação
Eu não existo sem você
Tom Jobim
Eu sei e você sabe
Já que a vida quis assim
Que nada neste mundo Levará você de mim
Eu sei e você sabe Que a distância não existe
Que todo grande amor Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham para você.
Assim como o oceano só é belo com luar
Assim como a canção só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem só acontece se chover
Assim como o poeta só é grande se sofrer
Assim como viver sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você.
Este poema de Tom Jobim musicado por vários interpreteis mostra que os temas vistos em “Annabel Lee” ultrapassam as barreiras de tempo e espaço. Bem longe da Inglaterra e bem distante do século XIX, um escritor brasileiro escreve um poema que é um diálogo passível de várias interpretações, uma delas, é a do eu lírico conversando com seu amor antes da morte e deixando claro que não é preciso medo, pois a morte não separa corações que nasceram para viver juntos e que não existem separados. Portanto, é preciso ficar juntos de qualquer forma, mesmo que seja em pensamento. O poema é cercado por comparações...um não existe sem o outro, não tem razão para existir...assim como o oceano só é belo com o luar,assim como a canção só tem razão se se cantar,assim como uma nuvem só acontece se chover, assim como o poeta só é grande se sofrer, assim como viver sem ter amor não é viver...não existe um sem o outro.
Obrigado pela informação.
ResponderExcluirMuito interessante a análise dessa obra, visto que o autor Edgard Allan Poe Edgar Allan Poe era um jovem aventureiro, romântico, orgulhoso e idealista. Continuou seus estudos em Virgínia, mas também foi expulso por não se enquadrar nos padrões comportamentais daquela época. Na verdade, Allan Poe era um boêmio que vivia no luxo, se entregando à bebida, ao jogo e às mulheres. Mais tarde, foi para a Grécia e ingressou no exército lutando contra os turcos. Escrevia seus poemas normalmente retratando seus devaneios quando estava em estado de embriagues.
ResponderExcluirEdgar Põe vivendo no luxo? !? Viveu foi numa pitanga lascada! !!
ExcluirÉ nunca foi prá Grécia orra nenhuma. ... Que desserviço! !
É muito interessante a análise desse poema, podemos ver como era grandioso o amor dos jovens descritos na obra.
ResponderExcluirFiquei admirado, conheci esse poema ouvindo uma banda de post-hardcore chamada "Alesana" que escreveu um álbum chamado "The Emptiness" ou "O Vazio" essa banda tem letras inspiradas em Mitologia e Contos dos Irmãos Grimm, The Emptiness foi baseado nesse poema, as coisas realmente acontecem. vale a pena conferir. E ressaltando foi uma ótima analise sobre o poema.
ResponderExcluirgostaria de ter a referencia do escritor que elaborou esta analise para pode colocar na minha monografia, por favor alguem pode me ajudar.
ResponderExcluirEsse poema lembra muito a relação de Poe com sua prima Virgínia. Ela era muito jovem quando casaram-se (tinha apenas treze anos). E curiosamente, como no poema, morreu também ainda jovem, de tuberculose. Ao meu ver, apesar de Poe sair com muitas mulheres, Virgínia foi realmente o primeiro e grande amor de sua vida. Conta-se que depois de sua fatídica morte, Poe nunca mais foi o mesmo. Coincidentemente (ou não), esse poema é muito parecido com a história de amor dos dois...
ResponderExcluirÉ também meu poema preferido, o mais lindo e mais triste que já li...
É um poema certamente muito bonito. Assinado pelo meu escritor favorito, Poe. Carrega toda a identidade do autor: é lúgubre, melancólico, sombrio e romântico. Eu não consigo deixar de comparar Annabel Lee à Virgínia Clemm, a esposa de Edgar Allan Poe, e também sua prima, casada com ele às escondidas quando a jovem tinha apenas treze anos. Ela também faleceu em circunstâncias da tuberculose, e imagino que o poema "Annabel Lee" seja uma ode à Virgínia. Creio que Poe alude à ela em muitos de seus poemas, afinal. São interrogações sem resposta. Nunca saberemos o que se passava na mente do Mestre.
ResponderExcluirestou escrevendo uma releitura do poema (que, aliás, eu amo de paixão), e após ler essa análise, o poema me pareceu muito mais profundo.
ResponderExcluirFantástico.
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