domingo, 7 de junho de 2009

A tradição afortunada - Afrânio Coutinho

O grande crítico literário Afrânio Coutinho utiliza o texto intitulado “A tradição afortunada” para dissertar sobre a nacionalidade da Literatura Brasileira, ligada ao pensamento crítico.A idéia de nacionalidade na literatura brasileira constitui o núcleo dinamizador do pensamento crítico literário do século XIX.No trabalho de criação, consolidação e apuramento conceitual há uma identificação entre dois movimentos, primeiro o Romantismo e em seguida o Realismo.O pensamento crítico do século XIX em busca da nacionalidade forma o embasamento de teoria da moderna literatura brasileira. Graças a ele, a literatura brasileira adquiriu a sua fisionomia definitiva e no século XX, conseguiu sua completa maturidade.Segundo Afrânio Coutinho, não parece ter havido linhas paralelas de desenvolvimento nacionalizante, uma política e outra literária, mas sim, o desenvolvimento da consciência nacional em todo o povo, que se traduzia no plano político igualmente que no literário.Durante o desenvolvimento da identidade nacional, embora a literatura brasileira não “vivesse” como sistema coletivo, ela já “existia”. Esse sentimento exprimiu-se a princípio pelo nativismo e depois sob forma de nacionalismo. Portanto, não há dois períodos, e é fácil conceber a unidade literária, em sua evolução histórica.Estilos como o barroco, o arcadismo, o neoclassicismo, o romantismo e o realismo realizaram a integração progressiva da idéia nacional. Esses estilos não foram “importados”, já que houve uma adaptação e a influência européia não pode deter a onda genuína de nativismo dos artistas brasileiros.O instinto de nacionalidade procurou afirmar-se e tornar-se cada vez mais consciente por várias formas, algumas incorporadas às letras brasileiras. Afrânio Coutinho destaca o como exemplo, a visão da natureza exterior no Arcadismo e interior no Romantismo.O crítico também trabalho formas de nativismo, seja na sátira de Gregório de Matos, seja na imagem do índio, nosso herói nacional que não resistiu à morte do Romantismo. Mas a sua contribuição para a Literatura brasileira não morreu. Ícones da Literatura Brasileira, José de Alencar e Machado de Assis também contribuem de uma forma muito significativa para a definição do caráter nacional da Literatura Brasileira.José de Alencar em 1872 mostra como entendia o caráter brasileiro da Literatura. Para ele não bastava a reprodução de paisagens, tipos e linguagem locais, é preciso que se faça presente aquele “sentimento íntimo” que orienta características nos personagens, que não poderiam aparecer noutro tempo ou lugar.Machado de Assis no ensaio de 1873 “Instinto de Nacionalidade” formulava em termos críticos a mesma idéia. Para ele o “sentimento íntimo” torna o escritor um homem do seu tempo, do seu país, ainda que trate de assuntos remotos no tempo e espaço.Portanto, do nativismo ao nacionalismo, o espírito nacional cresceu ininterruptamente, até se firmar independente e fecundo. Afrânio Coutinho destaca que o pensamento crítico do século XIX ressalta a valorização da produção literária colonial, como expressão de nacionalidade. A obra de Anchieta, por exemplo, é para muitos críticos cheia de brasilidade. Tudo isso, leva a uma velha questão: o primeiro autor da Literatura Brasileira. Capistrano de Abreu fez iniciar a literatura no Brasil com os primeiros estrangeiros que descreveram a terra. Alguns defendem a posição para Botelho de Oliveira. Ainda outros apontam Anchieta como a primeira figura.Para Afrânio Coutinho é falsa a ligação que existe entre Romantismo e nacionalidade, da mesma forma que é falsa a ligação entre nacionalidade literária e nacionalidade política, pois a primeira independe da segunda. O processo de nacionalização que se consolidou no Romantismo era fruto de um processo que começou na época colonial.É destaque também, que uma literatura pode ser diferenciada e autônoma, sem ser esteticamente superior. Foi o caso da Brasileira nos dois primeiros séculos. Uma literatura surge desde o instante em que obras literárias aparecem e são usadas para divertir o público, por menor e mais rarefeito que seja.O crítico cita exemplos da Literatura Francesa e Inglesa para exemplificar a questões de autonomia. A formação da nossa Literatura foi um processo de desenvolvimento, desde a colônia até o século XX, onde se consolidou. Uma literatura é nacional, a partir do momento em que exprime traços do caráter e da civilização a que pertence, portanto não devemos considerar “brasileiro” apenas o que foi produzido depois da Independência em 1822. Os brasileiros de 1822 são os mesmos homens que habitaram o Brasil muito antes.A atitude dos nacionalistas foi trabalhar a emancipação mental em relação à Europa e trazer conteúdo e substância a civilização americana.A literatura no século XX é construída sobre um sentimento de nacionalidade, que lhe empresta o caráter, lhe exprime o elance.A evolução literária brasileira foi uma luta entre duas tradições, a luso-européia e a nativa em formação. Daí surge duas linhagens de escritores, os que concebem a literatura como um produto espontâneo e telúrico e os que a entendem como uma flor da cultura européia. Prevaleceu a tradição nativa, a nacionalidade.Afrânio Coutinho afirma que o movimento Modernista, iniciado em 1922, foi o corporificador dessa maturidade da consciência literária nacional e examinando-o dessa perspectiva, verificaremos as suas conquistas definitivas. Essa contribuição não se limita à esfera literária, mas envolve toda a cultura.Esses fatos não comprovam, todavia, que a Literatura Brasileira voltou as costas para qualquer tendência estrangeira. Mas o essencial da cultura brasileira contemporânea aplica-se, sobretudo às artes e à literatura. Afrânio Coutinho conclui o texto com a mesma idéia inicial: a continuidade do pensamento brasileiro acerca do problema, isto é, a do nascimento e evolução de uma tradição – a da consciência nacional da literatura. Ele utiliza a opinião de vários críticos e constrói um texto sólido, para ser analisado pelos que se interessam pela história e caracterização da Literatura Brasileira.

Um comentário:

  1. Gostei de seu texto, porém - mas aí é um interesse meu - pensei que fosse encontrar maior destaque para Gregório de Matos.

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