segunda-feira, 8 de junho de 2009

O ROMANCISTA LIMA BARRETO E O ESTUDO DA FALTA DE CONFLITO E O ISOLAMENTO NAS OBRAS

É possível estudarmos sua obra de ficção sem compreender as reflexões e memórias, que nos deixou sob a forma de crônicas e artigos de jornal, que abrigam flagrantes numerosos de mossa vida política e mundana no primeiro quartel do século do nosso movimento literário.
Mas, é no romance que revela esse espírito inquieto e curioso, pois em todos os seus livros, será o amor um tema secundário ou até desfigurado, a aventura terá um aspecto sombrio.
Recordações do Escrivão Isaías Caminha é seu único livro em que o narrador é a personagem principal. Isso sé seria retomado em O Cemitério dos Mortos Vivos, que iniciado durante seu último internamento no hospício, não chega a concluir.
Em Isaías Caminha as figuras aparecem e desaparecem, morre a mãe de Isaías, enlouquece lobo por causa da gramática, fatos políticos abalam a cidade, mas o narrador em nada interfere.
Lima Barreto inaugura a ficção brasileira, sem dar-se conta disso, surgindo como um anunciador do nosso tempo e das nossas criações.
“A violência com que Lima Barreto ataca a estrutura capitalista faz-nos perguntar se acaso não sentia, obscuramente, o que o autor ao lembrar que o principio da atividade, individualista, umas das características gerais da economia capitalista, contribuiu para cortar todos os vínculos existentes entre os indivíduos e deste modo separou e isolou cada homem de todos os demais.”(Fromm, Erich. The Fear of Freedom. P 49 e 133)
Logo temos Triste Fim de Policarpo Quaresma, no qual o Major Quaresma é a personagem principal. Podemos notar certas afinidades entre Policarpo e os personagens de Isaías Caminha, o amor a Língua Portuguesa que leva Lobo ao isolamento e a loucura, e que também isola o Major Quaresma. Policarpo e Isaías vivem imersos em um sonho, fechados em si. O isolamento comum em Quaresma, pois se fecha em seus livros, lendo os cronistas, os viajantes como John de Léry, dedica-se ao tupi-guarani e toma lições de violão.
Há também variações importantes de dois temas fundamentais nos livros: o do ilhamento (familiar) e o da inoperância dos atos de cada personagem sobre o próximo e o meio, todos em Isaías Caminha se cruzam e se vão, sem que o destino seja afetado e sem modificar ninguém. Em Policarpo Quaresma, os núcleos individuais e solitários, são substituídos por núcleos domésticos, exemplos: Policarpo e Adelaide, General Albernaz e família, e o único sem familiares é Ricardo Coração dos Outros, artista do violão. A união desses núcleos se dá através das visitas e Isaías caminha e em Policarpo, as visitas e as reuniões sociais não constituem o ponto de partida para qualquer evento.
Ao contrário dos outros romances Clara dos Anjos não é dominado pelo tema do insulamento. Nele, as personagens agem e fazem agir as demais e modificam-se entre si.
Os personagens ilhados característicos de Lima Barreto, exprimem o conflito de criador e o mundo solitário.
Em Isaías Caminha, Policarpo Quaresma e Gonzaga de Sá, há uma ausência de conflito dramático, e mesmo em Numa e Ninfa que é uma fábula mais de enredo, dificilmente falamos em conflito. Isaías Caminha e Policarpo Quaresma, romances sem conflitos no sentido tradicional, isto é, onde uma vontade não é contrariada por outra, onde um interesse não vai ameaçar um interesse oposto, configuram-se formações fraudadas de conflitos e crises, nada de semelhante encontraremos em Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá.
Em Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá, há uma página em que surge um personagem do isolamento, é quando Machado e Alcmena encontram-se conversando em um velório. Não existe na Literatura Brasileira cena como esta, delicada e tocante. Alcmena que vive no subúrbio e sonha com o estatus de burguês. As visões que o narrador opõe às da insatisfeita suburbana, assustam-na, a esperança de melhores dias alimenta sua vida vazia. Machado enquanto conversa olha seus cabelos castanhos, suas mãos bonitas, mas um pouco estragadas pelo trabalho domestico. A jovem faz reflexões ingênuas, e Machado só atento a figura da jovem. Mas a cena no romance não evolui, assim como nos outros do autor.
Não podemos afirmar que são pobres de conflitos os romances, mas sim, que manifestam o conflito pela escolha do tema, em sua produção jornalística, mostra uma incompatibilidade entre o autor e a estrutura social que o cerca, o assunto é sempre o meio – a política – as desigualdades sociais. Nas relações entre o personagem e o meio é que localizamos em Lima Barreto o tradicional conflito entre personagem e personagem.
Para descobrir em Policarpo Quaresma as maneiras do conflito de seu protagonista com o meio, temos que nos deter entre a imagem que o Brasil cultiva e a imagem do Brasil real, uma língua exclusivamente nossa, a atividade agrícola, a reflexão político-administrativa, sua maneira de falar claro e francamente, em nome da justiça o levam a prisão e depois a morte.


Um comentário:

  1. "Lima barreto inaugura a ficção brasileira".inaugura que tipo de ficção?não entendi.

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