segunda-feira, 8 de junho de 2009

Senhora - José de Alencar

O Romance “Senhora” de José de Alencar faz parte da tríade na qual o escritor procurou traçar os perfis de mulher. Juntam-se a este romance “Diva” e “Lucíola”. O enredo gira em torno de Aurélia Camargo, moça pobre e órfã de pai. Ela fica noiva de Fernando Seixas, rapaz de boa índole, mas desfibrado pelo desejo de carreira fácil e brilhante. Em parte pelo fato de ser pobre, em parte pela esperança de conseguir um bom partido, Fernando abandona a noiva, que se desilude dos homens. Inesperadamente, morre o avô de Aurélia, deixando-a milionária. Movida por vários impulsos e motivos, manda propor a Fernando que a desposa mediante dote de cem contos de réis, quantia avultadíssima na época. Envolvido em dificuldades financeiras, o rapaz aceita; mas na noite do casamento, Aurélia, manifestando desprezo profundo, comunica que deverão viver lado a lado, como estranhos, embora unidos ante a opinião pública. Fernando compreende o sentido da compra a que se sujeitara e toma consciência da sua leviandade. Numa espécie de duelo, marido e mulher se põem à prova, até que Fernando consegue a soma necessária para devolver o que recebera e propõe a separação. Mas, enquanto seu caráter se forjara, a dureza se abrandava em Aurélia. O desfecho é a reconciliação de ambos, cujo amor havia crescido com a experiência. Classificado como um romance romântico, “Senhora” é na verdade, um romance de transição, transição do romantismo sentimental cercado de mocinhas puras e sofredoras para um realismo povoado por mulheres fortes e que sabem o que querem. Aurélia, que no início é meiga e acredita nos sentimentos mais puros dos homens, tem sua personalidade transformada pelo desejo de vingança e “compra” o homem que ama para impor-lhe a humilhação que ela sofrera anteriormente com a dor e o abandono. O romance de Aurélia e Fernando Seixas não é delimitado por espaços ou tempo, já que o enredo apresenta uma situação que, salvo algumas características de época, poderia se passar no Brasil, na Europa ou em qualquer outro lugar no qual a sociedade se divida entre ricos e pobres. Também pode se passar nos dias atuais, já que o casamento por interesses é uma constante nos “novos folhetins” que hoje são as novelas de TV e filmes românticos. Então porque “Senhora” não está incluída entre os romances realistas? Porque José de Alencar conserva características basicamente românticas mescladas ao “realismo” do enredo. O final feliz é uma destas características que prova que a mulher é forte e quase nada consegue vencê-la, quase nada, somente o amor.

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